Wanderson Elias, Fábio Júnior, Waldir Junior e Jefferson Pinto, da Tributei: vamos chegar ao breakeven até o meio do ano (Tributei/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de fevereiro de 2024 às 10h51.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2024 às 18h33.
A primeira planilha, ainda em Excel, demorou mais de três meses para ser concluída. Com ela, Waldir Souza Júnior, contador em uma empresa atacadista em Macapá, capital do Amapá, queria se livrar de um problema burocrático e cansativo: o cálculo de ICMS a cada nova transação.
Mas o negócio foi mais longe e se tornou a Tributei, a primeira startup do estado nortista a receber um aporte. Hoje, a empresa está na quarta geração da tecnologia, uma plataforma que permite a contadores e empresas fazerem os cálculos, emissão de guia, recolhimento e o pagamento do tributo.
O avanço, com a uso de ferramentas de IA generativa, foi impulsionado no último ano quando a startup foi selecionada para investimento e para participar do Black Founders Fund, programa de startups do Google para negócios criados por empreendedores negros.
A captação, sem valor revelado, foi a segunda na história Tributei. Em 2022, tinha feito uma rodada com a Bossa Invest, o Primo Rico e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) ligado ao governo federal, num valor total de R$ 1,3 milhão.
Antes de chegar nesta fase e atrair a visibilidade nacional, a Tributei recorreu a editais de inovação no próprio estado, onde receberam R$ 50.000, e, no governo federal, outros R$ 100.000.
Os apoios ajudaram a sustentar o negócio e permitiram a dedicação exclusiva dos sócios ao negócio, o que não conseguiram fazer nos primeiros dois anos.
“Foi neste momento que decidimos largar os nossos empregos, em junho de 2020, e focar no empreendedorismo”, afirma Jefferson Pinto, cofundador e COO da Tributei. Além de Jefferson e Waldir, o CEO da operação, Wanderson Elias, CTO, e Fábio Júnior, desenvolvedor, formam o time de sócios-fundadores.
A EXAME falou com o profissional no Startup20, evento que acontece em Macapá, entre os dias 23 e 26, e discute as oportunidades de negócio de inovação entre as 20 maiores economias do mundo. O Brasil ocupa a cadeira de presidente do G20 neste ano.
Da planilha inicial, que funcionou como um MVP e foi o único produto por cerca de 7 meses do negócio no mercado amapaense, a Tributei expandiu a atuação para todo o país.
Hoje, reúne mais de 15 milhões de cenários tributários catalogados, incluindo o imposto de cada produto e situações, como alíquotas de itens fabricados e comercializados dentro dos estados, vendas para outros estados e os fins de uso.
As principais demandas estão em São Paulo, Mato Grosso e Bahia. “São estados que têm, por exemplo, legislações um pouco mais complexas, o que faz com que a procura seja maior”, afirma Jefferson.
A startup atende negócios de porte pequeno e médio, com tíquetes médios em torno de R$ 400,00 por mês. O valor é calculado a partir das notas lançadas na plataforma.
A operação de tecnologia e área de desenvolvimento de produtos continuam no estado, mas desde o final de 2022 a startup mantém um escritório em São Paulo, onde estão as divisões de vendas e marketing. “Eu fui para lá fazer o negócio crescer”, afirma o empreendedor. “Nós fomos com esse objetivo porque os investidores, os eventos, o mercado e o dinheiro estão lá”.
Bem longe da Faria Lima, o ecossistema de inovação do Amapá, com pouco mais de 80 startups, de acordo com dados do Sebrae do estado, enfrenta diversos diversos que vão além das barreiras logísticas.
“Hoje a nossa internet está bem melhor. Hoje, já é possível montar uma startup e não ter tantos problemas com a internet. Mas há quatro anos a situação era outra. Chovia e caía a internet”, afirma Jefferson. “Como, inicialmente, nós atendíamos poucos estados lá fora, a dificuldade não era tão, mas eu não conseguia vender, dar suporte, mas íamos nos virando”.
Até pelo histórico, a startup mantém quatro links de internet para lidar com eventualidades, incluindo a famosa Startlink, do bilionário Elon Musk. Um momento simbólico para a startup foi o apagão que o Amapá sofreu em novembro de 2020 e que deixou o estado às escuras por cerca de 20 dias.
“Nós tínhamos acabado de receber o dinheiro do edital, estávamos vendendo e veio o apagão”, diz. “Quando começou a ter o rodízio de energia aqui, nós começávamos o expediente em um bairro e ficávamos revezando de bairro em bairro até o fim do dia”, conta.
Essa resiliência raiz, fora dos jargões do mercado, tem contribuído para que a startup mantenha um ritmo de crescimento em torno de 300% ao ano. Em 2032, faturou R$ 1,3 milhão, com projeção de encerrar 2024 com R$ 3 milhões.
O breakeven, estimado para meados deste ano, deve criar as condições para uma nova captação, série A, no começo do ano que vem. Os passos acompanham a busca por ampliar mercado, de olho em setores como e-commerces, com tíquete médio mais elevados, e para o setor público, em que começa atender o governo do estado do Amapá.
O grande filão observado, no entanto, está na recém-aprovada reforma tributária, o que fará com que dois sistemas tributários sejam usados até a completa migração prevista para 2023.
“Nós queremos ser a principal solução para a reforma tributária. O país vai rodar dois modelos tributários e será um caos. E nós temos investido muito em tecnologia, usando a inteligência artificial para monitorar em tempo real e me dizer quando uma legislação muda e o que mudou”, afirma.
* o jornalista viajou à convite da Abstartups (Associação Brasileira das Startups)