Guerra do delivery: disputa entre iFood e novas concorrentes vai parar na Justiça (iFood/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 05h55.
Na guerra do delivery, a disputa vai além dos restaurantes e clientes. Após anunciarem investimentos bilionários no Brasil, o líder de mercado iFood e as chinesas 99Food, da Didi, e Keeta, da Meituan, estão travando uma briga na Justiça e até viraram caso de polícia.
Em Santos, a 3ª Delegacia da Polícia Civil abriu um inquérito após a Keeta, braço internacional do maior delivery do mundo, denunciar tentativas de espionagem em restaurantes parceiros.
A empresa iniciou sua operação na Baixada Santista no fim de outubro e afirma ter identificado indivíduos se passando por funcionários, usando crachás falsos e tentando acessar informações sensíveis — como taxa de comissão, métodos de pagamento, preferências de clientes e roteiros de treinamento.
O episódio foi registrado por câmeras de segurança e é agora peça central da investigação. Segundo a Keeta, ao menos oito estabelecimentos foram alvo da ação.
A guerra do delivery acontece em um dos mercados mais promissores do país. Segundo a Statista, o setor deve movimentar US$ 21 bilhões em 2025 e chegar a US$ 27 bilhões até 2029.
O iFood lidera com 55 milhões de usuários e 120 milhões de pedidos por mês. Para manter o topo, anunciou um investimento de R$ 17 bilhões nos próximos anos.
Do outro lado, a Meituan promete R$ 5,6 bilhões para expandir a Keeta no Brasil.
Já a 99, após voltar para o mercado de delivery brasileiro, também anunciou investimentos bilionários e campanhas agressivas e isenção de taxas para atrair restaurantes e usuários.
A 99Food, controlada pela Didi, abriu uma investigação interna para apurar o furto de notebooks corporativos com informações confidenciais. Os dispositivos pertenceriam a funcionários estratégicos, com acesso a cronogramas de expansão, contratos com redes de restaurantes e modelos de precificação.
O caso lembra denúncias feitas pelo iFood à Polícia Civil de São Paulo. A empresa afirma que funcionários foram contatados por meio do Linkedin para reuniões pagas com supostas consultorias asiáticas.
Em uma dessas reuniões, segundo o inquérito, o interlocutor fazia perguntas detalhadas sobre vendas, logística e concorrência — incluindo a chegada da 99Food e da própria Meituan ao Brasil.
Um ex-funcionário do iFood chegou a ser alvo de mandado de busca e apreensão. Segundo a polícia, ele teria transferido dados de mais de 4.000 restaurantes para dispositivos pessoais. Prints e áudios obtidos em grupos de mensagem internos reforçam a suspeita de que o vazamento foi incentivado por pagamento em dinheiro.
99Food x Keeta: aplicativos de delivery disputam contratos de exclusividade (99Food/Keeta/Divulgação)
A briga judicial entre Keeta e 99Food começou com um tema recorrente no setor: exclusividade com restaurantes.
Em outubro, a Justiça de São Paulo proibiu a 99Food de firmar cláusulas contratuais que impedissem redes parceiras de operar com a Keeta. A Meituan acusa a rival de usar contratos com bônus milionários (até R$ 900 milhões em antecipações, segundo a petição) para bloquear sua entrada no mercado.
Mais recentemente, restaurantes que pediram a quebra de exclusividade com o iFood relataram queda abrupta nas vendas. Eles alegam que foram “apagados” do app ou perderam relevância nas buscas. O iFood nega qualquer irregularidade.
Nem as mochilas dos entregadores escaparam. Nos últimos meses, os aplicativos passaram a disputar espaço nas ruas por meio das famosas bags, as mochilas térmicas que funcionam como outdoors ambulantes.
Segundo entregadores, equipes do iFood estariam oferecendo cupons e brindes para quem trocasse mochilas da concorrência. O aplicativo também inseriu no campo de avaliação do pedido uma pergunta sobre qual bag o entregador usava.
Enquanto isso, a 99 investe em eventos com influenciadores e pacotes de incentivo (como R$ 250 a cada 20 corridas). Já a Keeta aposta na inovação: anunciou a distribuição de capacetes inteligentes para entregadores da Baixada Santista.