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Gafisa surpreende mercado e propõe fusão com a concorrente Tecnisa

A Gafisa, que está em um processo de reestruturação de sua operação desde 2019, não deu detalhes de como a transação seria efetivada financeiramente

Gafisa: sonho de voltar aos "velhos tempos" em que as construtoras brasileiras batiam recorde de vendas e valor de mercado (Germano Luders/Exame)

Gafisa: sonho de voltar aos "velhos tempos" em que as construtoras brasileiras batiam recorde de vendas e valor de mercado (Germano Luders/Exame)

NF

Natália Flach

Publicado em 19 de agosto de 2020 às 09h43.

Última atualização em 19 de agosto de 2020 às 18h56.

A construtora Gafisa, que desde o início do ano passado está reestruturando sua operação, anunciou nesta quarta-feira, 19, uma inesperada e não solicitada proposta de fusão com a concorrente Tecnisa.

A proposta foi divulgada ao mercado financeiro logo cedo pela Tecnisa, que disse que a oferta não especificava a estrutura da operação – se haveria pagamento em dinheiro ou troca de ações, por exemplo – nem os motivos econômicos e financeiros que fundamentariam a transação. Segundo a Tecnisa, o documento que recebeu da Gafisa afirmava que a "definição dos procedimentos aplicáveis ficará a cargo das negociações entre as administrações de ambas as sociedades". Então, o conselho de administração da Tecnisa decidiu se reunir, em caráter extraordinário, para avaliar a proposta, frisando que, até o momento, não há qualquer tipo de negociação entre as duas companhias.

Na primeira hora de pregão na bolsa brasileira B3, a ação da Tecnisa chegou a ganhar 7,9%, sendo vendida a 12,10 reais, mas depois passou a cair. Por volta das 15h, recuava 2,1%, para 11 reais. A da Gafisa subiu até 7,5%, para 5,90 reais, e posteriormente passou a cair 5,3%, cotada a 5,23 reais. O valor de mercado das duas somado, hoje, é de 1,9 bilhão de reais. O Ibovespa caía 0,7%, para 101.391 pontos.

Em um outro comunicado ao mercado, a Gafisa deu um pouco mais de detalhes sobre suas intenções.

A Gafisa aposta que a união de duas empresas tradicionais no mercado resultaria em uma construtora em posição vantajosa para crescer. Seria a segunda maior do setor, com capacidade anual de lançamento de empreendimentos avaliados entre 2 bilhões e 3 bilhões de reais, nos bairros mais consolidados de São Paulo e Rio de Janeiro, capitais que já concentram as atividades de ambas. Combinadas, as duas têm um estoque de terrenos de 10,3 bilhões de reais e lançamentos previstos de imóveis no montante total de 10 bilhões de reais.

A proposta tem até uma pitada de sonho misturado com nostalgia: menciona que, juntas, as duas poderiam voltar aos "velhos tempos" – o início da década, quando as construtoras brasileiras atingiram seu auge de faturamento e valor na bolsa de valores. O ponto alto da Gafisa foi em 2012, quando atingiu receitas de 2 bilhões de reais, e o da Tecnisa se deu em 2013, com vendas de 1,8 bilhão de reais. As construtoras são, na opinião da Gafisa, referência em qualidade de projeto e têm sinergias de sistemas de gestão.

Após um aumento de capital da Gafisa de 400 milhões de reais anunciado ontem, a companhia combinada poderia fazer uma nova emissão de ações para captar até 1,5 bilhão de reais no mercado, de acordo com a proposta.

A oferta deixou a Tecnisa e o mercado estupefatos, segundo fontes próximas à construtora fundada por Meyer Nigri. Desde que anunciou seu plano de reestruturação, em 2019, a Gafisa estava tentando deixar para trás as turbulências na gestão que quase levaram a companhia à lona em 2018. Com a saída de cena do maior acionista, o polêmico coreano Mu Hak You, aquela que já foi a construtora mais rentável do país, focada no segmento de alta renda, lançou um plano austero de reestruturação. Porém, sem uma explicação mais minuciosa da motivação e de como a transação seria conduzida, o mercado está tendo dificuldade para entender como a oferta se encaixa nos planos da Gafisa.

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