Repórter
Publicado em 14 de abril de 2025 às 09h40.
Quando Donald Trump reassumiu a presidência dos Estados Unidos, em 2024, uma dúvida pairava sobre o futuro da exploração espacial americana. A Nasa, ainda focada no programa Artemis para levar o homem de volta à Lua, precisava de novos rumos para sobreviver em meio a cortes orçamentários e pressão política.
É nesse cenário que surge Jared Isaacman. Aos 41 anos, o bilionário dono da Shift4 Payments — empresa de processamento de pagamentos avaliada em cerca de 40 bilhões de reais — foi nomeado por Trump para comandar a agência espacial. Com uma trajetória que inclui voos particulares no espaço e parcerias com a SpaceX, Isaacman carrega no currículo conquistas que nenhum outro administrador da Nasa teve até hoje.
A história de Isaacman não poderia ser mais fora da curva. Em setembro de 2024, ele entrou para a história ao realizar a primeira caminhada espacial privada, flutuando por 10 minutos na cápsula Dragon da SpaceX, a mais de 1.400 quilômetros da Terra. Essa conquista, somada à liderança da missão civil Inspiration4 em 2021, consolidou sua imagem como um dos nomes mais ativos da nova corrida espacial privada.
Katy Perry participará de missão espacial nesta segunda com tripulação 100% femininaJared Isaacman posa em frente ao propulsor da SpaceX, em setembro de 2021 (AFP)
Aos 16 anos, Jared Isaacman tomou uma decisão que moldaria toda a sua vida: largou o ensino médio para abrir uma empresa no porão da casa dos pais, em Nova Jersey. Com um cheque de US$ 10 mil que recebeu do avô, montou a operação que mais tarde se transformaria na Shift4 Payments, hoje avaliada em cerca de R$ 40 bilhões e com mais de 2.000 funcionários.
Enquanto fazia fortuna simplificando o mercado de pagamentos online, Isaacman alimentava outra paixão: a aviação. Para aliviar o estresse dos negócios, começou a ter aulas de voo ainda jovem. A dedicação foi além do hobby — em 2009, ele quebrou o recorde mundial de voo mais rápido ao redor do planeta em um jato leve, completando a volta em menos de 62 horas.
Pouco depois, fundou a Draken International, uma empresa que reuniria a maior frota privada de caças militares do mundo, usada para treinar pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos. A Draken seria vendida em 2020 para o fundo Blackstone por um valor estimado na casa dos "nove dígitos".
Tripulantes do Inspiration4 no Complexo 39A., Kennedy Space Center Da esquerda para a direita: Chris Sembroski, Jared Isaacman, Hayley Arceneaux e Sian Proctor (Inspiration4/SpaceX/Divulgação)
Desde os cinco anos, Isaacman dizia que queria ir ao espaço. Mas o sonho precisou esperar. Em 2021, ele finalmente se lançou em órbita ao liderar a missão Inspiration4, o primeiro voo espacial tripulado exclusivamente por civis. Mais do que uma aventura pessoal, o projeto arrecadou cerca de 200 milhões de dólares para um hospital infantil.
Sem parar, Isaacman desenhou com a SpaceX o Programa Polaris — uma série de missões para expandir as capacidades de voos espaciais privados. O ponto alto foi a caminhada espacial em 2024, quando ele e a especialista Sarah Gillis flutuaram fora da cápsula Dragon a uma distância recorde da Terra.
Essas conquistas pavimentaram o caminho para que Isaacman chegasse à liderança da Nasa, mesmo sob críticas de proximidade excessiva com o setor privado. Para seus apoiadores, ele representa uma ponte necessária entre o novo e o tradicional na era da exploração espacial.
Ela foi uma das primeiras funcionárias da SpaceX. Hoje, aos 61, tem fortuna de US$ 1 bilhãoChris Sembroski e Jared Isaacman durante treinamento para missão Inspiration4 (Inspiration4/SpaceX/Divulgação)
À frente da agência, Isaacman enfrenta um ambiente político instável. Ele prometeu manter os planos de retornar à Lua e, ao mesmo tempo, preparar a agência para missões em Marte. No entanto, a ameaça de cortes no orçamento pode forçar escolhas difíceis, como o cancelamento de programas científicos tradicionais.
"Vamos lançar mais telescópios, mais sondas, mais robôs", afirmou Isaacman em sua sabatina no Senado. "A Nasa pode e deve fazer as duas coisas: explorar a Lua e se preparar para Marte", diz.
Além disso, Isaacman prometeu independência em relação a Elon Musk, apesar do histórico de colaboração com a SpaceX. Desde a nomeação, cortou formalmente os laços com o Programa Polaris e afirmou que não mantém contato com Musk.
O bilionário foi bem recebido pela comunidade espacial. Quase 30 astronautas e ex-administradores da Nasa assinaram cartas de apoio à sua nomeação. A expectativa é que seu mandato traga uma Nasa mais integrada ao setor privado, mas também pressionada a provar que consegue equilibrar inovação e missão científica em tempos de vacas magras.