O maior banco privado do país - que tem mais de 209.000 investidores pessoas físicas e outros 12.000 de pessoas jurídicas - tem o poder de orientar e mudar a rota do mercado financeiro (Sergio Moraes/Reuters)
Natália Flach
Publicado em 3 de setembro de 2019 às 15h54.
Última atualização em 5 de setembro de 2019 às 08h09.
São Paulo - O Itaú Unibanco está atento às transformações em curso no sistema financeiro, mas não vai se tornar um conglomerado de fintechs. “Pode haver mudança nos produtos e no modelo baseado em agências físicas, mas a nossa preocupação de fazer o melhor para o cliente não vai mudar”, afirma Roberto Setubal, copresidente do conselho do banco. “Não somos startup nem vamos ser um grupo de startups. Não sei o que será instituição financeira daqui a dez anos. Acho que vai continuar sendo em boa parte igual a hoje, com uma nova maneira de atender clientes e de distribuir produtos.”
A fala de Setubal foi direcionada a uma plateia repleta de acionistas, analistas e diretores do banco. Era tanta gente que o maior salão do hotel Unique, em São Paulo, não foi suficiente para abrigar todos os participantes da reunião Apimec. Foi necessário abrir uma sala ao lado para acomodar aqueles que ficaram de fora.
O interesse no futuro do Itaú Unibanco não é à toa. O maior banco privado do país - que tem mais de 209.000 investidores pessoas físicas e outros 12.000 de pessoas jurídicas - tem o poder de orientar e mudar a rota do mercado financeiro.
Ao menos, tem sido assim nos últimos anos, quando o banco adquiriu participação minoritária na seguradora Porto Seguro e na corretora XP Investimentos, mostrando apetite de risco por esses segmentos. “O banco está sempre preparado e disposto a entrar em negociação. A questão é saber quais oportunidades devemos perseguir e quais devemos passar”, afirma Pedro Moreira Salles, copresidente do conselho.
Mais recentemente, as principais mudanças foram realizadas dentro de casa com a nova política de tarifas da credenciadora Rede, que zerou a taxa de antecipação para lojistas e reduziu o valor do MDR. Outro movimento foi a criação da plataforma iti, que entrará em pleno funcionamento no fim de setembro com solução de pagamento. Depois incluirá oferta de empréstimo e de cartões de crédito. A ideia do Itaú é competir de igual para igual (mesmo sendo uma gigante) com as fintechs que estão transformando o mercado.
“Para sermos uma empresa sustentável, temos de estar abertos para o mundo e entender nossos valores. Não temos todas as respostas, e isso me angustia todas as noites”, diz Setubal. Mas o perigo, segundo Moreira Salles, é a inércia. “Maior risco é a complacência, algo como nada nos afeta. Isso reduziria a nossa capacidade de reagir”, diz Moreira Salles.
Retorno aos acionistas
O custo de capital do Itaú vem caindo nos últimos dois anos, passando de 16% para 12,5%. Isso associado a um retorno sobre capital (ROE, na sigla em inglês) estável em 23% houve ganho para investidor. “No entanto, com aumento da competição e o desejo de atender melhor os clientes, essa diferença pode diminuir no futuro”, afirma Candido Bracher, presidente do banco. “Foi o que aconteceu na adquirência, quando o banco abriu mão de parte da receita”, completa.
Para Bracher, existem elementos para o Brasil crescer. “Infelizmente, o mundo vai na direção contrária do país que está numa posição melhor pelo alinhamento de variáveis macroeconômicas.”