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Investidor reclama na CVM que operação Boeing-Embraer tenta burlar OPA

Renato Chaves acha que a joint-venture mascara uma aquisição de controle que é barata para a Boeing, e cara para os acionistas da fabricante brasileira

Reclamação do investidor pode ser aceita ou não, e mesmo que aceita, não necessariamente determinará a realização da Oferta Pública de Aquisição (Roosevelt Cassio/Reuters)

Reclamação do investidor pode ser aceita ou não, e mesmo que aceita, não necessariamente determinará a realização da Oferta Pública de Aquisição (Roosevelt Cassio/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de julho de 2018 às 22h30.

Rio de Janeiro - O consultor em governança corporativa Renato Chaves protocolou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma reclamação formal contra a operação entre Embraer e Boeing. Ele é acionista da empresa brasileira e participou de sua reestruturação em 2006, quando era diretor da Previ (fundo de pensão do BB). Agora, acha que a chamada joint-venture mascara uma aquisição de controle que está saindo barata para a Boeing, e cara para os acionistas da fabricante brasileira. Pelo estatuto da Embraer, deve haver uma Oferta Pública de Aquisição (OPA).

"A Embraer perde uma posição de destaque, deixa de ser comandante para virar passageira. Já a Boeing encontrou uma forma inteligente de não gastar dinheiro e ter um conhecimento que levaria anos para construir. Desenvolver uma área de aviões comerciais como é a Embraer hoje levaria uns cinco anos", afirma, lembrando que só a homologação de um avião leva cerca de dois anos.

A CVM pode aceitar ou não a reclamação do investidor e, mesmo que aceite, não necessariamente determinará a realização da OPA. Para Chaves, "erros na comunicação" feita pelas duas empresas aumentam as chances de sucesso no órgão regulador do mercado capitais.

Apesar do esforço para qualificar a modelagem como joint venture, vários pontos do comunicado reforçam o papel de compradora da Boeing. Notícias publicadas no site da Embraer e o próprio fato relevante falam em "aquisição" pela norte-americana das ações da empresa que será criada, indicam que terá "controle operacional e de gestão da nova empresa".

"A operação em si nasceu torta, e erros de comunicação agravam a situação", diz. O acionista não pretende questionar a associação, mas o modelo escolhido. Ontem, ao ler as primeiras informações, ele diz ter se surpreendido com a transferência para a nova empresa - de capital fechado, na qual a Embraer deterá apenas 20% - das atividades de aviação comercial, segmento no qual a companhia brasileira é líder global e que representa a maior parte de sua receita. Ao analisar toda a documentação, outros pontos chamaram a atenção do ex-diretor da Previ.

Ele coloca em dúvida a avaliação dos ativos que serão aportados na nova empresa. A Embraer entra com ativos já consolidados no mercado, que representam 85% de sua receita, e a Boeing, com "as operações de desenvolvimento comercial, produção, marketing e serviços de suporte", mas a brasileira terá apenas 20% de participação na joint venture. Além disso, o período de 10 anos em que as empresas não poderão vender suas participações aumenta, em sua opinião, a fragilidade da Embraer, que pode ver 80% de sua receita se transformar em uma empresa sem ativos, já que os projetos de aviões comerciais aportados estarão depreciados ao final do contrato e não há segurança de que novos projetos terão sido desenvolvidos.

"Também não está claro nos comunicados se a aviação executiva será transferida para a nova empresa, o que deixaria a Embraer só com a área de Defesa", completa, frisando que, quando fala em aviação comercial, a Embraer se refere a tudo o que não é Defesa.

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