Tiziano Giordano Pravato Filho, da Leveros: “A família tinha interesse em se manter no controle e entende que ainda há ciclos importantes de crescimento e evolução” (Leveros/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de junho de 2025 às 06h47.
Enquanto o varejo tradicional luta para defender margens em um ambiente de juros altos e demanda volátil, uma empresa do interior paulista vem crescendo num ritmo raro: 35% em 2024, com 1,5 bilhão de reais em vendas e presença em todos os estados do Brasil.
É a Leveros, especializada em climatização, que anuncia agora uma mudança importante em sua estrutura societária.
O fundo americano de private equity GEF Capital Partners comprou 34,7% da empresa, assumindo parte da fatia que era da 2bCapital, gestora de private equity ligada ao Bradesco.
Os 14,3% restantes ficaram com a família fundadora, os Pravato, que agora detêm 65,3% da companhia.
Antes da operação, a 2bCapital detinha 49% da Leveros.
O novo arranjo reforça o controle da família e marca o início de um novo ciclo com um investidor internacional.
“A família tinha interesse em se manter no controle e entende que ainda há ciclos importantes de crescimento e evolução”, afirma Tiziano Pravato Filho, CEO da Leveros, em entrevista à EXAME poucos minutos após o fechamento do contrato.
A nova fase da empresa vem acompanhada de uma virada estratégica.
A Leveros quer se posicionar mais como plataforma de tecnologia e relacionamento com instaladores, e não mais como um varejista tradicional. A empresa estuda aquisições, planeja ampliar portfólio e projeta uma possível abertura de capital nos próximos anos.
O fundador Tiziano Pravato iniciou a empresa sob o nome de Gelo Som, oferecendo serviço de manutenção autorizada da Brastemp em Assis, interior de São Paulo, consertando fogões, geladeiras e demais eletrodomésticos de linha branca.
Em 2005, ele comprou a marca Multi-Ar, passando a vender seus produtos por comércio eletrônico a partir de 2007. Com a expansão de suas operações, em 2010 foram abertos os primeiros centros de distribuição pelo Brasil.
Em 2016, a empresa recebeu investimento da gestora de private equity 2bCapital, do Bradesco, com o objetivo de profissionalizar e expandir o negócio. No ano seguinte, eles fizeram o reposicionamento de marca, assumindo o nome Leveros.
A gestão da empresa mudou em 2018, quando Tiziano Pravato Filho assumiu como CEO da companhia. No mesmo ano, foi firmada parceria com a B2W e a Magalu para a venda de serviços de instalação de ares-condicionados nos respectivos portais.
“Naquela época, a gente era muito focado no cliente final e no e-commerce, mas com margens em queda. Foi quando viramos a chave para o instalador como cliente principal”, diz Pravato.
Hoje, cerca de 63% das receitas vêm de vendas feitas por instaladores cadastrados.
Esses profissionais atuam como representantes comerciais, vendem os equipamentos via plataforma própria da Leveros e executam a instalação. “Desenvolvemos tecnologia para que eles gerenciem orçamentos, obras e todo o processo de instalação”, afirma o CEO.
A GEF Capital, gestora americana com foco em impacto ambiental, investiu na Leveros por meio de seu fundo climático.
A gestora se interessou pelo modelo da companhia e pela atuação em eficiência energética. “A gente opera com 100% do portfólio baseado em produtos de alto desempenho, não trabalhamos com linha de entrada”, diz Pravato.
A estrutura da operação, finalizada nesta semana, envolveu assessoria do Itaú BBA e dos escritórios Ulhôa Canto (para a família) e Demarest (para a GEF). O valor não foi divulgado, mas a Leveros sai da transação avaliada com múltiplos de crescimento e EBITDA positivos.
De 2016 a 2024, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) saltou de 25 milhões para 150 milhões de reais.
Com a nova sócia, a Leveros acelera uma estratégia de expansão em três frentes: digitalização, novos serviços e M&A, fusões e aquisições.
“Estamos avançados na aquisição de uma empresa do setor para complementar nosso portfólio com peças, ferramentas e insumos para o instalador”, diz Pravato.
A meta é transformar a empresa em uma plataforma 360º. Já está em testes uma divisão de tecnologia que oferece software para gestão de obras e orçamentos, tanto para parceiros como para grandes marcas. “Hoje, empresas como Electrolux e LG usam nossa tecnologia para conectar seus consumidores aos instaladores.”
A Leveros também não descarta uma abertura de capital.
“Se houver uma janela nos próximos 12 a 18 meses, vamos considerar. Mas o foco principal é crescer com geração de caixa e manter a capacidade de pagar dividendos aos sócios, como fazemos há nove anos.”
A empresa estima ter 8% do market share nacional em climatização. Os concorrentes diretos são redes especializadas como Frigelar e Do Frio, com forte presença no Sul.
“O nosso crescimento vem pela digitalização e qualificação da rede. A gente quer dar o próximo salto sem perder controle nem margem”, afirma.