Negócios

Grendene: mercado levará 6 anos pra voltar ao nível de 2010

Para Francisco Schmitt, diretor financeiro e de RI da empresa, os clientes não voltarão às compras enquanto persistir o receio de perder o trabalho


	Francisco Schmitt: "é preciso decidir como fica o impeachment e qual vai ser a política econômica"
 (Fabio Teixeira/EXAME.com)

Francisco Schmitt: "é preciso decidir como fica o impeachment e qual vai ser a política econômica" (Fabio Teixeira/EXAME.com)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 30 de junho de 2016 às 19h37.

São Paulo - Para Francisco Schmitt, diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene, a economia brasileira ainda terá que percorrer um longo caminho até retornar aos patamares de antes da crise.

"Acho que, para voltarmos aos níveis de 2010, levará uns seis anos ou mais", disse em entrevista a EXAME.com, durante o evento EXAME Melhores e Maiores, na noite de quarta-feira (29), em São Paulo.

O executivo argumenta que os clientes não voltarão às compras enquanto o receio de perder o trabalho persistir.

Depois de quatro altas seguidas, a taxa de desemprego ficou estável em 11,2% no trimestre que se encerrou em maio. Mas é o maior índice da série histórica iniciada em 2012 pelo IBGE.

"A gente já começa a enxergar uma 'queda da deterioração', porque as coisas não estão piorando na velocidade em que estavam. Mas o consumidor ainda está travado, seletivo. O que estamos sentindo é que, neste momento, ele está desalavancando: pagando as dívidas, o carnê, o cheque especial", comentou.

Segundo ele, por fabricar produtos de baixo tíquete, que não dependem de crédito, a Grendene deve ver seu faturamento aumentar logo que o cenário macroeconômico voltar a apresentar indicadores positivos.

Do outro lado, empresas de setores como o de automóveis, construção e eletrodomésticos, devem sofrer por mais tempo.

"Nós não tivemos queda significativa. Em 2014, que foi nosso ano de pico, fizemos 215 milhões de pares. No ano passado, fizemos 180 milhões", disse.

Preço em dólar

Neste ano, as vendas brutas da fabricante de calçados recuaram 11,2% de janeiro a março ante os mesmos meses de 2015, somando 566,6 milhões de reais.

Enquanto a receita dos itens comercializados no mercado interno caiu 19,2%, a das exportações cresceu 11,3%, em reais.

Apesar disso, o lucro líquido da companhia subiu 4,2% no período, para 143,6 milhões de reais. A margem líquida também saltou de 25,9% para 30,2%.

Parte da estratégia para atingir esses números consistiu em manter os preços dos produtos em dólar – em vez de baixá-los para exportar mais, aproveitando a desvalorização do real.

"Por experiência e cautela, resolvemos ir devagar, o que hoje se revela acertado, já que o câmbio voltou dos 4,20 reais por dólar para 3,30 reais por dólar. Os concorrentes que precificaram para um câmbio de 4 reais vão ter que renegociar com clientes, ou então assumir perda de margem", disse.

A Grendene é responsável por um terço de todos os sapatos que o Brasil envia para outros países. Para o último trimestre deste ano, que concentra grande parte das exportações, a estratégia de precificação ainda não foi definida.

"É difícil apostar para qual lado vai o dólar. Não há uma tendência. Tudo vai depender de como as modificações de enfrentamento à crise serão feitas e por quem. Tem que decidir como fica o impeachment e qual vai ser a política econômica", afirmou Schmitt.

Ele ressaltou, porém, que a empresa tem robustez para alcançar bons resultados também com o real valorizado.

"Já demonstramos competência para exportar com o dólar a 1,60 reais, em 2011. É claro que as margens são menores e a condição é mais difícil, mas a Grendene é competitiva para fazer isso. Com o dólar a 4,00 reais, melhor ainda", disse.

Acompanhe tudo sobre:CalçadosConsumoCrise econômicaCrises em empresasEmpresasGrendeneMelhores e MaioresRoupas

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões