Negócios

Granado: novo sócio, novo plano

Lucas Amorim e Ana Paula Ragazzi  O mercado brasileiro de produtos para a beleza é um fenômeno. As vendas triplicaram entre 2005 e 2014, quando chegaram a 43,2 bilhões de reais por ano, fazendo do Brasil o terceiro maior mercado do mundo, atrás de Estados Unidos e China. Ano passado, pela primeira vez em 23 […]

CHISTOPHER FREEMAN: ele comprou a Granado em 1994 e, agora, prepara a expansão internacional da companhia  / Marcelo Correa/Exame

CHISTOPHER FREEMAN: ele comprou a Granado em 1994 e, agora, prepara a expansão internacional da companhia / Marcelo Correa/Exame

DR

Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2016 às 12h44.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h29.

Lucas Amorim e Ana Paula Ragazzi 

O mercado brasileiro de produtos para a beleza é um fenômeno. As vendas triplicaram entre 2005 e 2014, quando chegaram a 43,2 bilhões de reais por ano, fazendo do Brasil o terceiro maior mercado do mundo, atrás de Estados Unidos e China. Ano passado, pela primeira vez em 23 anos, as vendas recuaram, para 42,6 bilhões de reais. Para quem vê de fora, portanto, chega-se a uma combinação matadora: um mercado promissor, num momento difícil.

É neste contexto que uma das mais conhecidas marcas brasileiras de perfumaria e cosméticos, a Granado, atraiu um sócio. O negócio foi fechado ontem, e divulgado em primeira mão pelo jornal O Estado de S. Paulo. A Granado vendeu 35% de seu negócio para a companhia espanhola de moda e perfumes Puig, por estimados 500 milhões de reais. A Puig é dona de marcas de luxo como Carolina Herrera e Jean Paul Gaultier e ganhou uma concorrência de mais 20 fundos de investimento.

Com o dinheiro do novo sócio, a Granado deve pagar parte da dívida contraída para a construção de uma nova fábrica, em Japeri, no Rio de Janeiro, e também expandir a rede de 50 lojas que tem pelo país. “Queríamos um sócio para reduzir o peso dos juros da dívida em nosso negócio. Mas buscamos um investidor que conhecesse o setor, e que combinasse com nossa visão de longo prazo”, diz Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas e herdeira da Granado.

Com a experiência da Puig, a empresa deve acelerar seu plano de expansão internacional. Os produtos são vendidos há três anos na loja francesa de departamentos Le Bon Marché. O plano é usar os contatos da Puig com outros varejistas para expandir o número de pontos de venda e, também, abrir lojas para, como diz Sissi “contar a história da marca”. Este foi outro diferencial que pesou a favor da Puig – a empresa comprou, em 2015, duas tradicionais marcas de perfumaria e cosméticos que têm redes de lojas na Europa: a britânica Penhaligon’s e a francesa L’Artisan Parfumeur. Ou seja: a Puig conhece o mercado de produtos de nicho, em que a Granado quer atuar no exterior. Demanda, segundo a Granado, existe. “A Copa do Mundo e as Olimpíadas nos mostraram que os turistas estrangeiros têm interesse em nossos produtos. Muitos compraram, levaram a seus países depois nos escreveram perguntando onde podiam encontrar mais”, diz Sissi.

Caso raro 

A Puig compra parte de uma companhia rara no Brasil. Num país em que apenas 3% das empresas familiares chegam à terceira geração, a Granado tem mais de 140 anos de história. Quando o inglês Christopher Freeman comprou a empresa, em 1994, assumiu um negócio com 124 anos que fazia rigorosamente a mesma coisa — um talco — havia pelo menos 90. Gastou 8 milhões de dólares. Nas duas décadas seguintes, Freeman virou a Granado pelo avesso. E, hoje, tem uma empresa centenária que vale cerca de 1,5 bilhão de reais.

Freeman, então um auditor e consultor de negócios, havia sido contratado pela família fundadora para vender a empresa. Tentou de todo jeito, até que decidiu vender tudo o que tinha, tomar dinheiro emprestado com amigos e bancos e comprar ele mesmo o negócio. Em 2004, ele comprou a marca de sabonetes Phebo da fabricante de produtos americana Sara Lee. Foi quando ele decidiu investir numa rede de lojas próprias com a ajuda da filha Sissi.

Enquanto as multinacionais vendem seus sabonetes na casa de 1 real, o consumidor paga duas ou três vezes mais por um Phebo ou um Granado. As lojas próprias representam 25% do faturamento da Granado e vendem mais em datas festivas graças aos kits de presentes. Já os itens mais básicos, como o famoso talco de polvilho antisséptico, são encontrados em mais de 50.000 pontos de venda, como farmácias, perfumarias e supermercados, responsáveis por 75% da receita da Granado. A empresa deixou de depender de talcos e sabonetes e passou a fabricar mais de 800 itens, incluindo linhas para bebês e para pets.

Crescer fora do país é um dos grandes desafios das marcas brasileiras de cosméticos, como a Natura e o Boticário, que encontram dificuldades de manter o ritmo com seus negócios tradicionais no Brasil. Por enquanto, a estratégia preferida dessas marcas tem sido diversificar os negócios por aqui mesmo. A Natura abriu, nesta terça-feira, sua terceira loja física na capital paulista, no Shopping Pátio Paulista. Em paralelo, a companhia tenta crescer na internet, com a Rede Natura (que permite às consultoras vender online) e também começou a vender produtos da linha Sou na rede de farmácias Raia Drogasil. O Boticário, por sua vez, investe em novas marcas, como a Quem Disse Berenice?, Eudora e Beauty Box. Além disso, o país ganhou mais de 300 marcas de venda porta a porta na última década, e vê a chegada de novos competidores internacionais, como a francesa Coty, que comprou em novembro a divisão de produtos para beleza da Hypermarcas por 3,8 bilhões de reais. Em 2014, a francesa L’Oréal comprou a fabricante carioca Niely. Competição não deve faltar quando o mercado voltar a crescer. Para a Granado, a saída pode estar no aeroporto.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Negócios

No Grupo Pão de Açúcar, cliente fiel sai na frente na corrida por ofertas (online) da Black Friday

Funcionários da PepsiCo Brasil fazem greve por fim da escala 6x1

Na Black Friday da Casas Bahia, celulares lideram buscas — e tem até por R$ 269

Como a Avell deu a volta por cima e teve o 'melhor ano de sua história'