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LafargeHolcim admite ter negociado com grupos radicais na Síria

De acordo com o jornal francês Le Monde, que revelou o caso em junho, a política beneficiou o grupo extremista Estado Islâmico (EI)

LafargeHolcim: a empresa reconheceu que a filial local, que pertencia na época à francesa Lafarge, "repassou fundos a terceiros" (Arnd Wiegmann/Reuters)

LafargeHolcim: a empresa reconheceu que a filial local, que pertencia na época à francesa Lafarge, "repassou fundos a terceiros" (Arnd Wiegmann/Reuters)

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AFP

Publicado em 2 de março de 2017 às 10h28.

O gigante suíço dos materiais de construção LafargeHolcim admitiu nesta quinta-feira que recorreu a práticas "inaceitáveis" com grupos armados para manter as atividades de uma fábrica de cimento em 2013 e 2014 na Síria, país devastado pela guerra.

De acordo com o jornal francês Le Monde, que revelou o caso em junho, a política beneficiou o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

A empresa reconheceu que a filial local, que pertencia na época à francesa Lafarge, "repassou fundos a terceiros com o objetivo de alcançar acordos com um determinado número de grupos armados, incluindo alguns submetidos a sanções".

Com a guerra civil, "a deterioração da situação política na Síria apresentou desafios muito difíceis em termos de segurança, das atividades da fábrica e dos funcionários", afirmou a LafargeHolcim.

"Isto inclui ameaças para a segurança dos colaboradores, assim como distúrbios nos suprimentos necessários para o funcionamento da fábrica e distribuição dos produtos", completa o grupo.

Diante desta situação, a filial local da Lafarge tentou estabelecer uma relação com as "facções armadas" que controlavam ou tentavam controlar a área da fábrica.

"Uma investigação interna não conseguiu estabelecer com certeza quais eram os destinatários finais dos fundos", indicou a empresa.

O Le Monde informou que a Lafarge havia designado um intermediário para conseguir que o EI concedesse salvo-condutos a seus funcionários.

O jornal afirmou ainda que a direção da Lafarge em Paris estava a par da decisão.

A publicação citou em sua reportagem a existência de um salvo-conduto do EI para que os caminhões da Lafarge conseguissem transitar para abastecer a fábrica.

O Le Monde mencionou ainda a intervenção de intermediários e negociantes para vender a Lafarge petróleo refinado pelo Estado Islâmico.

O grupo extremista terminou por assumir o controle da fábrica, que fica em Jalabiya, a 150 km de Aleppo.

A unidade foi adquirida em 2007 pela francesa Lafarge e entrou em funcionamento em 2010.

A fábrica passou em seguida ao controle da empresa que nasceu da fusão da Lafarge com a suíça Holcim.

O local representou um dos maiores investimentos estrangeiros na Síria fora do setor de petróleo.

No total, a Lafarge investiu 680 milhões de dólares.

Durante o período, as atividades da Lafarge na Síria representavam menos de 1% do faturamento.

Na França, o grupo é objeto de uma investigação preliminar iniciada em outubro, após várias ações apresentadas por ONGs e pelo ministério da Economia, que acusam a LafargeHolcim de financiar o terrorismo de violação das sanções impostas pela União Europeia ao regime de Bashar al-Assad.

A ONG Sherpa apresentou uma ação contra a Lafarge por financiamento de terrorismo e cumplicidade em crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

"De forma retrospectiva, as medidas adotadas para continuar com as atividades da fábrica eram inaceitáveis", admitiu.

"Os diretores das operações na Síria parecem ter atuado da forma que acreditavam que era a melhor para os interesses da empresa e de seus funcionários".

"No entanto, a investigação revela erros de critério significativos que são contrários ao código de conduta então em vigor", concluiu a LafargeHolcim.

A empresa decidiu criar um comitê de ética, integridade e riscos, além de adotar uma série de medidas para avaliar com mais rigor os sócios.

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