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Investimento agressivo: Einstein cria cursos e dobrará turma de medicina

Fundação que administra o hospital inaugura centro de R$ 700 milhões no Morumbi para graduação e pesquisa; projeto captou doações e promete manter 30% de alunos bolsistas

Einstein: planeja dobrar sua turma de graduação em medicina, hoje com 120 alunos/ano (Germano Lüders/Exame)

Einstein: planeja dobrar sua turma de graduação em medicina, hoje com 120 alunos/ano (Germano Lüders/Exame)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 22 de abril de 2022 às 12h29.

Última atualização em 26 de abril de 2022 às 15h36.

Mais conhecida como instituição na área da saúde, a sociedade Albert Einstein, que administra o hospital de mesmo nome no Morumbi, em São Paulo, inaugura oficialmente no mês que vem o produto de seu invesimento mais agressivo no setor de educação. Ao custo de R$ 700 milhões de reais, o prédio do Centro de Ensino e Pesquisa da entidade passará abrigar a maior parte da estrutura dos três cursos de graduação que a instituição possui, além de outros três criados agora.

O prédio de 44 mil m² de área e oito andares é do tamanho do gramado do estádio do Morumbi (que pode ser visto de seu topo) e é uma obra de grife, assinada pelo arquiteto israelita-americano Moshe Safdie. Desde a semana passada, universitários já começaram a ocupar algumas salas e tirar fotos do átrio interno do edifício, num ambiente com três cúpulas de vidro que cobrem todo o prédio e um jardim interno com mudas de árvores nativas da flora brasileira, que crescerão sob ar-condicionado e controle de umidade.

O Einstein planeja dobrar sua turma de graduação em medicina, hoje com 120 alunos/ano. O prédio suntuoso, segundo o Einstein, se justifica não só pela necessidade de mais espaço, mas pelo intuito de integrar no mesmo ambiente o ensino e a pesquisa da entidade, que estavam até hoje então fragmentados pelo complexo hospitalar e suas unidades educacionais fora do Morumbi.

A partir de 2023

Segundo Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de pesquisa do Einstein, promovendo a interação entre cientistas da instituição e os universitários, a ideia é antecipara a formação de pesquisadores que hoje compõem o corpo da instituição.

— A gente vai ter uma movimentação muito importante para o pensamento científico, porque no mesmo lugar vamos ter de desde os alunos de graduação até o cientista mais sênior — diz o pesquisador, justificando a construção de paredes de vidro dos novos laboratórios. — A gente vai ter os peixinhos mais jovens passando pelo lado de fora daquele aquário e vendo que legal que é, vão querer entrar.

A incursão do Einstein no setor de educação começou de forma lateral, em 1989, com uma graduação em enfermagem e um curso técnico de nível médio. Depois foram criar os cursos de fisioterapia e medicina (este último com a primeira turma formada no ano passado), a instituição inaugura agora graduações em odontologia, engenharia biomédica e administração.

Segundo Sidney Klajner, presidente do Einstein, a jornada da saúde para a educação não representa um desvio de foco para a fundação.

— O Einstein foi fundado também com a missão geração de conhecimento e na responsabilidade social como forma de entregar saúde à população e a sociedade maior. Isso veio da reunião que fundou a sociedade em 1955 — diz. Klajner afirma também que o prédio deve ajudar a revitalizar o bairro, que vinha sofrendo um processo de esvaziamento.

Muitas das grandes casas do Morumbi em torno do Einstein estão hoje desabitadas e à venda, situação que permitiu à fundação adquirir alguns imóveis e ampliar o espaço hoje usado pelo centro de ensino. Como o bairro não está muito adensado, o Einstein estima que não será difícil acolher a movimentação das 6.000 pessoas que poderão ocupar o prédio diariamente.

Como uma parte razoável do investimento de ensido da instituição saiu de doações, o Einstein diz que pretende manter o atual programa para acolher alunos de renda menor, que hoje é alimentado com um quinto da receita de seu setor de ensino. Isso permite que três a cada dez alunos tenham bolsas de estudo não-reembolsáveis que variam de 25% a 100% da mensalidade.

Os alunos com matrícula no valor integral hoje não pagam barato — R$ 9.310 —, mas o valor é próximo ao cobrado por outras faculdades de primeira linha em filantrópicas. A Santa Casa de São Paulo tem mensalidade hoje em R$ 8.605. Faculdades de instituições com fins lucrativos, como a Unisa, têm custos até maiores (R$ 9.892).

Segundo o superintendente de ensino do Einstein, Alexandre Holthausen, a instituição não busca ter um impacto quantitativo na graduação de medicina. Segundo o último censo do ensino superior, só na capital há quase 2.500 vagas abertas para cursos na área, sendo 83% delas em entidades privadas.

A ambição do Einstein é atrair alunos que hoje estão entrando na USP e na Unifesp, os dois mais bem avaliados da capital. Hoje esses dois cursos de medicina acolhem 175 alunos/ano e 120 alunos/ano, respectivamente.

— Hoje, para aqueles alunos que financeiramente podem fazer a escolha, nós claramente estamos na primeira prateleira — diz o médico.

A grande aposta do Einstein, que o diferencia de outras faculdades privadas, é a interação da graduação com o setor de pesquisa. Hoje a instituição capta cerca de R$ 50 milhões ao ano em verbas de agências de fomento nacionais e estrangeiras, mais doações. Outros R$ 50 milhões são investidos pela própria receita.

Com 720 projetos de pesquisa em andamento, só universidades públicas brasileiras se equiparam a esses valores na área médica, e é comum ver pesquisadores do Einstein assinando artigos em publicações de alto padrão ao lado de USP e federais O novo curso de engenharia, segundo a instituição, também é voltado para inovação e pesquisa desde o início, e menos para atuação direta na área clínica.

A ajuda aos graduandos também pode fazer diferença na disputa por bons estudantes. Se o MEC autorizar a expansão de 120 para 240 alunos/ano (e o Einstein mantiver sua cota atual de auxílio à mensalidade), só a turma de bolsistas da instituição será o equivalente a meia classe da Unifesp. A faculdade já fez a solicitação ao ministério e espera acabar um período de moratória para ampliações.

Como a primeira turma de formandos do Einstein ainda não passou por avaliação do Enade, é difícil comparar a qualidade de seu curso com os atuais líderes no setor. Em 2023, os conceitos permitirão uma nova comparação entre as graduações de medicina, e o Einstein saberá se já está entre os primeiros. Mais de 60% da primeira turma já foi aprovada em bons programas de residência, diz Holthausen, o que é um sinal otimista.

 

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