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Grupos de ensino seguem sofrendo com crise e fim do Fies

A Kroton, maior universidade privada do Brasil, informou ontem que a sua receita cresceu apenas 0,5% de abril a junho de 2018 ante igual intervalo de 2017

Sala de aula da Kroton: o maior grupo de ensino do país acumula queda de 40% na bolsa em 2018 (Germano Lüders/Exame)

Sala de aula da Kroton: o maior grupo de ensino do país acumula queda de 40% na bolsa em 2018 (Germano Lüders/Exame)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 15 de agosto de 2018 às 06h59.

Última atualização em 15 de agosto de 2018 às 07h36.

Durante cinco anos, entre 2010 e 2015, as universidades privadas brasileiras cresceram embaladas pelos recursos provenientes do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Mas, desde que as regras do crédito mudaram, no início de 2016, com aumento dos juros e corte dos montantes concedidos aos alunos, as instituições de ensino têm sofrido para sustentar seu crescimento, como os balanços relativos ao segundo trimestre deste ano mostram mais uma vez.

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A Kroton, maior universidade privada do Brasil, informou ontem à noite que a sua receita cresceu apenas 0,5% de abril a junho de 2018 ante igual intervalo de 2017, atingindo 1,53 bilhão de reais. O lucro recuou 12,8% no mesmo período, para 562 milhões de reais. No acumulado do primeiro semestre deste ano, a receita apresentou elevação de 0,2% ante a primeira metade de 2017, totalizando 2,9 bilhões de reais, e o lucro total caiu 9,9%, para 1,1 bilhão de reais. Os resultados nesses seis meses foram afetados negativamente pelo elevado número de graduações no final de 2017, das grandes safras de alunos ingressantes entre 2013 e 2014, geração muito beneficiada pelo Fies, pelo desemprego e pelo aumento da competição no segmento de educação à distância, segundo comunicado da instituição.

Com as formaturas dos estudantes que mais gozaram do financiamento do governo federal, aumentou, no corpo discente da Kroton e das demais universidades, a proporção de alunos que pagam mensalidades mais baratas – as instituições precisaram dar descontos para seguir atraindo interessados nos seus cursos depois que o crédito ficou mais difícil.

Além disso, neste ano, as universidades estão elevando suas provisões para calotes, porque quem não tem o financiamento está mais propenso a atrasar as mensalidades. Em tempos de economia apática, esse efeito é potencializado. O Produto Interno Bruto do País (PIB) subiu 1,2% no primeiro trimestre deste ano, último dado disponível. O desemprego está em 12,9%.

Nos números financeiros da Estácio, divulgados ontem, a situação está um pouco melhor. A receita da companhia subiu 5,5% no segundo trimestre deste ano ante o mesmo período de 2017, para 964 milhões, enquanto o lucro avançou 43%, para 237 milhões. Na primeira metade do ano, a alta da receita foi de 9,6%, para 1,9 bilhão, com elevação de 51% do lucro, para 434 milhões. Cerca de 2% dos seus calouros do primeiro semestre ingressaram na graduação com Fies, porcentagem que se compara a 6,8% no mesmo período de 2017.

“No curto prazo, a economia lenta, o pico das formaturas do Fies, as incertezas políticas e o aumento da concorrência devem levar a um fraco crescimento do setor e a um sentimento negativo por parte dos investidores”, Maria Tereza Azevedo e Richard Dineen, analistas do banco de investimentos suíço UBS, escreveram em relatório.

As ações da Kroton acumulam queda de 41% neste ano, tendo fechado ontem cotadas a 10,87 reais. As da Estácio têm baixa de 25%, a 25,32 reais. O Ibovespa, índice de referência do mercado, apresenta alta de 0,9% no período.

A universidade de pior desempenho na bolsa em 2018 é a Anima, cuja ação perdeu 49% do valor neste ano, negociada a 14,66 reais. Hoje, antes da abertura da B3, é a vez de a companhia divulgar o seu balanço do segundo trimestre. O banco de investimentos Itaú BBA espera uma elevação de 3% na receita três meses até junho de 2018 ante o mesmo intervalo de 2017, a 268 milhões de reais, com uma queda de 59% do lucro líquido, para 5,8 milhões de reais.

Os analistas do banco Susana Salaru e Vitor Tomita escreveram em relatório a clientes: “As despesas da empresa devem ter sido impactadas pela contratação de funcionários para novas unidades, mas esse impacto deve se diluir ao longo do tempo”.

Os grandes grupos de ensino têm investido para conseguir viver sem Fies. Vai ser mais difícil, claro. Com uma crise que não termina, fica muito pior.

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