Em sentido horário: as criadoras empresárias Rafa Xavier, Gisleine Bezerra, Denise Venturini, Mara Luquet e Myrian Clark (YOUTUBE/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 29 de setembro de 2023 às 15h25.
Última atualização em 29 de setembro de 2023 às 15h29.
O empreendedorismo feminino foi e vem sendo força de impulsionamento da economia do país. Segundo pesquisa do Sebrae realizada no ano passado, 34% das pessoas que empreendem hoje no Brasil são mulheres. São 10,3 milhões de empresárias, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. Nove em cada dez delas tocam seus negócios sozinhas. Segundo dados da pesquisa mais recente do IBGE, mulheres são responsáveis pela renda de quase metade das famílias brasileiras.
Entre as tantas formas de começar e divulgar negócios fundados e gerenciados por mulheres, o YouTube tem se tornado o espaço onde elas podem encontrar seu caminho. Tendo contribuído com mais de R$ 4,55 bilhões para a economia brasileira em 2022, e gerando o equivalente a mais de 140 mil empregos em tempo integral no mesmo período de acordo com pesquisa realizada pela Oxford Economics para o mais recente Relatório de Impacto do YouTube, a plataforma de vídeos mais popular do mundo e preferida pelos brasileiros tem gerado oportunidades únicas para quem deseja empreender.
“Empreender é acreditar no seu trabalho, em como ele pode impactar positivamente a sociedade e, claro, gerar renda. É uma forma de desenvolver independência e inspirar mais mulheres a seguir seus sonhos”, afirma Patrícia Muratori, diretora do YouTube para a América Latina.
“O YouTube favorece quem quer fazer seu negócio chegar ainda mais longe. A criação de conteúdo na plataforma contribui com o sucesso de empreendedoras de diversas maneiras: por meio de renda direta na plataforma, monetização de vídeos, exposição da empresa e de produtos alcançando novos públicos, fechamento de patrocínios, participação em eventos e outros”, complementa Patrícia.
Segundo dados da consultoria independente Oxford Economics, a percepção dos criadores e criadoras reforça essa ideia. Das pequenas e médias empresas que usam o YouTube, 81% concordam que a plataforma é essencial para o crescimento de seus negócios e 72% delas afirmam que é essencial para ajudá-las a aumentar sua receita. A pesquisa também aponta a importância da plataforma para as empreendedoras brasileiras que criam e divulgam o seu trabalho nela: 91% das criadoras de conteúdo concordam que o YouTube as ajuda a compartilhar suas paixões e ideias.
A seguir, apresentamos cinco histórias que demonstram como empreendedoras brasileiras geraram negócios de sucesso, em diferentes áreas, através do YouTube. Mais dados, histórias e detalhes sobre a importância da plataforma na economia brasileira podem ser vistos no Relatório de Impacto 2022 do YouTube Brasil.
Uma das empreendedoras que encontraram seu caminho no YouTube foi a mineira Rafaela Xavier, de 26 anos. Ela não apenas criou negócios após o sucesso de seu canal do YouTube, Rafa Xavier Trancista, como também segue contribuindo para a profissionalização e empoderamento de outras tantas mulheres pretas.
Rafa era estudante de história na Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte) em 2018, quando decidiu fazer tranças afro na sala de casa, como forma de complementar a renda. Logo percebeu ter em mãos algo que mudava a vida das pessoas: "A troca que eu tinha com as clientes era muito intensa, muito forte”, afirma. “Via muitas pessoas pretas se descobrindo pretas por causa da trança. Não tinha dimensão do que poderia ser esse universo, era aquela menina do bairro que estava dando um jeito de ganhar uma grana complementar enquanto estudava. Hoje já conseguimos falar bastante sobre estética e identidade negras, mas ali as coisas estavam começando a acender, as marcas estavam só começando a olhar para isso."
Com esse senso de missão, Rafa decidiu abrir um canal para espalhar as técnicas e a cultura em torno das tranças, e isso tornaria o que começou como um bico universitário em um empreendimento de várias frentes. Na UFMG, Rafa conheceu um grupo de empreendedoras negras que tinham um coworking na Savassi, bairro nobre de Belo Horizonte. "Elas estavam nesse movimento de ocupar aquele ambiente embranquecido, onde obviamente nunca havia tido um salão afro, porque não é o perfil das pessoas que moram naquela região. Meu conteúdo estava circulando na minha pequena bolha e àquela altura eu tinha clientes de várias localidades, ficou difícil atender todo mundo no salãozinho da minha casa e ainda ir para a faculdade todo dia. Entrei de cabeça nesse universo do empreendedorismo negro, onde uma fomentava a outra.”
O grupo de empreendedoras acabaria por estampar reportagens em várias revistas. Rafa passou a ser convidada para dar palestras sobre identidade capilar. Com o sucesso desse empreendimento, e vendo mais oportunidade de atender a uma clientela de mulheres negras que não se sentiam bem-recebidas nos ambientes brancos de outras instituições de beleza, em 2020, fundou o salão Casa Nagô e, em 2021, o spa Maalum.
Reconhecida, Rafa também foi contemplada com o Fundo Vozes Negras do YouTube em 2022, programa global de aceleração de produtores de conteúdo com impacto na plataforma, e reinvestiu no canal, no que ela chama de “divisor de águas”. Ela afirma que o fundo permitiu a ela contratar uma equipe fixa e aprimorar o conteúdo, e fez uso da mentoria recebida para o gerenciamento de canal, produção de conteúdo e marketing de influência.
“O grande impacto é o empoderamento financeiro. Quando a gente pensa que está fomentando uma educação que impacta diretamente a forma como o dinheiro circula, principalmente em áreas periféricas, entre mulheres desempregadas, mães solo, a gente consegue perceber esse empoderamento. O mercado está sempre expulsando essas mulheres. Mas resgatamos sua autoestima, ressignificando uma estética que é histórica e ancestral. Conheço centenas que saíram do nada e hoje, a partir de vídeos e lives que acompanham, conseguem girar até R$ 8 mil por mês trançando, é um impacto muito real”.
A professora de matemática Gisleine Correia Bezerra, de 39 anos, a Gis do canal Gis com Giz, ministrava aulas em uma escola privada em Londrina quando a pandemia de covid-19 iniciou. “Fomos obrigados do dia para noite a virar a chavinha e dar um jeito de dar aulas para os alunos que estavam em casa”, lembra. “A forma que eu achei para resolver isso foi gravar as aulas e colocar no YouTube”.
Na plataforma, suas aulas foram disponibilizadas não apenas a seus alunos, mas ao público em geral. “Deixei aberto no YouTube, pensando: ‘Tá, vai que ajude outra pessoa também’”, lembra. “Deixei com essa ideia, e aí foram surgindo alunos de outros lugares do Brasil perguntando por outros conteúdos.”
Gis passou a atender aos pedidos e o canal se tornou um hit inesperado. Segundo ela, em quatro meses, o canal foi qualificado para a monetização e ela passou a dedicar mais do seu tempo ao projeto. “Eu trabalhava os dois períodos: manhã e tarde; aí, de noite, até o meio da madrugada, a gente gravava e editava.”
Então ela já começou a fazer planos para a profissionalização. “Pensava: ‘No dia que eu conseguir ganhar no canal o tanto que eu ganho na sala de aula, eu saio da sala de aula’”, recorda. Esse dia chegaria, mas Gis diz que ficou mais alguns meses além disso, comprometida com os alunos, ela desejava fechar o último semestre. Um ano e meio após a fundação do canal, ela deixaria seu emprego na escola para se dedicar exclusivamente ao Gis com Giz.
O canal Gis com Giz tem quase 2,9 milhões de seguidores e o negócio hoje possui um CNPJ, que emprega, além de Gis, mais três pessoas. O canal também foi um dos vencedores do Prêmio YouTube Educação Digital, lançado neste ano e que premiou criadores que dividem seu conhecimento no YouTube e que, a partir do universo digital, constroem novas possibilidades de saber para o aprendizado brasileiro.
Gis tem planos para expansão: ela já buscou diversificar com produtos e publicidade, e agora está investindo na criação e produção de infoprodutos. “Eu não teria chegado onde cheguei de jeito nenhum sem o YouTube”, diz a empresária. “Falo que o YouTube é o meu queridinho! É muito gratificante quando eu paro e olho o que eu era há três anos, a professora da sala de aula, e o que eu me tornei hoje.”
Dona do canal Mabô e Fifi, que reúne vídeos musicais para crianças protagonizados por um cachorro e uma ararajuba, ave ameaçada de extinção, Denise Venturini, de 43 anos, já trabalhava como atriz e cantora aos 16 anos. Paulista de São Bernardo do Campo, formou-se em educação artística na Unesp e passou a atuar em projetos de musicalização em escolas. Em 2014, ela teve a ideia de estender sua vocação para o YouTube. A primeira iniciativa na plataforma foi o canal Vento de Inventar, jogos e brincadeiras musicais, então em parceria com Livia Golden. "Não vingou, mas tomei gosto pela coisa", diz Denise. “Foi o canal que abriu portas para a gente.”
Após um período atuando como ilustradora, em 2017, ela uniu música e ilustração e postou o primeiro vídeo do canal Mabô e Fifi: um videoclipe animado da canção popular Roda Pião, que logo alcançou 70 mil visualizações (e hoje está em mais de 450 mil). Mesmo com o sucesso do videoclipe, o canal ficou em standby.
Denise voltou à plataforma em 2020, durante a pandemia. "No meio da crise sanitária que deu uma rasteira em todos, eu não tinha mais trabalho, não tinha como fazer apresentações ao vivo, contação de histórias, shows musicais. Aí comecei a pegar trabalhos de animação e motion para vídeos institucionais, e resolvi investir no Mabô e Fifi."
Desde novembro de 2021, quando a monetização do canal passou a gerar receita frequente, ela vive 100% do YouTube. Hoje, o canal Mabô e Fifi soma 226 mil inscritos e licencia parte dos conteúdos para o canal de TV por assinatura. Recentemente, Denise começou a comercializar um kit digital para festas de aniversário com o tema Mabô e Fifi. Também acaba de lançar dois livros baseados em canções próprias, ambos com QR codes que levam aos vídeos do canal no YouTube. E está negociando o licenciamento dos conteúdos da plataforma com outros canais de TV pagos.
“Desde o começo, a intenção era disponibilizar os vídeos no YouTube tanto para dar acesso fácil e gratuito aos pais e crianças quanto para ter uma visibilidade e possíveis parcerias com canais de TV”, afirma Denise. “O YouTube teve e tem um papel fundamental no projeto. Sem essa plataforma, provavelmente Mabô e Fifi não existiria, pois eu não tinha nenhum contato no mundo da produção audiovisual que pudesse viabilizar a distribuição do conteúdo.”
Denise ainda trabalha praticamente sozinha – além de eventuais colaborações artísticas, ela conta com a parceria de um estúdio de finalização para masterizar os vídeos. "O YouTube é uma vitrine maravilhosa", afirma Denise. "Sou muito grata não só pelo formato que disponibiliza espaço para a gente subir os vídeos, mas pelo programa de parcerias que nenhuma outra rede tem, e que dá a criadores de conteúdo acesso a recursos como suporte individual e várias opções para gerar receita”.
“Quando uma empreendedora cria um canal sólido, com vários vídeos que abordam diversos aspectos do produto ou serviço que ela oferta, ela gera um acervo que fica disponível para seus potenciais clientes. E todo esse conteúdo elaborado aproxima as pessoas, criando também vínculos e possibilidades de negócios", conclui.
Em 2018, a jornalista Mara Luquet deixou um emprego de dez anos na TV Globo rumo ao YouTube. "As pessoas achavam que eu estava louca de pedir demissão da maior rede de TV do país”, lembra.
Sua ideia era lançar um novo conceito de mídia independente. "Na época eu conversava muito com o Antonio Tabet, e vivia dizendo para ele que meu sonho era fazer no jornalismo o que ele tinha feito no humor", ela conta. O cocriador do Porta dos Fundos acabou virando seu sócio no canal de notícias MyNews. Para dividir o comando, ela chamou Myrian Clark, que então estava na BBC e havia trabalhado com Mara no programa do apresentador Jô Soares na Globo.
Mara e Myrian levantaram recursos para produzir o novo projeto. O MyNews foi aberto com três atrações: o Segunda Chamada, trazendo debates políticos, o Economia Genial, com apoio da empresa homônima, e o É Pessoal, entrevistas comandadas por Thais Herédia, também vinda da Globo.
Em 2020, quando a pandemia eclodiu, o canal tinha dezenas de programas no ar e mais de 30 profissionais contratados. "Aí começou um período muito difícil, porque o patrocínio secou”, lembra Mara. “Precisei botar dinheiro pessoal, fiquei zerada, mas tinha assumido um compromisso". Myrian também lembra do período difícil: "Foi preciso enxugar, reorganizar para poder sobreviver".
Mas o MyNews viveria. Por essa época, o canal foi selecionado para o Google Destaques, que ressalta veículos no Brasil pela curadoria e licenciamento de conteúdo em painéis no Google Notícias e no Discover, e também foi selecionado em programas do Google News Initiative (GNI) que buscam apoiar o jornalismo e fomentar um ecossistema de notícias sustentável. "O MyNews se classificou para programas de aceleração que fizeram toda a diferença", diz Mara, referindo-se ao Startups Lab.
“Como uma jornalista sem dinheiro poderia ter um canal de notícias?”, considera Mara, sobre como o YouTube permitiu a existência do canal. “Isso seria impossível no passado. Teria de ter equipamentos caríssimos, concessões… enfim, não haveria qualquer chance. Além disso, os encontros anuais com criadores de todo o planeta nos ajudam a ter acesso a parceiros, insights e conhecer ferramentas como o programa de membros para conseguir aumentar a receita do canal.”
Hoje o MyNews investe em subcanais, como MyNews Vida & Previdência e MyNews Investe. E continua buscando patrocínio para alavancar a programação, com a meta de alcançar 1 milhão de inscritos em 2023.
Mara e Myrian afirmam que o objetivo é continuar independente, não competir com a mídia tradicional. "Queremos complementar o que a mídia tradicional não entrega por diversos motivos", diz Mara. Myrian completa: "Somos nativos do YouTube. Enquanto outros canais de notícias pegam o conteúdo da TV e mandam para a plataforma, nós, que viemos da TV, aprendemos a fazer diferente, e esse é o nosso diferencial."