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Imprensa revela face oculta do sigilo do HSBC na Suíça

Personalidades políticas, do entretenimento, do esporte ou dos negócios são citadas pela imprensa em investigação que revela dados de contas escondidas no HSBC

Logo do banco suíço HSBC em um edifício em Genebra: investigação é uma verdadeira viagem ao coração da fraude fiscal (Fabrice Coffrini/AFP)

Logo do banco suíço HSBC em um edifício em Genebra: investigação é uma verdadeira viagem ao coração da fraude fiscal (Fabrice Coffrini/AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 16h29.

Zurique - Várias personalidades políticas, do mundo do entretenimento, do esporte ou dos negócios são citadas pela imprensa internacional em uma investigação que revela a face oculta do sigilo bancário na Suíça, com base em dados de milhares de contas escondidas no banco HSBC.

O Brasil aparece como o nono país da lista de clientes envolvidos nessa operação.

Batizada de "SwissLeaks", a investigação é uma verdadeira viagem ao coração da fraude fiscal e revela os artifícios utilizados para dissimular dinheiro não declarado.

Segundo as informações, baseadas na investigação de arquivos bancários retirados do HSBC Suíça pelo ex-funcionário Hervé Falciani, quase 180 bilhões de dólares teriam transitado por contas do HSBC em Genebra, para fraudar o fisco, lavar dinheiro sujo ou financiar o terrorismo internacional.

O caso afeta várias personalidades, incluindo um ex-segurança do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez e depois alto funcionário de seu governo, o também falecido banqueiro espanhol Emilio Botín e jogadores de futebol como o uruguaio Diego Forlán.

No período analisado (2005-2007), a Venezuela é o terceiro país com maior quantidade de dólares na filial suíça do banco britânico, com o total de 14,8 bilhões, segundo os arquivos que vazaram para a imprensa.

Os arquivos foram extraídos de dados copiados pelo técnico de informática Hervé Falciani, ex-funcionário da filial suíça do HSBC. Os dados eram conhecidos apenas pela justiça e algumas administrações fiscais, mas alguns elementos foram vazados para a imprensa.

O jornal Le Monde teve acesso aos dados bancários de mais de 100.000 clientes e passou a informação ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na sigla em inglês), que tem sede em Washington, que compartilhou as informações com quase 50 meios de comunicação internacionais.

Os dados, analisados por 154 repórteres de 47 países, correspondem ao período que vai de 2005 a 2007. Bilhões teriam transitado por estas contas de Genebra, dissimuladas, entre outras, por estruturas offshore no Panamá e nas Ilhas Virgens britânicas.

Apenas entre 9 de novembro de 2006 e 31 de março de 2007, 180,6 bilhões de dólares teriam transitado por estas contas em Genebra.

Nesta segunda-feira, a filial suíça do banco britânico HSBC afirmou que" mudou após as falhas constatadas em 2007", segundo um comunicado enviado à AFP.

O HSBC Suíça "realizou uma transformação radical em 2008 para impedir que seus serviços sejam utilizados com o objetivo de fraudar o fisco ou lavar dinheiro sujo", afirma no comunicado o diretor geral da filial, Franco Morra.

Na Bélgica, o juiz, que indiciou em novembro o HSBC Private por fraude fiscal e lavagem de dinheiro, disse que chegou o momento de o banco "colaborar", e que estuda "emitir ordens de captura internacional" contra seus dirigentes.

De acordo com o banco, "a nova direção realizou uma análise profunda dos negócios, o que inclui o fechamento de contas de clientes que não respondiam aos elevados parâmetros do banco, assim como a aplicação de um sistema de controle interno muito exigente".

"HSBC Suíça não está interessado em ter relações comerciais com clientes ou clientes potenciais que não respondem a nossas exigências contra a criminalidade financeira", completa o banco.

"As revelações sobre práticas passadas devem recordar que o antigo modelo comercial de banco privado suíço não é mais aceitável", conclui o diretor geral.

Personalidades envolvidas

O caso envolve muitas personalidades de todo o mundo, segundo o ICIJ.

No caso da Venezuela, o ICIJ aponta como principal envolvido Alejandro Andrade, ex-segurança de Hugo Chávez, que foi presidente da Secretaria do Tesouro entre 2007 e 2010 e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico da Venezuela (Bandes).

O Brasil aparece como o nono país da lista, com sete bilhões de dólares nas contas no período em questão. Segundo os arquivos, 8.667 clientes tinham algum vínculo com o Brasil, sendo 55% com a nacionalidade brasileira.

A lista também inclui clientes da Argentina, Uruguai e Equador, como o empresário Álvaro Noboa, que foi candidato à presidência equatoriana.

Entre outros nomes mencionados pela imprensa figuram o rei Mohamed VI de Marrocos e o rei Abdullah II da Jordânia, personalidades da moda como a modelo Elle McPherson e a estilista Diane von Fürstenberg, a atriz Joan Collins, o piloto de motos italiano Valentino Rossi, o piloto espanhol de Fórmula 1 Fernando Alonso, o ator americano John Malkovich e o humorista francês Gad Elmaleh.

Na França, o jornal parisiense cita Jacques Dessange, fundador de uma rede de salões de beleza, titular de uma conta na filial suíça do HSBC que chegou a ter até 1,6 milhão de euros entre 2006 e 2007, segundo os arquivos consultados.

Tanto Elmaleh como Dessange pagaram multas para regularizar a situação, segundo o jornal.

O jornal suíço Le Temps, uma das publicações associadas à investigação, destaca nomes de personalidades expostas politicamente, como Rami Majluf, primo do presidente sírio Bashar al-Assad.

Le Temps também cita o ex-ministro haitiano Frantz Merceron e o ex-ministro egípcio da Indústria e Comércio Rashid Mohamed Rashid, condenado a cinco anos de prisão em junho de 2011 por abuso de bens sociais procedentes de recursos para o desenvolvimento do país.

"O HSBC Private Bank (Suíça) continuou oferecendo serviços a clientes que haviam sido citados desfavoravelmente pela Nações Unidas, em documentos legais e na imprensa por seus vínculos com o tráfico de armas de guerra, diamantes ou corrupção", denuncia o ICIJ.

O sigilo bancário na Suíça foi reduzido consideravelmente e a pressão de vários governos aumentou sobre instituições bancárias para tentar impedir a fraude fiscal.

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