Negócios

Itaúsa está em busca de novos negócios

Alfredo Setubal diz que a companhia tem cerca de R$ 3 bilhões para investir, mas não quer entrar em setores regulados pelo governo

Setubal: "A eleição de 2018 é crucial para definir a rota do País.", afirmou o presidente do Itaúsa (Divulgação/Itaú Unibanco/Divulgação)

Setubal: "A eleição de 2018 é crucial para definir a rota do País.", afirmou o presidente do Itaúsa (Divulgação/Itaú Unibanco/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de julho de 2017 às 14h21.

São Paulo - Um dos maiores conglomerados do País, a Itaúsa, holding de investimentos do Itaú Unibanco, está em busca de novos negócios. Depois de adquirir uma participação minoritária no gasoduto NTS, que pertencia à Petrobras, em parceria com a gestora canadense Brookfield, a Itaúsa anunciou, no último dia 12, a compra da Alpargatas em sociedade com o Cambuhy, braço de investimentos da família Moreira Salles, também sócia do banco.

Alfredo Setubal, presidente da holding, diz que a companhia tem cerca de R$ 3 bilhões para investir, mas não quer entrar em setores regulados pelo governo. Setubal reconhece que o momento atual é de cautela e vê uma lenta recuperação da economia. "A eleição de 2018 é crucial para definir a rota do País." A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.

A aquisição da Alpargatas sinaliza uma mudança nos investimentos da Itaúsa?

Há algum tempo estávamos pensando em como diminuir a dependência do banco da receita total da Itaúsa e revendo o nosso portfólio de investimento. O banco representa hoje cerca de 94% do total (antes era 97,7%). A ideia é reduzir a 90%. Vamos zerar nossa participação na Itautec (de tecnologia) entre o fim de 2018 e início de 2019. Chegamos a ter 30% da companhia e hoje temos 11%. Essa fatia vai ser vendida à Oki Brasil (controlador) e vamos olhar outros ativos.

Quais negócios que a Itaúsa está procurando?

Contratamos a McKinsey no ano passado, que começou a olhar setores da economia em que poderíamos fazer investimento. Já fizemos dois importantes movimentos. Um na NTS, gasoduto da Petrobras, em consórcio com a Brookfield, e agora com a Alpargatas, em parceria com o Cambuhy, que já tinha analisado esse ativo antes de a Camargo Corrêa vendê-lo à J&F, da família Batista.

E essas negociações foram feitas com os irmãos Batista?

Foi com o Wesley. Foi um processo rápido e fomos bem assessorados. Fizemos um contrato que nos protege bastante em função da leniência.

Quanto a Itaúsa está disposta a investir?

Para o banco representar 90% do total dos nossos investimentos, teríamos entre R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões para investir em outros negócios. Já fizemos a aquisição da NTS e da Alpargatas, que somam cerca de R$ 3,5 bilhões. Sobraram entre R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões para novas oportunidades. Estávamos avaliando a BR Distribuidora, da Petrobras, mas desistimos após a companhia optar pela abertura de capital. Queremos negócios que tenham fluxo de caixa, liderança e uma marca forte, como é o caso das Havaianas. Buscamos empresas que possam ter melhoria operacional, de gestão e retorno. A conjunção disso tudo não são muitas alternativas.

Algum setor específico?

Não queremos setor regulado, como concessões e energia, com o governo interferindo em preço. A gente não quer controlar nada diretamente. Preferimos ter parceiros que possam também participar da gestão. Queremos estar no grupo de controle, com acordo de acionistas. O setor de serviços e consumo pode ser interessante.

Já estão olhando outras empresas para investir?

Desde o ano passado, bancos de investimento e fundos de private equity começaram a bater na nossa porta. Nem tudo casa com o que a gente quer, com a rentabilidade que a gente espera. O custo de capital no Brasil é muito alto. A Itaúsa está muito concentrada no banco, que tem rentabilidade de 20% a 23% ao ano. No setor industrial, esses retornos são mais difíceis de serem alcançados. Mas, com esses dois investimentos, a gente tem retorno bem próximo ao do banco.

Procuram negócios com esse perfil de rentabilidade?

Não faz sentido procurar negócio que dilua essa rentabilidade da Itaúsa. Somos uma companhia aberta. Procuramos negócios que gerem certa diversificação, mas que não prejudiquem resultados.

Pretendem continuar investidos na Duratex e Elekeiroz?

Sim. A Duratex é uma empresa muito tradicional, mas passa por dificuldades de resultado, uma vez que o setor de construção não está bem. Não pensamos em nenhum desinvestimentos. Na Elekeiroz (química), a mesma coisa. A gente tem feito uma agenda interna muito intensa para melhorar a parte operacional das companhias nos próximos semestres.

Há planos de investimentos fora do País?

No caso da Itaúsa, não. Serão investimentos apenas no Brasil. No caso do banco, por questões regulatórias, é impossível fazer investimentos aqui. Já compramos o Citi e uma participação na XP Investimentos. O banco tem crescido no exterior. Foi o caso do Corpbanca, no Chile. Dependendo da oportunidade, há possibilidade de crescer na América Latina. Mas não estamos procurando nada neste momento.

Como o sr. vê os impactos da atual turbulência política na economia?

As vendas vinham se recuperando ao longo dos últimos meses, mas depois da delação (dos irmãos Batista em maio), deu uma parada em junho. Em julho, vejo a demanda retomando um pouco na Duratex, que é o nosso termômetro industrial. Os setores mais afetados com queda de juros podem ter uma melhoria.

O sr. trabalha com um cenário de recuperação lenta?

Sim. Mas, com tantas delações, fica difícil julgar o que pode acontecer ou não. De qualquer foram, gerou insegurança. Teremos as eleições no ano que vem, mas ainda não temos candidatos. Há algumas indicações, como o Lula, mais à esquerda; e Jair Bolsonaro, mais à direita. Então, esperamos um candidato no centro. Mas não sabemos quem. Ninguém ainda se posicionou, com capacidade de aglutinar.

Qual sua expectativa de crescimento do PIB?

O banco trabalha com 2,7% para o ano que vem. Eu pessoalmente acho que vai ser menos do que isso. O nosso trabalho na área industrial aqui é continuar fazendo a lição de casa. É um cenário ruim. Se analisarmos o Brasil desde 2014, o PIB caiu quase 10%. Não adianta os políticos quererem culpar a crise internacional para justificar a nossa recessão. Não tem influência externa nesta crise. Temos sido muitos cautelosos nos investimentos, tanto industrial quanto no banco.

Em sua avaliação, Michel Temer chega ao fim do mandato?

Chega, mas é difícil saber. Cada dia tem uma novidade. Acho que o Temer tem um governo de propostas. Uma parte das reformas ele já fez. Se a gente olhar o que ele fez em um ano em termos de reforma, modernização, não foi pouca coisa. É claro que ele ficou mais enfraquecido depois das delações, mas até hoje não se cristalizou uma pessoa que possa substituí-lo.

O Rodrigo Maia tem sido apontado como possível sucessor.

Rodrigo Maia tem sido o nome que caminha para ser um consenso. Mas precisaria ter um problema ainda maior para o governo Temer cair. O cenário ideal seria de continuidade para evitar uma nova crise. É preciso dar continuidade às reformas, como a da Previdência.

O governo anunciou aumento de imposto. Havia muita resistência dos empresários em relação a isso. O pato voltou para a rua...

À medida em que a economia não reagiu da maneira que se esperava, mesmo com a queda de juros, ficou inevitável o aumento de imposto. A receita do governo não cresce. Não é o melhor caminho, mas me parece que não tem o que fazer. A eleição de 2018 é crucial.

Quem o sr. vê como liderança?

Tem o João Doria, o Geraldo Alckmin. Antonio Carlos Magalhães Neto pode ser um bom nome para uma composição de chapa, com perfil mais liberal, de centro. Álvaro Dias é um nome de centro-esquerda. Tem nomes possíveis. Se vão emplacar eleitoralmente, é outra questão. A eleição de 2018 é uma oportunidade grande de corrigir essa rota. Se o Brasil quiser estar entre os países desenvolvidos, precisará de uma geração de novos governantes.

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