Indústria sustentável: na COP27, executivos brasileiros defendem atuação conjunta de governo, iniciativa provada, academia e organizações sociais (CNI/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2022 às 15h50.
Última atualização em 16 de novembro de 2022 às 16h10.
Representantes da indústria se reuniram nesta quarta, 16, na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), para discutir as contribuições do setor para a conservação florestal.
Mediador do painel, Gustavo Pinto Coelho de Oliveira, presidente da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), começou a conversa dizendo que a COP é o palco de discussões sobre sustentabilidade do mundo, e por isso o Brasil precisa estar lá, levar as contribuições da indústria brasileira para a descarbonização, e também ver bons exemplos em economia verde.
“A gente tem que sempre trabalhar com a ideia de que temos que compartilhar o que estamos fazendo”, comentou Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI. Para ele, o desenvolvimento de projetos que levam a uma indústria mais sustentável é feito à base de muita pesquisa e criatividade, “pessoas que pensam profundo novas formas de desenvolver novos produtos”.
Os exemplos que são mostrados ao mundo, ele diz, sempre precisam de auditoria, “mostrar os números, mostrar o ‘tracking’ do dinheiro – seja ele público ou privado”. “Esse mesmo dinheiro tem que servir para aumentar a capacidade de gestão do conhecimento. A gente tem que comunicar o que faz de bom pela biodiversidade”, afirmou Gomes.
Para o executivo do SENAI, a inovação é mais efetiva quando feita em rede, unindo pontos de vista e expertises diferentes.
No encontro, Mariana Lisbôa, líder global de Relações Corporativas da Suzano, comentou que a companhia lançou junto com outras empresas no último dia 12, durante a COP17, a Biomas, uma organização focada em conservação e restauração florestal. Segundo a executiva, serão 4 milhões de hectares de florestas restaurados nos próximos 20 anos, fruto dessa iniciativa conjunta.
A Biomas, ela explica, só foi possível pelo surgimento do mercado voluntário de carbono, e é preciso agora, na visão da executiva, que haja políticas públicas adequadas que permitam à iniciativa privada agir no caminho de uma jornada mais sustentável.
“Acreditamos que teremos um mercado de regulação de carbono no Brasil que nos permitirá escalar a Biomas da forma como a gente deseja e da forma que o mundo merece”, afirmou.
Para Mariana, iniciativas como essa só são possíveis quando iniciativa privada, sociedade civil e academia andam juntas para combater as mudanças climáticas, e o poder público precisa estar alinhado a tudo isso. A executiva citou a modernização da lei de concessões florestais como um bom exemplo nesse sentido.
Ela destacou, ainda, que a Suzano já é net zero, neutraliza todas as suas emissões, e assumiu compromissos públicos em 2020 para “renovar a vida”. “São 15 compromissos ligados aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU]”, explicou. Um deles, disse, prevê remover 40 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera até 2030 e reduzir em 15% as emissões da companhia até 2025. “Isso tudo só é possível pela inovação a favor da sustentabilidade.”
A executiva afirmou que na Suzano, que só planta em áreas anteriormente degradadas ou antropizadas, usa-se, internamente, o termo inovabilidade, que é a inovação a serviço da sustentabilidade. Para promover essa inovação, a companhia tem um centro de inovação em Israel e está fazendo outro na China.
“A empresa se comprometeu, em 2020, a oferecer ao mercado, até 2030, 10 milhões de toneladas de produtos de base renovável em substituição ao plástico e outros produtos derivados do petróleo. A gente só consegue isso através da inovabilidade, investindo em tecnologia e em novas formas de fazer os mesmos produtos. Estamos imbuídos desse propósito.”
Hoje, ela afirma, se paga mais IPI em produtos feitos de papel do que similares de plástico, o que afeta o preço final do produto. “O estado precisa permitir ao consumidor essa capacidade de escolha, e que os bioprodutos possam competir de forma mais igual com os produtos de origem fóssil.”
Também presente no painel, Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia, comentou que a JBS definiu o atingimento do net zero até 2040 e, dentro dessa plataforma, explicou a executiva, há uma plataforma de rastreamento da pecuária.
“A JBS entendeu que a Amazônia é extremamente importante não só para o Brasil, mas para o mundo, e por isso a criação do Fundo JBS pela Amazônia em setembro de 2020”, disse.
Joanita, que foi CEO da Seara até 2020, quando assumiu a liderança do Fundo, disse que a instituição vem trabalhando para reduzir áreas degradadas e ampliar a conservação da floresta. “O Fundo foi criado para ajudar a resolver esses dois problemas”, disse.
Para isso, a iniciativa trabalha em três eixos, explicou. O primeiro deles é ciência e tecnologia, e nessa frente ela diz ser importante trabalhar de forma cooperativa com mundo acadêmico, iniciativa privada, governo e organizações sociais, “para que realmente se consiga, através da ciência e tecnologia, levar soluções com a agregação de valor aos produtos da Amazônia”.
A executiva da JBS destacou que o Fundo olha a ciência e a tecnologia por dois aspectos: os bioprodutos da Amazônia e resolver questões estruturantes de mobilidade, conectividade e energia. “Não dá para se estabelecer lá, começar a criar negócios se não tiver essas questões estruturantes resolvidas”, afirmou.
Retomando os eixos pelos quais o Fundo JBS Pela Amazônia atua, a executiva disse que o segundo são cadeias produtivas e o terceiro, bioeconomia, olhando tanto as questões estruturantes como geração de negócios, com mentoria e investimentos. “A gente quer trabalhar em pecuária de baixo carbono e sistemas agroflorestais”, disse. “O maior projeto do Fundo, até agora, é um sistema agroflorestal de cacau”, exemplificou.
Na questão da bioeconomia, Joanita mencionou dois projetos. Um é o do bioplástico, para reduzir a participação do polipropileno usando resíduos da Amazônia, como aparas de madeira, ouriços de castanha e o caroço do açaí, e o outro é levar internet para as comunidades. “Vamos levar internet por satélite a mais de 4 mil comunidades até 2025”, disse.
A executiva citou uma pesquisa recente do Instituto Ipê que perguntou aos jovens o que os levaria a ficar na Amazônia interiorana, e não deixar a região. Os jovens deram como primeira resposta a internet. “Criar em cada comunidade para levar educação, saúde e acesso ao mercado e à cadeia. Os bioprodutos já são uma realidade na Amazônia interiorana, mas precisam de acesso ao mercado.”
Segundo Joanita, dos R$ 250 milhões iniciais propostos pelo Fundo para investimentos em projetos na região da Amazônia, R$ 60 milhões já estão alocados em 18 iniciativas.
Em sua fala, José Luis Gordon, diretor-presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), reforçou a importância de a indústria ter um sistema de inovação orientado à sustentabilidade. “A gente precisa que os atores da indústria tenham a agenda de inovação como prioridade, que a coloquem como eixo estratégico”, disse.
Segundo ele, a Embrappi tem buscado esse papel. Hoje, 67% da carteira de projetos da instituição já tem relação com algum ODS, afirmou, dizendo que foi uma primeira métrica que a instituição definiu.
Mas Gordon reforçou a importância de se tomar cuidado para não caminhar para o “greenwashing”, quando as empresas promovem o discurso da sustentabilidade sem ter ações nesse sentido de fato. Nesse sentido, ele disse que a Embrapii está definindo os critérios para classificar inovações que sejam realmente de sustentabilidade.
Gordon comentou, ainda, que a instituição lançou quatro centros de pesquisa ligados à bioeconomia na região Norte do Brasil. “Hoje são 89 centros de pesquisa ligados à Embrapii”, disse.
Oliveira reforçou ainda a importância do apoio à inovação. “É uma agenda de sustentabilidade, mas é uma agenda de tecnologia também.”