Eldorado: segundo a delação, o empréstimo foi facilitado com a ajuda do doleiro Lúcio Funaro (Dado Galdieri/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 19 de maio de 2017 às 19h09.
São Paulo - O projeto de construção de uma das maiores produtoras de celulose do país, a Eldorado Brasil, foi possibilitado pelo relacionamento de Joesley Batista com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, afirmou o empresário em delação a procuradores federais.
Segundo declarações de Batista, um dos controladores da holding J&F Investimentos, não fosse pela interferência do ex-ministro junto a Luciano Coutinho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o empréstimo do banco de fomento ao grupo "não sairia de jeito nenhum".
A Eldorado Brasil foi um dos alvos da Polícia Federal na operação Greenfield que apura suspeitas de irregularidades em fundos de pensão de estatais envolvendo a holding J&F.
"O BNDES financiou 2 bilhões de reais (...) Se dependesse só do Luciano (Coutinho) não teria saída (...) Só por conta dele (Guido Mantega) que saiu", disse Joesley Batista aos procuradores federais em depoimento no âmbito de seu acordo de delação premiada.
"Sempre considerei que a minha vida no BNDES era muito dura. O empréstimo de 2 bilhões se você olhar as condições para sair era uma loucura", acrescentou.
Na delação, Batista também afirmou que a Eldorado conseguiu empréstimo de 940 milhões de reais junto ao fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS) para aplicação em projetos que incluíam hidrovia para escoamento da produção da fábrica.
Segundo a delação do empresário, o empréstimo foi facilitado com a ajuda do doleiro Lúcio Funaro, ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha e um dos operadores presos na operação Lava Jato.
Procurada, a Eldorado Brasil, que tenta fechar pacote de financiamento para a construção de nova linha de produção de celulose, não se manifestou sobre o assunto.
Representantes de Guido Mantega não comentaram imediatamente as declarações do delator.
Nesta sexta-feira, o Ministério Público Federal afirmou que vence o prazo para que a J&F aceite pagamento de multa de 11 bilhões de reais em dez anos para fechar acordo de leniência. A holding não comentou o assunto.