Carlos Ghosn e Carole Ghosn: segunda mulher de Ghosn liderou a campanha para que seu marido fosse solto, defendendo sua inocênci (Misha Friedman/Bloomberg)
Agência O Globo
Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 09h58.
Última atualização em 7 de janeiro de 2020 às 10h00.
Tóquio — A Justiça japonesa emitiu um mandado de prisão contra Carole Ghosn, suspeita de "falso testemunho" na investigação em curso contra seu marido, Carlos Ghosn. O anúncio deste mandado de prisão coincide com outro emitido contra o ex-titã da indústria automobilística emitido no início de janeiro, pela Interpol, dias depois de sua fuga para o Líbano.
Segundo um comunicado da Procuradoria de Tóquio, Carole Ghosn teria dado declarações falsas à Justiça japonesa em abril de 2019, ao ser questionada sobre suas reuniões com uma pessoa, cujo nome não foi revelado. A ação significa que Carole, que se encontra agora no Líbano com Ghosn, pode ser presa se retornar ao Japão.
Em abril de 2019, o ex-CEO da Renault e da Nissan havia sido solto sob fiança no Japão, à espera do julgamento por suspeita de malversação financeira. Estava proibido de deixar o Japão até ser julgado.
A segunda mulher de Ghosn liderou a campanha para que seu marido fosse solto, defendendo sua inocência. Criticou os procuradores japoneses e enviou pedidos de ajuda para sua liberdade ao presidente francês e à Casa Branca.
Ghosn foi impedido de manter contato com Carole enquanto estava cumprindo prisão domiciliar no Japão, porque as autoridades acreditavam que ela o estava ajudando a encobrir seus crimes.
O ex-executivo brasileiro, que também tem nacionalidades francesa e libanesa, disse que sua mulher e outros membros da família não desempenharam nenhum papel em sua fuga para o Líbano, depois surgiram hipóteses de que ajudaram Ghosn a planejar sua fuga. Se for verdade, estariam expostos a acusações criminais no Japão e em outros países. No dia 2 deste mês, através de um comunicado, Ghosn disse que planejou sozinho sua saída do país asiático e que sua família ''não teve nenhum papel'' nos planos.
A fabricante de automóveis japonesa Nissan qualificou nesta terça-feira como "extremamente lamentável" o gesto de Ghosn, ex-presidente do grupo, de fugir do Japão após ser libertado sob fiança.
Em seu comunicado, a Nissan destaca que a fuga de Ghosn "violando suas condições de liberdade sob fiança é um ato que desafia o sistema judicial do Japão". A Nissan considera a fuga "extremamente lamentável".
O grupo acrescentou que sua investigação interna foi "sólida e exaustiva", e apresentou "evidência inquestionável sobre vários atos de malversação" por parte de Ghosn".
"O grupo continuará adotando as ações legais apropriadas para responsabilizar Ghosn por seu dano à Nissan", destaca a nota.
Ghosn, que era acusado no Japão de malversação e sonegação, fugiu do país no dia 29 de dezembro rumo ao Líbano, em uma ação aparentemente bem planejada.
A fuga provocou indignação entre funcionários japoneses, mas o empresário afirma que não teria um julgamento justo no Japão.
Ghosn afirma que é vítima de um "golpe" dentro da Nissan por parte de executivos descontentes e funcionários japoneses contrários ao seu plano de maior integração com a montadora francesa Renault.