Casas da Hauss: startup mineira faturou R$ 120 milhões em um ano de operação (Hauss/Divulgação)
Repórter
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 11h24.
Última atualização em 14 de janeiro de 2025 às 14h35.
Com um déficit habitacional que atinge 6 milhões de domicílios no Brasil, segundo a Fundação João Pinheiro, a startup mineira Hauss Brasil acredita ter encontrado uma solução inovadora. A empresa aposta em construções industrializadas para acelerar a entrega de moradias populares. Em seu primeiro ano, a startup faturou R$ 120 milhões e já venceu seis editais do programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Criada em 2024 por Junior Bergamin, Paulo Curió, Jonatas Resende e Gilberto Bergamin, a Hauss combina as experiências de seus fundadores em engenharia, direito e gestão pública. O objetivo do grupo — que não se considera uma construtora, e sim uma govtech — é resolver desafios habitacionais em pequena escala, algo que grandes construtoras raramente conseguem atender de forma viável.
A Hauss atende demandas específicas de municípios pequenos e de famílias com renda a partir de um salário mínimo. O primeiro conjunto habitacional foi finalizado em Itamogi, Minas Gerais, com 150 casas. “Conseguimos levar moradia para cidades menores, onde outras construtoras não atuam por falta de escala”, diz o cofundador.
Este empresário do Paraná vai fazer R$ 650 milhões construindo casas de luxo ‘estilo Lego’A Hauss utiliza tecnologias como Light Steel Frame e Light Wood Frame, amplamente empregadas nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda pouco difundidas no Brasil. Esses métodos consistem em estruturas leves de aço ou madeira que substituem a tradicional alvenaria.
As casas são “fabricadas” em Curitiba, onde os componentes são pré-montados com alta precisão. No terreno, tudo é finalizado em até 48 horas. A família pode se mudar já no dia seguinte, ou seja, 72 horas depois do início da obra.
As construções da Hauss também têm como pilar a sustentabilidade. Elas consomem 95% menos água e produzem quase nenhum resíduo sólido em comparação às obras tradicionais, que geram grandes volumes de entulho, segundo o cofundador.
As casas mantêm a temperatura interna em torno de 22ºC, mesmo em climas extremos, graças ao isolamento térmico avançado. Já o isolamento acústico é duas vezes superior às normas brasileiras.
“Levamos soluções completas, que combinam urbanização, sustentabilidade e infraestrutura”, explica Bergamin. Isso inclui garantir que as áreas escolhidas já possuam suporte básico, como escolas, creches, coleta de lixo e rotas de transporte público, evitando que novos bairros sejam criados sem a infraestrutura necessária para atender os moradores.
Embora mais rápidas e sustentáveis, essas técnicas de construção enfrentam resistência no Brasil. Por aqui, a "cultura da argamassa e do concreto", uma herança da colonização portuguesa, predomina.
“As pessoas ainda associam concreto a solidez e qualidade, o que cria uma barreira”, explica Bergamin. Essa resistência é maior em regiões como o Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, onde há influência da colonização alemã, o uso de madeira e métodos industrializados é mais aceito.
As tecnologias usadas também são 30% mais caras que os métodos convencionais quando aplicadas em pequena escala. “Por isso, nossa estratégia é operar em linha de produção, como na indústria automotiva, reduzindo os custos por unidade”, diz o cofundador.
Outro obstáculo é a dependência do setor público, que frequentemente apresenta atrasos na aprovação de projetos e pagamentos. “O cronograma não é linear. Às vezes, ganhamos o edital, mas precisamos esperar meses até que a documentação esteja completa para começar a obra. Isso pode criar gargalos na produção”, diz.
Mesmo com esses desafios, a Hauss já planeja o futuro. Depois de ser adquirida pelo grupo logístico Expresso Nepomuceno, a startup deve expandir suas operações para o Sudeste, especialmente São Paulo, e abrir uma nova fábrica na região para atender à demanda crescente.
“Temos capacidade para produzir até 4 mil casas por ano, mas queremos crescer com responsabilidade. É um mercado sensível e precisamos entregar com excelência, porque lidamos com os sonhos das pessoas”, diz Bergamin.