Negócios

HSM Expo: O machismo atrapalha o lucro das empresas

Em painel sobre igualdade de gênero, executivos falam de como os negócios poderiam prosperar se as companhias investissem no tema

Diversidade e lucro: empresas que investem no tema têm 30% de melhora do negócio (ThinkStock/Thinkstock)

Diversidade e lucro: empresas que investem no tema têm 30% de melhora do negócio (ThinkStock/Thinkstock)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 8 de novembro de 2016 às 16h01.

Última atualização em 8 de novembro de 2016 às 17h15.

São Paulo - No Brasil, apenas 14% dos homens se acham machistas, ainda que 93% da população do país acredite viver em um país machista.

“O que isso significa? Que a maioria acha que os outros são machistas, mas não consegue se ver como um”, comentou Renato Meirelles, da Locomotiva Estratégica, durante o debate Igualdade de Gênero no ambiente de Negócios, no HSM Expo 2016, em São Paulo.

Segundo dados, 74,5% é a média de defasagem de salários entre homens e mulheres no Brasil hoje, ainda que brasileiras formem hoje em exército de 105 milhões de consumidoras.

Se o salário se equiparasse teríamos R$ 460 milhões a mais na economia – e com um volume promissor crescente. A renda delas cresceu 33% nos últimos 20 anos, enquanto que a renda dos homens, no mesmo período, tenha caído 131%.

Por que então a diversidade de gênero e raça nas empresas ainda é um debate e não uma realidade?

“Porque muitos ainda preferem se esconder na resposta fácil e falsa da meritocracia para explicar a falta de mulheres e negros nos negócios”, explicou Renato, ao afirmar que o modelo só funcionaria se todos tivessem exatamente as mesmas oportunidades no país.

Como não tem, muitas companhias deixam de pensar diferente por não ter pessoas diferentes trabalhando nelas. Resultado: mulheres não se sentem representadas nas marcas.

“O machismo atrapalha os negócios”, disse Meirelles. “Diversidade é só questão de ética, mas questão de lucro”.

Papel questionado

Para as mulheres negras, a dificuldade em se sentir representada nas empresas, nos produtos que compram, é ainda maior, comentou a empresária Alexandra Baldeh Loras.

“Faço parte da elite e sofro preconceito todos os dias a começar pelas lojas de brinquedos que não contam com quase nenhuma boneca negra nas gôndolas”, disse ela.

Na opinião dela, não só as companhias, mas as pessoas precisam questionar seu papel para a melhoria da sociedade, sendo mentores de jovens negros ou até pedindo mais atores negros em telenovelas.

“Os negros hoje consomem 1,5 trilhão de reais por ano no Brasil, mas nunca se viu uma família negra promovendo um comercial de margarina, por que?”, questionou ela.

Arthur Grybaum, presidente do Boticário, também participou do painel e comentou sobre as estratégias da empresa para a busca de consumidoras diversas.

Questionado se a ideia de contratar mulheres por conta do risco de gravidez ainda é um empecilho, ele foi categórico.

“Não. Temos de deixar essa mentalidade para trás de uma vez por todas”, disse ele. “Uma executiva que teve um filho não perdeu a capacidade de pensar por ser mãe, pelo contrário, ela tem ainda mais sensibilidade agora”.

Andrea Menezes, CEO do Standard Bank no Brasil, empresas que contratam mulheres acabam tendo uma melhora geral dos indicadores da companhia em 30%.

Ela também falou sobre o quanto teve de enfrentar de dificuldades para chegar onde chegou.

“Os homens são criados para impor suas opiniões”, disse ela. “O fato deu sempre expressar minhas ideias sem medo, e apresentar soluções, fez a diferença na minha carreira”.

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