A nova unidade empregou cerca de 350 funcionários diretos, sendo 60% da região (Fabio Rezende /Divulgação)
Repórter
Publicado em 6 de novembro de 2025 às 06h59.
Última atualização em 6 de novembro de 2025 às 14h46.
“Vamos brindar hoje um futuro, e o futuro é a fábrica de Passos,” diz Mauricio Giamellaro, CEO da Heineken Brasil, em coletiva sobre a inauguração da cervejaria em Passos, em Minas Gerais.
Para tirar essa operação do papel, a companhia investiu R$ 2,5 bilhões – maior investimento da companhia no país. Na primeira etapa, a fábrica terá capacidade instalada de 5 milhões de hectolitros/ano e foi desenhada para dobrar esse volume conforme a demanda.
“O Brasil segue como nosso mercado número 1 no mundo para Heineken e Amstel”, afirma Giamellaro. "A nova unidade reforça nossa confiança no país e no crescimento do segmento premium e puro malte”.
A nova unidade já conta com 350 funcionários diretos, sendo 70% da região, e está entre as 5 maiores fábricas da Heineken no Brasil.
“Primeiro escolhemos o estado (Minas Gerais) pela relevância de consumo. Depois buscamos uma região com malha logística eficiente para abastecer não só o estado, mas o Sudeste e parte do Centro-Oeste”, afirma Mauro Homem, VP de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken.
A fábrica de Passos terá como principal foco a produção de Heineken e Amstel, liberando espaço em outras unidades para Eisenbahn (as três marcas completam o portfólio de puro malte do grupo).
O investimento da operação em solo mineiro coroa um ciclo de cerca de R$ 6 bilhões desde 2019 da companhia no Brasil – valor que foi direcionado às unidades de Ponta Grossa (PR), Jacareí (SP), Alagoinhas (BA) e Igarassu (PE) – e agora em Passos (MG).
“Para entregar puro malte em escala, precisamos de espaço, tempo de fermentação e tanques horizontais - uma tecnologia mais cara, mas que define o nosso líquido”, afirma o CEO, que reforça que a nova fábrica inicialmente não irá produzir a Heineken 0.0, mas não descarta essa linha no futuro.
“O processo de fabricação da Heineken 0.0 exige equipamentos específicos de extração de álcool, atualmente localizados em Ponta Grossa e Araquari”, diz Giamellaro.
A nova fábrica de Passos (MG) terá como principal foco a produção de Heineken e Amstel (Fabio Rezende/Divulgação)
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Em 2012, somente 4% do que era vendido de cerveja no Brasil era premium. O mercado acelerou desde então e chegou a 24% neste ano, segundo Giamellaro, que sustenta que o Grupo Heineken lidera o premium e o puro malte no consolidado do ano, e contesta leituras concorrentes.
“Nós criamos o segmento premium no Brasil e hoje lideramos ele”, diz o CEO. “Recentemente, a concorrente misturou embalagens e faixas de preço que descaracterizam a categoria”.
A declaração de Giamellaro faz referência a publicações recentes que apontaram que a Ambev, principal concorrente da Heineken, teria retomado a liderança no segmento ‘premium’ após uma década, ao ganhar participação de mercado com as marcas Spaten, Corona, Stella Artois e Original.
Sem citar números restritos, o executivo reforça que a definição de premium se baseia em índice de preço por categoria/embalagem, e que a Original em lata, nas condições atuais de preço, “não deveria entrar no corte de premium”.
Em nota, a concorrente Ambev se posicionou reforçando que no segmento premium, a companhia conta com marcas como Corona, Stella Artois, Chopp Brahma, Original e Spaten. "As marcas mencionadas pertencem ao segmento premium independentemente do canal de venda ou da embalagem. Esse portfólio vem registrando crescimento consistente nos últimos 18 trimestres e, como reportamos ao mercado, apresentou alta superior a 15% no último trimestre."
Na outra ponta, o CEO da Heineken afirma que o crescimento do Grupo em supermercados ocorreu em ambiente de livre escolha, representando 48,4% de representação de mercado, enquanto bares ainda têm alta relevância de contratos exclusivos com a concorrente - tema que a Heineken, segundo o CEO, leva de forma recorrente ao Cade.
“Nosso apelo é simples: que o consumidor possa escolher o que beber no bar”, afirma o CEO. “Queremos competir na gôndola e no bar com liberdade de escolha. O que não dá é bloquear acesso com contratos de exclusividade”.
Sobre os contratos de exclusividade a Ambev, em nota, afirma que é "uma prática comum no mercado e que segue cumprindo integralmente o acordo com o Cade em 2023, que é auditado periodicamente por uma empresa independente."
A nova fábrica, que tem uma área equivalente a 140 campos de futebol e funcionará usando 100% de energia renovável, também já está trazendo mudanças na região, segundo Homem. Além dos empregos diretos e do apoio da prefeitura com infraestrutura, incluindo melhoria das estradas e acesso direto às rodovias, a companhia firmou uma parceria com o com Senai local para qualificação da mão de obra e formação de aprendizes.
“Passos nasce com o que há de melhor em tecnologia, eficiência de água e energia, e um plano social estruturado para o entorno”, afirma o VP de Sustentabilidade do Grupo Heineken.
A companhia planeja levar a experiência Heineken Inside Star para Passos — espaço de visitação inspirado nos centros de Jacareí e Ponta Grossa — e apoiar a Serra da Canastra como polo turístico. Bares locais recebem investimentos em infraestrutura, e um HNK Lounge de rua está em implantação para ser ponto icônico na cidade.
A receita da Heineken, segundo o CEO, nunca mudou, "É a mesma há mais de um século", afirma. A levedura tipo A é cultivada em Amsterdã e enviada às fábricas. Todo lote produzido no Brasil é analisado e aprovado fisicamente na Holanda antes de ir ao mercado.
“Nem o CEO global aprova o lote local. O padrão é um só no mundo”, diz Giamellaro, que reforça que o lote de Passos já foi aprovado nesta terça-feira, 4, e já atenderá à alta sazonal de fim de ano e do verão.
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Todo lote da Heineken produzido no Brasil é analisado e aprovado fisicamente na Holanda antes de ir ao mercado, segundo o CEO (Fabio Rezende /Divulgação)
O ano de 2025 foi “desafiador” para a categoria por conta do clima, conta o CEO.
“Para 2026, enxergamos um cenário positivo para o setor, com mais feriados, calor e Copa do Mundo”.
A expectativa também cresce com a Heineken 0.0, que continua crescendo com força dentro da estratégia de consumo responsável.
“Preferimos oito long necks para oito pessoas a oito para uma, e o Heineken 0.0 é parte dessa jornada”, diz Giamellaro.
Para o CEO, quando falam em ‘brindar o futuro’, não é apenas sobre abrir uma nova fábrica.
“A nova fábrica simboliza um novo capítulo para a Heineken no Brasil, um futuro de mais qualidade, mais sustentabilidade e mais liberdade de escolha para o consumidor”.
Fundada em 1864, em Amsterdã (Holanda), pela família Heineken, a empresa transformou uma pequena cervejaria local em um conglomerado com presença em mais de 190 países e um portfólio de mais de 300 marcas, incluindo Heineken, Amstel, Tiger, Sol, Edelweiss — e, no Brasil, Eisenbahn e Devassa (depois que a empresa comprou a Brasil Kirin em fevereiro de 2017).
O grupo possui cerca de 160 fábricas em todos os continentes e está entre as três maiores cervejarias do planeta, competindo diretamente com a Ambev (Brasil) e Carlsberg (da Dinamarca).
A Heineken chegou oficialmente no Brasil em 2010, ao adquirir a divisão de cervejas da mexicana FEMSA, responsável por marcas como Kaiser, Sol, Bavaria e Xingu. A compra marcou a entrada oficial da companhia como fabricante, garantindo sua primeira base produtiva e de distribuição no país, em Ponta Grossa, no Paraná. Em 2017, a companhia ampliou sua presença com a aquisição da Brasil Kirin (antiga Schincariol), então controlada pelo grupo japonês Kirin Holdings. Com o negócio, a empresa incorporou marcas nacionais como Schin, Devassa. Hoje, o Grupo Heineken soma 15 cervejarias no Brasil e mais de 13 mil funcionários.
No último ano, a receita global da companhia chegou a € 35,9 bilhões, com lucro líquido de € 978 milhões. Os resultados específicos do Brasil não foram divulgados pela empresa.
Veja também: entrevista exclusiva de Mauricio Giamellaro, CEO da Heineken Brasil, ao podcast "De frente com CEO", da EXAME.