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“Investimentos dependem de vitória de Bolsonaro”, diz dono de supermercado

Pedro Joanir Zonta, da rede de supermercados Condor, foi acionado pelo Ministério Público Federal após divulgar carta a funcionários em apoio ao candidato.

PEDRO JOANIR ZONTA: entre os motivos apontados para não votar na esquerda estão “fim da família” e “destruição das empresas brasileiras” / Apras/ Reprodução (Apras/Divulgação)

PEDRO JOANIR ZONTA: entre os motivos apontados para não votar na esquerda estão “fim da família” e “destruição das empresas brasileiras” / Apras/ Reprodução (Apras/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 3 de outubro de 2018 às 13h13.

São Paulo – O dono da rede de supermercados Condor, Pedro Joanir Zonta, que divulgou carta a seus funcionários apoiando a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência da República, diz que sua intenção não foi coagir seus colaboradores. Ele foi acionado pelo Ministério Público Federal, que determinou a divulgação de um novo comunicado, em defesa do voto livre.

Em entrevista a EXAME, Zonta disse que a primeira carta tinha a intenção de passar sua posição aos seus funcionários. “Não foi querendo pedir que eles votem no meu candidato”, afirmou. No entanto, o empresário diz também que a empresa “depende da vitória de Bolsonaro para continuar investindo”.

Para Zonta, a eleição de Bolsonaro trará mais credibilidade para o Brasil.  “Não é retaliação. As empresas privadas se ajustam à economia. Se eu falar a verdade, isso é coação?”, afirmou a EXAME.

Zonta se reuniu ontem com o Ministério Público Federal do Paraná para falar sobre a carta enviada aos 12 mil funcionários da rede. Ficou acordado que ele divulgaria um novo comunicado.

A segunda carta afirma: “Enquanto dirigente do grupo Condor, entendo que a liberdade de consciência, convicção política ou filosófica, a intimidade e a vida privada são direitos fundamentais (...)”.  E continua: “Compreendo que está vedado ao empregador a prática de qualquer ato que venha a induzir qualquer empregado a seguir determinada crença ou convicção política, filosófica ou ideológica”.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista do empresário:

EXAME - O que motivou a publicação da carta?

Pedro Joanir Zonta - Eu quis passar para os colaboradores a minha posição, deixar claro quem é meu candidato, dentro da análise que fiz sobre o que é melhor para o país neste momento. Inclusive passei os pontos que ele defende e que são muito importantes para mim, que levo na minha vida. Não foi querendo pedir que eles votem no meu candidato.

Tive uma reunião ontem no Ministério Público e esclarecemos tudo. Foi definido que não vou pedir votos para os meus colaboradores e assinei um compromisso. É a regra, a gente não pode interferir na livre escolha política. Só expressei minha opinião. Fiz uma nova carta esclarecendo esse ponto e já mandei aos colaboradores.

O senhor acredita que seu posicionamento pode constranger funcionários que não votem em Bolsonaro?

Eu não entendi assim, mas o Ministério Público entendeu. Tenho a consciência tranquila de que vou contribuir para o bem do país. Bolsonaro é o melhor para aumentar o emprego. Isso tem que ser feito com um trabalho sério, não é continuando o que está aí que vai melhorar. Se continuar nesse ritmo que estamos nos últimos 12 anos, a tendência é aumentar o desemprego. Com a vitória do Bolsonaro o Brasil vai passar a ter credibilidade no mercado externo. Ele já apresentou quem é o ministro da Fazenda, que é o Paulo Guedes, uma pessoa respeitada.

O senhor diz que Bolsonaro vai melhorar a credibilidade do Brasil lá fora. Recentemente, a revista britânica The Economist publicou uma reportagem de capa dizendo que Bolsonaro é uma ameaça à democracia. Ontem a agência de classificação risco S&P divulgou avaliação de que o candidato representa maior risco do que o petista Fernando Haddad. Como vê essas críticas?  

Eu vejo que na prática é bem diferente do que essas revistas publicam. Ontem foi divulgada uma pesquisa em que a intenção de votos no Bolsonaro subiu. E com isso o dólar baixou, as bolsas subiram. Para mim esses números são mais importantes do que a opinião de uma revista.

Na carta que o senhor enviou aos funcionários, há um trecho em destaque que diz: “Nesta carta, fica o meu compromisso com você meu colaborador hoje, de que não haverá de forma alguma, corte no 13º e nas férias dos colaboradores do grupo Condor”. Qual a sua posição sobre as críticas ao 13º salário feitas pelo candidato a vice-presidente de Bolsonaro, general Hamilton Mourão?

(A assessora de imprensa de Zonta responde que o Ministério Público pediu para ele não tocar nesse assunto, e que portanto não pode responder)

A carta diz ainda que um dos motivos para não apoiar a esquerda é o “fim da família”. O que quer dizer com isso?

Eu acredito na família. É a forma como fui criado, vejo que o alicerce do país é família e a crença. São fatores fundamentais. Isso o Bolsonaro afirma que vai manter. Vejo o que temos hoje e o que vai mudar com o Bolsonaro. Essa é a minha opinião, a sua pode ser diferente. São os meus princípios, que eu defendo na minha empresa e na minha família.

O senhor já havia apoiado outros candidatos antes?

Eu nunca me meti em política até agora. Faço isso agora porque vejo a necessidade de o país sair dessa crise, para ter um país que eu desejo para os meus filhos, netos e descentes.

Chegou a fazer campanha para Bolsonaro nas lojas Condor?

Não.

O senhor citou o Paulo Guedes, apontado como provável ministro da Fazenda num eventual governo de Bolsonaro. Mas Paulo Guedes não tem se apresentado publicamente desde que defendeu a criação de um imposto nos moldes da CPMF. O que acha desse sumiço?

Eu conheço Paulo Guedes, já várias palestras dele, a forma como ele pensa vai fazer bem para o Brasil. Hoje ele ainda não tem voz, não é ministro. Bolsonaro já disse que o ministro será ele, e disse que faz coligação, que não estará com rabo preso com outros partidos. Vai colocar nos ministérios os profissionais de cada área. Isso acho importante, não vai ter que engolir quem for.

O dono das lojas Havan, Luciano Hang, também apoia Bolsonaro e divulgou um vídeo aos funcionários em que diz que se algum candidato de esquerda vencer a eleição, ele vai repensar o plano de crescimento da empresa e talvez tenha que fechar algumas lojas. Na mensagem ele questiona: “Você está preparado para sair da Havan?”. O que acha desse posicionamento de Hang? não é uma forma de coagir os funcionários?

O Luciano está correto. Se a economia vai mal, o desemprego vai aumentar. Não é retaliação. As empresas privadas se ajustam à economia. Por que temos 14 milhões de desempregados hoje? Essas pessoas estavam trabalhando antes, e esse número pode chegar a 20 milhões

Se eu falar a verdade, isso é coação? Estamos vivendo num país democrático e eu exponho para você: se a economia piorar, vai aumentar o desemprego. Quem gera o emprego não é empresário, é o consumo. Se o consumo cai vou ter que diminuir minha despesa, que é principalmente a folha de pagamento.

O senhor diz que Bolsonaro representa o Brasil que o senhor quer para seus filhos e netos. Ele já fez declarações ofensivas a mulheres e homossexuais, por exemplo. Como vê isso?

Vejo que isso foi criado por outras pessoas, não por ele. Em momento algum vi Bolsonaro falar  de raça ou religião. Ele diz que quer construir um Brasil com os brasileiros. Hoje sim se divide os brasileiros por cor, por gênero.

Qual foi o faturamento do grupo Condor em 2017 e a expectativa para 2018?

Nossa meta é chegar a 5,2 bilhões de reais em faturamento este ano. Os números de 2017 não divulgamos. Temos 48 lojas, 12 mil funcionários, abrimos quatro lojas este ano. O futuro depende da vitória de Bolsonaro para continuarmos investindo.

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