Alunos na sala de aula: demanda por cursos aumentou com uma nova classe média e empréstimos federais (Andre Vieira/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2014 às 16h37.
São Paulo - A Ser Educacional e a GAEC Anima Educação, as mais novas empresas de educação de capital aberto no Brasil, estão preparadas para fazer aquisições porque uma classe média crescente e empréstimos federais estimulam a demanda por cursos.
Depois de arrecadar coletivamente cerca de R$ 1,01 bilhão (US$ 430 milhões) em IPOs, as empresas dizem que elas estão indo fazer compras e vão usar parte desse dinheiro ou todo ele. Ainda há oportunidades para aproveitar mesmo depois do recorde de US$ 4,51 bilhões em acordos do setor de educação no país em 2013.
“Pretendemos usar tudo o que foi levantado nas IPOs em aquisições”, disse o presidente da Ser, Janyo Diniz, em entrevista por telefone em 6 de janeiro. “Temos uma carteira de aquisições em andamento há um tempo. Tivemos muitas conversas”. Ele não especificou em que empresas ele está interessado.
A Ser e a Anima estão se beneficiando da convergência entre política federal e um mercado de educação maduro para a consolidação, com cerca de 2.000 empresas do ramo no Brasil. A presidente Dilma Rousseff facilitou as condições de reembolso dos empréstimos estudantis, com uma redução de taxas do pico de 9 por cento para 3,4 por cento, no intuito de aumentar o número de médicos, advogados e engenheiros.
Liderança da Kroton
A principal transação foi o acordo da Kroton Educacional SA para adquirir a Anhanguera Educacional Participações SA por R$ 5 bilhões, criando a maior empresa de educação com fins de lucro do mundo. A Kroton também liderou os ganhos do mercado acionário no índice Ibovespa nos últimos doze meses, com um retorno de 82 por cento. As ações da Ser aumentaram 27 por cento e as da Anima aumentaram 5 por cento desde suas aberturas.
“A fusão entre a Kroton e a Anhanguera é um sinal de que outros grupos grandes avaliarão fusões”, disse Ryon Braga, diretor da Anima, em entrevista por telefone. “Esperamos realizar algumas aquisições relevantes no primeiro semestre de 2014”.
O apoio de Dilma às universidades com fins de lucro se dá porque a classe média do Brasil cresceu de cerca de 36 milhões de pessoas para 100 milhões desde 2002, provocando um aumento na demanda de ensino superior que estava reprimida, disse Mário Bernardes Júnior, analista do Banco do Brasil SA.
Os empréstimos estudantis dispostos pelo governo cresceram 47 por cento para 556.500 no ano passado. Essa alta levou o total de empréstimos concedidos para 1,16 milhão desde 2010, quando o governo triplicou para 18 meses o período de carência para o reembolso depois da formatura.
Mercado enorme
A Estácio Participações SA, com sede no Rio de Janeiro, adquiriu três universidades no ano passado por cerca de R$ 650 milhões e pretende continuar se expandindo com mais locais e aquisições pequenas e médias, disse o CEO Rogério Melzi por e-mail.
O mercado de educação com fins de lucro do Brasil poderia evitar alguns dos escândalos em que seus colegas americanos se enredaram. Nos EUA, a Secretaria de Responsabilidade Governamental descobriu em 2010 que universidades com fins de lucro encorajavam a fraude e se envolviam em práticas de marketing enganosas e questionáveis. Enquanto as escolas americanas oferecem diplomas a pessoas que dificilmente experimentarão grandes mudanças no salário, a demanda por funcionários formados no Brasil é tão alta que o salário pode triplicar facilmente, disse Roberto Valério, CEO da Anhanguera.
A Laureate Education Inc. pagou R$ 1 bilhão por uma universidade no ano passado, e a Pearson Plc, com sede em Londres, pagou US$ 721 milhões pelo Grupo Multi, que oferece cursos de inglês.
A Laureate, cujos 800.000 estudantes a convertem na maior empresa de educação do mundo de acordo com esse parâmetro, ainda poderia atrair pretendentes brasileiros, disse Paulo Guedes, estrategista-chefe e presidente do conselho da Bozano Investimentos, que fundou uma escola de administração, a Ibmec, e investe na Anima, entre outras empresas de educação.
Em entrevista no Rio de Janeiro no dia 13 de janeiro, Guedes disse que a Laureate, com sede em Baltimore, poderia ser um alvo atrativo. “A Laureate tem que ter cuidado porque nós poderíamos atuar derepente”, disse Guedes. “Acredito que eles vão vender. Ou pelo menos irão fazer uma fusão”.