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Joesley justifica corrupção pela "vontade de empreender"

"Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso", escreveu o dono da JBS

JBS: Joesley pede desculpas (Ueslei Marcelino/Reuters)

JBS: Joesley pede desculpas (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 18 de maio de 2017 às 20h56.

Última atualização em 18 de maio de 2017 às 21h46.

São Paulo — A JBS divulgou um pedido de desculpas na noite desta quinta-feira, 18, em carta assinada por Joesley Batista, dono do grupo e um dos controladores da J&F. "Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso", escreveu.

Na nota, Joesley diz ainda que a JBS foi levada a "optar por pagamentos indevidos a agentes públicos", devido o espírito da empresa de empreender e a "imensa vontade de realizar". E completa: "ainda que nós possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas".

Joesley pontua ainda que o grupo assumiu um compromisso público de "ser intolerante e intransigente com a corrupção".

A divulgação da carta foi feita no fim de um dia conturbado para o Brasil. Ontem, o jornal O Globo divulgou uma matéria em que falava de um áudio, gravado em março por Joesley, contendo informações comprometedoras para o presidente Michel Temer (PMDB).

A conversa entre o empresário e o presidente dura cerca de 30 minutos e, segundo versão do jornal, no áudio, Temer aparece dando aval para o pagamento de uma mesada ao ex-deputado federal Eduardo Cunha, na prisão desde o ano passado, e ao operador Lúcio Funaro, para que eles ficassem em silêncio. “Tem que manter isso, viu?”, teria respondido Temer.

Leia carta na íntegra:

"Erramos e pedimos desculpas. Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso.

Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes públicos. Ainda que nós possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas.

Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos. Assim construímos um grupo empresarial gerador de mais de 270 mil empregos diretos, com times extraordinários e competentes, que operam 300 fábricas em cinco continentes e oferecem mundialmente produtos de qualidade.

O Brasil mudou, e nós mudamos com ele. Por isso estamos indo além do pedido de desculpas. Assumimos aqui um Compromisso Público de sermos intolerantes e intransigentes com a corrupção.
Assinamos acordos com o Ministério Público. Concordamos em participar de alguns dos mais incisivos mecanismos de investigação existentes e nos colocamos à disposição da Justiça para expor, com clareza, a corrupção das estruturas do Estado brasileiro.Pedimos desculpas a todos os brasileiros e a todos que decepcionamos, que acreditam e torcem por nós.

Enfrentaremos esse difícil momento com humildade e o superaremos acordando cedo e trabalhando muito.

Joesley Batista
J&F Investimentos"

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