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Insegurança alimentar e desperdícios: a oportunidade para as foodtechs decolarem nos EUA

A batalha política em torno da assistência alimentar deixou muitos americanos com medo de passar fome, enquanto isso, o país corre o risco de desperdiçar cerca de US$ 400 bilhões em alimentos

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 17h23.

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Milhões de americanos enfrentam a possibilidade de insegurança alimentar diante de atrasos nos repasses do SNAP, o principal programa de assistência nutricional dos Estados Unidos. A crise atual ocorre mesmo após uma decisão judicial federal determinar que o governo de Donald Trump garantisse os pagamentos em novembro.

A suspensão parcial dos benefícios afeta famílias em todo o país. Estima-se que cerca de US$ 400 bilhões em alimentos sejam desperdiçados anualmente nos EUA. Em 2023, o total de excedentes produzidos chegou a US$ 382 bilhões, segundo relatório da ReFED, uma organização que atua no combate ao desperdício alimentar.

Enquanto consumidores de baixa renda enfrentam incertezas sobre a continuidade dos pagamentos do SNAP, iniciativas privadas e startups buscam aproveitar o excedente de alimentos como oportunidade de mercado.

Chris MacAulay, diretor da operação norte-americana da Too Good to Go, plataforma que conecta estabelecimentos com alimentos excedentes a consumidores dispostos a comprá-los com desconto,  destacou o impacto do desperdício no país.

“Quarenta por cento de todos os alimentos no mundo acabam no lixo”, disse, em entrevista à CNBC. A empresa afirma que sua atuação salva cerca de oito refeições por segundo, oferecendo aos consumidores “sacolas surpresa” com produtos que, de outra forma, iriam para o lixo.

Por outro lado, o momento também abriu espaço para o crescimento da Too Good to Go, que atua em 70 cidades norte-americanas. A empresa afirma não competir com bancos alimentares, atuando em faixas de oferta que seriam descartadas.

Neste domingo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que os pagamentos do SNAP poderão ser retomados até quarta-feira, 5 de novembro. O impasse ocorre em meio a cortes amplos nos programas de assistência, inseridos nas medidas fiscais do atual governo.

Doações, ração animal, compostagem e mercados de excedentes figuram entre as principais estratégias para reduzir perdas. Para MacAulay, não há uma única solução: “Pensamos nisso como uma cadeia de suprimentos para o desperdício de alimentos.”

Novos negócios na guerra contra o desperdício

O mercado global de foodtechs movimenta cerca de US$ 229,49 bilhões anualmente em 2025, com as projeções indicando que esse valor deve crescer para aproximadamente US$ 538,47 bilhões até 2034, impulsionado por avanços tecnológicos e mudança nos hábitos de consumo, segundo dados da Towards Food and Beverages, empresa global de consultoria e pesquisa especializada no setor de alimentos e bebidas.

No momento, combinação de incentivos econômicos e novas tecnologias já são os principais fatores que atraem investidores ao setor. Effram Kaplan, da Brown Gibbons Lang & Company, afirma que a gestão de resíduos, antes vista como estável, agora chama atenção pelo potencial de retorno previsível e escalável. “O setor está subvalorizado há algum tempo”, declarou.

A tendência é impulsionada por startups como a Mill, que recebeu aporte de US$ 100 milhões para desenvolver um recipiente doméstico capaz de desidratar restos de alimentos. Por outro lado, a empresa Metafoodx arrecadou US$ 9,4 milhões para um scanner com Inteligência Artificial que rastreia desperdício em cozinhas industriais.

Empreendedores também estão entrando nesse mercado com soluções próprias. Tyler Frank, fundador da Garbage to Garden, iniciou sua operação com US$ 300 e um caminhão em 2012, oferecendo coleta de resíduos orgânicos para compostagem em Portland, no Maine. A empresa cresceu rapidamente ao oferecer um serviço direto ao consumidor.

Para empresas as empresas do setor, a digitalização tem sido outro diferencial. “As companhias que investem em tecnologia são as que estão vencendo”, afirma Buddy Bockweg, CEO da Vsimple, que ajuda fornecedores de gestão de resíduos a automatizar operações e reduzir custos.

O cenário atual reflete tanto o desafio da insegurança alimentar quanto a oportunidade econômica no combate ao desperdício — um paradoxo entre excedente e escassez que movimenta investimentos, inovação e políticas públicas.

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