Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 18h25.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 19h58.
Ibovespa hoje: após cair mais de 2% no início do dia, o principal índice de ações da B3 arrefeceu a queda no pregão desta quinta-feira, 24, acompanhando o exterior. O Ibovespa fechou o dia em queda de 0,37%, aos 111.591 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a recuar para o patamar dos 109 mil pontos.
O dia começou com forte tensão após os primeiros ataques russos sobre a Ucrânia. Porém, os mercados mundiais passaram a minimizar as perdas no final da tarde após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reforçar que os EUA não enviarão tropas à Ucrânia para socorrer o país após o início dos primeiros ataques russos.
“Ao que tudo indica não veremos uma escalada no conflito europeu, mas sem dúvida é cedo para afirmar. Parece que os EUA irão abandonar os ucranianos aos russos e não engajar militarmente na região”, afirmou, em nota, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
Biden afirmou ainda que as tropas americanas enviadas nas últimas semanas à Europa são destinadas a defender os aliados da Otan, aliança militar criada após a Segunda Guerra. O conflito entre Rússia e Ucrânia, a propósito, foi intensificado após a Rússia exigir garantias de que Ucrânia não seria aceita na Otan e ter seu pedido rejeitado pelos EUA, pela Otan e pelo governo ucraniano.
A fala de Biden ajudou também a minimizar a pressão sobre o câmbio. Ainda assim, o dólar comercial disparou 2,02%, a R$ 5,104, e registrou a maior alta percentual diária em mais de cinco meses. Esta foi a maior valorização desde o rali de 2,84% de 8 de setembro do ano passado.
Na máxima do dia, o dólar chegou a disparar 3,23%, a R$ 5,165. Na mínima, subiu 0,62%, para R$ 5,0342. Vale lembrar que, na véspera, a cotação havia caído ao patamar dos R$ 5 pela primeira vez desde junho de 2021.
Nas bolsas do exterior, a fala de Biden ajudou a aliviar as tensões no mercado americano. Já as bolsas europeias, que fecharam mais cedo, registraram fortes perdas.
O confronto, no entanto, deve continuar no radar dos mercados. Como efeito macroeconômico do início da disputa bélica no Leste Europeu, Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, prevê maior pressão sobre a inflação de transporte. O economista, porém, não descarta a possibilidade de o mercado brasileiro se beneficiar do cenário. "Os ativos brasileiros têm sido um hedge contra a inflação, em especial as commodities", disse.
Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, também vê o mercado doméstico mais bem preparado para enfrentar a crise. "O Brasil é um substituto da Rússia na busca por empresas de commodities. O fluxo estrangeiro para a B3 segue firme. O Brasil pode ser beneficiado", afirmou.
A virada parcial nas bolsas de valores afetou também as commodities, que continuaram subindo ainda que em ritmo mais brando. Mais cedo, os temores sobre redução da oferta por possíveis sanções aos produtos russos levou o petróleo a disparar mais de 7%, sendo cotado acima de US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014.
No início do pregão, as ações do setor estavam entre as únicas negociadas em alta no mercado brasileiro, mas acabaram perdendo força ao longo do dia. A 3R (RRRP3), que chegou a disparar mais de 4%, fechou o dia em alta de 1,52%.
A Petrobras (PETR3/PETR4), por outro lado, ficou firme em terreno negativo, após o resultado do quarto trimestre ter ficado abaixo do esperado por parte do mercado. A empresa, no entanto, apresentou a proposta de aumentar em mais R$ 37 bilhões adicionais de dividendos, totalizando R$ 100 bilhões em dividendos para o exercício de 2021. O dividendo por ação ficou em R$ 7,77, considerando os pagamentos antecipados no ano passado.
"Embora acreditemos que os resultados do quarto trimestre foram abaixo da média, os investidores estão muito mais focados na frequência da distribuição de dividendos da empresa", afirmam analistas do BTG Pactual em relatório.
O maior destaque da bolsa foi — pelo segundo pregão consecutivo — os papéis da SulAmérica (SULA11), que saltaram mais de 15%, refletindo o acordo para que suas ações sejam incorporadas pela Rede D'Or (RDOR3) por meio de troca de ações. A relação de troca considera mais de 40% de prêmio sobre as units da SulAmérica, segundo fato relevante.
A operação foi anunciada pelo mercado na última noite, mas a reação teve início antes mesmo da divulgação oficial. Minutos antes do fim do último pregão, as units da companhia passaram por uma repentina valorização, fechando com 25% de alta. A operação ainda precisa ser aprovada em assembleias com acionistas e receber o aval de órgãos reguladores de mercado.
"Para a SulAmérica, que em nossa visão estava sendo negociada a um valuation muito barato, a operação com uma rede renomada como a Rede D'Or dará mais atratividade aos seus planos de saúde, além de potencialmente reduzir sua sinistralidade. Já para Rede D'Or, além de se defender do crescimento das operadoras verticalizadas, que vêm aumentando seu market share em termos de beneficiários, o negócio dá acesso a uma base 2,3 milhões de beneficiários e transforma a companhia em um ecossistema completo de saúde", avaliam analistas da Ativa em nota.