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Heineken inaugura fábrica de R$ 2,5 bi em MG e dobra aposta no puro malte

Além da nova cervejaria, que tem uma área equivalente a 140 campos de futebol, o presidente Maurício Giamellaro fala sobre a ‘guerra’ do puro malte, COP30 e os impactos sociais na região mineira

A nova unidade empregou cerca de 350 funcionários diretos, sendo 60% da região (Fabio Rezende /Divulgação)

A nova unidade empregou cerca de 350 funcionários diretos, sendo 60% da região (Fabio Rezende /Divulgação)

Publicado em 6 de novembro de 2025 às 06h59.

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“Vamos brindar hoje um futuro, e o futuro é a fábrica de Passos,” diz Mauricio Giamellaro, CEO da Heineken Brasil, em coletiva sobre a inauguração da cervejaria em Passos, em Minas Gerais.

Para tirar essa operação do papel, a companhia investiu R$ 2,5 bilhões – maior investimento da companhia no país. Na primeira etapa, a fábrica terá capacidade instalada de 5 milhões de hectolitros/ano e foi desenhada para dobrar esse volume conforme a demanda.

“O Brasil segue como nosso mercado número 1 no mundo para Heineken e Amstel”, afirma Giamellaro. "A nova unidade reforça nossa confiança no país e no crescimento do segmento premium e puro malte”.

A nova unidade já conta com 350 funcionários diretos, sendo 70% da região, e está entre as 5 maiores fábricas da Heineken no Brasil.

“Primeiro escolhemos o estado (Minas Gerais) pela relevância de consumo. Depois buscamos uma região com malha logística eficiente para abastecer não só o estado, mas o Sudeste e parte do Centro-Oeste”, afirma Mauro Homem, VP de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken.

A estratégia de crescimento com a nova fábrica

A fábrica de Passos terá como principal foco a produção de Heineken e Amstel, liberando espaço em outras unidades para Eisenbahn (as três marcas completam o portfólio de puro malte do grupo).

O investimento da operação em solo mineiro coroa um ciclo de cerca de R$ 6 bilhões desde 2019 da companhia no Brasil – valor que foi direcionado às unidades de Ponta Grossa (PR), Jacareí (SP), Alagoinhas (BA) e Igarassu (PE) – e agora em Passos (MG).

“Para entregar puro malte em escala, precisamos de espaço, tempo de fermentação e tanques horizontais - uma tecnologia mais cara, mas que define o nosso líquido”, afirma o CEO, que reforça que a nova fábrica inicialmente não irá produzir a Heineken 0.0, mas não descarta essa linha no futuro.

“O processo de fabricação da Heineken 0.0 exige equipamentos específicos de extração de álcool, atualmente localizados em Ponta Grossa e Araquari”, diz Giamellaro.

A nova fábrica de Passos (MG) terá como principal foco a produção de Heineken e Amstel (Fabio Rezende/Divulgação)

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A ‘guerra’ da cerveja premium no Brasil

Em 2012, somente 4% do que era vendido de cerveja no Brasil era premium. O mercado acelerou desde então e chegou a 24% neste ano, segundo Giamellaro, que sustenta que o Grupo Heineken lidera o premium e o puro malte no consolidado do ano, e contesta leituras concorrentes.

“Nós criamos o segmento premium no Brasil e hoje lideramos ele”, diz o CEO. “Recentemente, a concorrente misturou embalagens e faixas de preço que descaracterizam a categoria”.

A declaração de Giamellaro faz referência a publicações recentes que apontaram que a Ambev, principal concorrente da Heineken, teria retomado a liderança no segmento ‘premium’ após uma década, ao ganhar participação de mercado com as marcas Spaten, Corona, Stella Artois e Original.

Sem citar números restritos, o executivo reforça que a definição de premium se baseia em índice de preço por categoria/embalagem, e que a Original em lata, nas condições atuais de preço, “não deveria entrar no corte de premium”.

Na outra ponta, o CEO afirma que o crescimento do Grupo Heineken em supermercados ocorreu em ambiente de livre escolha, representando 48,4% de representação de mercado, enquanto bares ainda têm alta relevância de contratos exclusivos com a concorrente - tema que a Heineken, segundo o CEO, leva de forma recorrente ao Cade.

“Nosso apelo é simples: que o consumidor possa escolher o que beber no bar”, afirma o CEO. “Queremos competir na gôndola e no bar com liberdade de escolha. O que não dá é bloquear acesso com contratos de exclusividade”.

O impacto social da nova fábrica

A nova fábrica, que tem uma área equivalente a 140 campos de futebol e funcionará usando 100% de energia renovável, também já está trazendo mudanças na região, segundo Homem. Além dos empregos diretos e do apoio da prefeitura com infraestrutura, incluindo melhoria das estradas e acesso direto às rodovias, a companhia firmou uma parceria com o com Senai local para qualificação da mão de obra e formação de aprendizes.

“Passos nasce com o que há de melhor em tecnologia, eficiência de água e energia, e um plano social estruturado para o entorno”, afirma o VP de Sustentabilidade do Grupo Heineken.

A companhia planeja levar a experiência Heineken Inside Star para Passos — espaço de visitação inspirado nos centros de Jacareí e Ponta Grossa — e apoiar a Serra da Canastra como polo turístico. Bares locais recebem investimentos em infraestrutura, e um HNK Lounge de rua está em implantação para ser ponto icônico na cidade.

“Nunca mudamos a receita”

A receita da Heineken, segundo o CEO, nunca mudou, "É a mesma há mais de um século", afirma. A levedura tipo A é cultivada em Amsterdã e enviada às fábricas. Todo lote produzido no Brasil é analisado e aprovado fisicamente na Holanda antes de ir ao mercado.

“Nem o CEO global aprova o lote local. O padrão é um só no mundo”, diz Giamellaro, que reforça que o lote de Passos já foi aprovado nesta terça-feira, 4, e já atenderá à alta sazonal de fim de ano e do verão.

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Todo lote da Heineken produzido no Brasil é analisado e aprovado fisicamente na Holanda antes de ir ao mercado, segundo o CEO (Fabio Rezende /Divulgação)

2026 no radar: clima, calendário e consumo responsável

O ano de 2025 foi “desafiador” para a categoria por conta do clima, conta o CEO.

“Para 2026, enxergamos um cenário positivo para o setor, com mais feriados, calor e Copa do Mundo”.

A expectativa também cresce com a Heineken 0.0, que continua crescendo com força dentro da estratégia de consumo responsável.

“Preferimos oito long necks para oito pessoas a oito para uma, e o Heineken 0.0 é parte dessa jornada”, diz Giamellaro.

Para o CEO, quando falam em ‘brindar o futuro’, não é apenas sobre abrir uma nova fábrica.

“A nova fábrica simboliza um novo capítulo para a Heineken no Brasil, um futuro de mais qualidade, mais sustentabilidade e mais liberdade de escolha para o consumidor”.

Sobre a Heineken no mundo

Fundada em 1864, em Amsterdã (Holanda), pela família Heineken, a empresa transformou uma pequena cervejaria local em um conglomerado com presença em mais de 190 países e um portfólio de mais de 300 marcas, incluindo Heineken, Amstel, Tiger, Sol, Edelweiss — e, no Brasil, Eisenbahn e Devassa (depois que a empresa comprou a Brasil Kirin em fevereiro de 2017).

O grupo possui cerca de 160 fábricas em todos os continentes e está entre as três maiores cervejarias do planeta, competindo diretamente com a Ambev (Brasil) e Carlsberg (da Dinamarca).

A Heineken chegou oficialmente no Brasil em 2010, ao adquirir a divisão de cervejas da mexicana FEMSA, responsável por marcas como Kaiser, Sol, Bavaria e Xingu. A compra marcou a entrada oficial da companhia como fabricante, garantindo sua primeira base produtiva e de distribuição no país, em Ponta Grossa, no Paraná. Em 2017, a companhia ampliou sua presença com a aquisição da Brasil Kirin (antiga Schincariol), então controlada pelo grupo japonês Kirin Holdings. Com o negócio, a empresa incorporou marcas nacionais como Schin, Devassa.  Hoje, o Grupo Heineken soma 15 cervejarias no Brasil e mais de 13 mil funcionários.

No último ano, a receita global da companhia chegou a € 35,9 bilhões, com lucro líquido de € 978 milhões. Os resultados específicos do Brasil não foram divulgados pela empresa.

Veja também: entrevista exclusiva de Mauricio Giamellaro, CEO da Heineken Brasil, ao podcast "De frente com CEO", da EXAME.

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