Guido Mantega: ex-ministro deixou claro que não concordava com a divulgação dos R$ 88,6 bi (Ueslei Marcelio/Reuters)
Tatiana Vaz
Publicado em 8 de maio de 2015 às 10h32.
São Paulo – Quando no conselho de administração da Petrobras, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega tentou omitir no balanço a informação de que a companhia havia perdido 88,6 bilhões de reais em patrimônio.
A informação foi obtida, com exclusividade pelo jornal Folha de S. Paulo, do áudio da reunião do conselho da estatal realizada no dia 27 de janeiro deste ano.
Nela, Mantega diz que o cálculo do possível rombo na companhia com desvio de dinheiro, feito pela consultoria Deloitte e pelo banco BNP Paribas, não poderia ser divulgado.
Graça Foster, então presidente da empresa, discordava dele por achar que o mercado precisa do dado. Decidiu por divulgar a informação e, por consequência, desagradou a presidente Dilma Rousseff e foi substituída por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil..
Uma matéria da Bloomberg de março já havia revelado que as divergências aconteceram durante a reunião e que isso havia resultado na demissão de Graça.
Valor inadequado
Segundo a Folha, nas gravações é possível ouvir o motivo que levou Mantega a defender a omissão do dado.
"Acho uma temeridade divulgar esse número. Vai afetar o nosso rating, custo financeiro, a solidez da empresa por algo de que não temos certeza. Cria a possibilidade de que a Petrobras tenha um endividamento muito maior em relação a seu patrimônio", diz o ministro no áudio.
Graça defendia a divulgação dos dados, por receio da informação vazar e do risco dela e de outros da empresa serem responsabilizados pela CVM.
“De quem é a responsabilidade? Da diretoria ou do conselho?", teria dito Graça, ressaltando que tinha receio de vazamentos, porque "mais de cem pessoas tiveram acesso".
No documento estaria escrito que Mantega "pontuou seu entendimento de que o valor justo dos ativos mostra-se inadequado".
O desfecho da reunião se deu com o ex-ministro concordando com a divulgação depois de saber que representantes de acionistas minoritários pretendiam protocolar a informação na CVM mesmo assim.
Procurado pelo jornal, o ex-ministro disse que "o que importa é que, sob sua presidência, o conselho divulgou os dados, e que discussões internas fazem parte do processo de decisão da companhia".