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Indústrias de soja amargam margens reduzidas pela logística

Indústrias que processam e exportam soja no Brasil podem ter margens de lucro perto de zero ou negativas neste ano devido aos custos de logística


	Uma safra recorde de soja está sendo finalizada no Brasil, estimada em mais de 80 milhões de toneladas, com exportações de 37 milhões de toneladas, segundo dados oficiais
 (REUTERS/Paulo Whitaker)

Uma safra recorde de soja está sendo finalizada no Brasil, estimada em mais de 80 milhões de toneladas, com exportações de 37 milhões de toneladas, segundo dados oficiais (REUTERS/Paulo Whitaker)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2013 às 17h39.

São Paulo - Indústrias que processam e exportam soja no Brasil podem ter margens de lucro perto de zero ou negativas neste ano, afetadas por elevados custos de logística, disse nesta quarta-feira um representante do setor.

"Dependendo do tamanho dos problemas que as empresas tiveram no porto, a conta pode ser alta. Mas não acredito que serão prejuízos astronômicos. Vamos chegar muito perto de zero. Algumas (empresas) realmente podem ter complicações, porque foi realmente um custo que apareceu, caiu do céu", disse à Reuters o presidente do Conselho da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, Manoel Pereira.

O esmagamento e a exportação de soja no Brasil são dominados por gigantes globais, algumas de capital fechado, como a Cargill e a Louis Dreyfus , ou com ações negociadas na bolsa de Nova York, como a Archer Daniels Midland ou a Bunge, e nenhuma empresa do setor tem revelado publicamente os resultados operacionais em uma temporada marcada por fretes rodoviários mais caros, acesso complicado nos portos e fila de navios.

Uma safra recorde de soja está sendo finalizada no Brasil, estimada em mais de 80 milhões de toneladas, com exportações de 37 milhões de toneladas, segundo dados oficiais.

Pereira afirma que o principal problema nos últimos meses têm sido o custo de frete rodoviário, que subiu acima do esperado no segundo semestre, com a entrada em vigor da chamada Lei do Caminhoneiro, que restringiu a carga horária e, portanto, a disponibilidade de motoristas.

"Como as indústrias compraram antecipadamente a safra dos produtores, por volta de abril, maio, junho de 2012, nós já tínhamos adquirido grande parte da safra dos produtores. (...) Aquilo (alta no frete) que se previa em 15 por cento, passou para 30, 40 por cento. Consequentemente, esse prejuízo, quem levou, foram as indústrias."

Segundo Pereira, que responde pela diretoria de grãos da Algar Agro, as negociações de soja para a temporada 2013/14 --que começa a ser plantada em setembro e será colhida nos primeiros meses do ano que vem-- estão lentas e os novos patamares de custos serão repassados aos produtores.


"Não há dúvida que daqui para a frente, isso (impacto dos custos) vai começar a ser repassado para preços. Tanto que você vê atualmente que a maior parte das indústrias está bem calma na questão das compras para 2014. Porque estão equacionando: a maior pergunta é qual será o preço do frete."

Caos nos portos

Além do frete, os custos com gargalos nos portos estão sendo dimensionados pelas indústrias exportadoras. O cálculo, no entanto, é mais complexo.

"Cada indústria tem sua conta", ressaltou Pereira.

No início do escoamento da safra, a partir de março, os portos brasileiros registraram filas de caminhões, com dificuldade de descarregar, e espera de navios em alguns portos, devido à lentidão nos embarques.

"O fluxo acaba sendo retardado. Entram estadias, são armazéns que deveriam ter um giro e não conseguem esvaziar, é acúmulo de safra", avaliou o presidente do Conselho da Abiove, lembrando que esses prejuízos com o gargalo logístico são mais difíceis de serem computados imediatamente.

Além desses entraves, outro custo que está sendo absorvido pelas indústrias é o "demurrage", multa paga aos armadores --proprietários dos navios-- por cada dia que o navio fica ancorado além do previsto, esperando para carregar.

"As empresas vão distribuir um pouco melhor os seus embarques. A conta de 'demurrage', que pode ser de 18 a 30 mil dólares (por dia), foi muito grande nessa safra."

Embarques acelerados

O clima mais seco em abril e maio --que permite que os porões dos navios permaneçam abertos-- e um esforço de instituições federais para fazer a liberação burocrática das cargas 24 horas por dia vem ajudando a reduzir os atrasos.


"O tempo ajudou muito, acelerou os embarques, tanto que o volume de carregamento nos portos foi impressionante. As medidas que o governo tomou, de giro de 24 horas tiveram efeito. Esse é um sistema que veio para ficar, tem que ficar", avaliou Pereira, referindo-se à operação Porto 24 Horas, a partir do início de maio.

Os embarques de soja do Brasil em maio somaram 5,07 milhões de toneladas nas primeiras três semanas do mês e se encaminham para um recorde mensal, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

O ritmo diário de embarques em maio está acima da média de abril, mês em que o país exportou 7,15 milhões de toneladas de soja, bem perto da marca histórica de 7,28 milhões de toneladas, registrada em maio de 2012.

Safrinha

A chegada de uma "safrinha" de milho com volume recorde, nos próximos meses, deve adicionar complicadores à logística de grãos no país.

A avaliação de Pereira é que os exportadores, com espaço limitado para movimentar as cargas, priorizem a soja --mais remuneradora-- em detrimento do milho.

"É capaz que o milho fique na retaguarda. Os compradores de milho tendem a fazer contas e isso terá impacto nos preços. Você já vê isso em Mato Grosso. Tem notícia que a saca de milho é 10 reais e o custo (total de produção) é de 13 reais", disse Pereira, avaliando que muitas cargas do cereal ficarão nas regiões de origem, gerando excedente e queda nos preços.

Já o milho que chegar aos portos vai competir por espaço com a soja.

"O caos diminuiu um pouco agora, mas ele vai continuar quando a próxima safrinha de milho começar a vir agora, depois de agosto", ponderou. "Nós não teremos facilidade a nível de portos neste ano."

A estimativa do governo federal é de plantio de 1 milhão de hectares a mais com milho de segunda safra este ano, com uma colheita que deverá quebrar recorde mais uma vez, ultrapassando 43 milhões de toneladas.

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