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Kodak agora faz insumos para a hidroxicloroquina – e ação triplica em 24h

Companhia centenária é primeira a receber empréstimo do governo americano para cortar dependência de importações da China em meio à pandemia do coronavírus

Kodak: empresa viu suas ações dispararem após a notícia que está fornecendo insumos para a hidroxicloroquina (Scott Olson/Getty Images)

Kodak: empresa viu suas ações dispararem após a notícia que está fornecendo insumos para a hidroxicloroquina (Scott Olson/Getty Images)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 28 de julho de 2020 às 10h34.

Última atualização em 28 de julho de 2020 às 10h35.

A tragédia da Kodak, gigante americana que por décadas liderou o mercado de máquinas fotográficas, é um dos cases mais estudados em escolas de negócio mundo afora. A companhia se manteve imbatível num mercado que ficou pelo caminho, o de câmeras e filmes fotográficos, enquanto a indústria analógica se digitalizou no início do século. Pois agora a Kodak está voltando -- para lá de repaginada.

Reportagem do jornal The Wall Street Journal mostra que a companhia conseguiu um empréstimo governamental de 765 milhões de dólares num novo programa de defesa da produção local, uma das bandeiras de Donald Trump. O objetivo é ajudar a expandir a fabricação em solo americano de drogas que ajudem os Estados Unidos a cortar a dependência de fontes internacionais, sobretudo de fabricantes chinesas.

As ações da Kodak estavam em alta de 250% até as 10h30 desta terça-feira com a notícia do empréstimo.

A pandemia do coronavírus revelou como a maior economia do mundo é extremamente dependente dos chineses até no fornecimento de itens simples, como máscaras e luvas, além de respiradores e ventiladores pulmonares. Em 2017, último dado disponível, os Estados Unidos importaram 3,9 bilhões de dólares em insumos farmacêuticos da China -- e o volume só cresceu desde então.

Agora, a Kodak vai passar a fabricar até insumos usados na hidroxicloroquina, remédio usado contra malária e que virou xodó de Trump e do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Jim Continenza, presidente da Kodak, informou que o empréstimo precisa ser pago em 25 anos. Disse ainda que o objetivo da companhia é produzir ingredientes farmacêuticos ativos usados para a produção de variados tipos de medicamentes. "Nós temos uma longa, longa história em química e em materiais avançados, que remonta a mais de 100 anos", disse ao Journal. Ainda segundo ele, a estrutura permite à companhia se mexer rapidamente. O objetivo é que até 40% da receita venha dessas novas linhas de negócios.

Até a virada do século, a Kodak era uma das empresas mais inovadoras e lucrativas do planeta, com 90% do mercado americano de fotografia nos anos 70. Chegou a ter 145.000 funcionários em sua sede de Rochester. A empresa chegou a inventar a máquina fotográfica digital, em 1975, mas não investiu o suficiente para fazer de sua inovação um novo normal no mercado, com receio de abrir mão da receita com os equipamentos analógicos. Também inventou outras tecnologias que ajudaram a mudar a indústria, como a tela de OLED, tecnologia vendida em 2009 para a coreana LG. Mais uma vez, o medo de perder foi maior que a vontade de ganhar.

Acabou pedindo recuperação judicial em 2012 e, nos últimos anos, com pouco mais de 5.000 funcionários, buscou novas frentes de negócio. Em 2018, anunciou a criação de uma moeda digital. O objetivo era “empoderar fotógrafos e agências a ter maior controle no gerenciamento de direitos de imagem.” Também investia em aplicativos e outras novidades ligadas à fotografia. Agora, com os insumos para medicamentos, dá a maior guinada em sua história iniciada em 1889.

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