Os governantes votaram a favor do fechamento em uma reunião com acionistas realizada hoje (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2012 às 19h44.
Santiago do Chile - Os acionistas do jornal chileno ''La Nación'', com apoio dos dirigentes do Estado - que possuem 69% de sua propriedade - decidiram nesta segunda-feira fechar e liquidar os bens do veículo de comunicação histórico, que desde 2010 só funcionava em sua versão digital.
A publicação, fundada em 1917 e que atualmente empregava 117 pessoas, fechará as portas em um prazo de sete meses a três anos.
O governo defende que não é conveniente ter um jornal controlado pelo Executivo e que o mesmo era deficitário, enquanto a oposição e a Associação de Jornalistas opinam que o seu desaparecimento vai aumentar o duopólio existente na imprensa chilena.
Os governantes votaram a favor do fechamento em uma reunião com acionistas realizada hoje.
Os sindicatos e os acionistas minoritários se manifestaram contra o fechamento do jornal. Eles são donos de 31% das ações, e estão agrupados, em sua maioria, na Colliguay S.A.
Os donos da Colliguay adiantaram que vão processar o Estado por considerar que não há razões econômicas que justifiquem o fechamento da sociedade, já que ela tinha lucro de 2 bilhões de pesos anuais (R$ 8 milhões).
Algumas horas depois, os sindicatos apresentaram um recurso de proteção à Corte de Apelações de Santiago horas depois a fim de reverter essa decisão.
Antes de chegar ao palácio presidencial, o presidente Sebastián Piñera questionou a orientação do jornal por ter se transformado, durante os 20 anos em que a coalizão de centro-esquerda esteve no poder (1990-2010), ''em uma fábrica de propaganda dos governos''.
Em seus primeiros meses de mandato, Piñera garantiu que seu governo iria optar pela reforma ou a venda da publicação.
Finalmente, em novembro de 2010, o diretório decidiu, por razões econômicas, que o jornal deixaria de circular em versão impressa e seria publicado somente na internet.
Embora nos últimos anos sua tiragem fosse muito pequena, o desaparecimento do jornal das bancas consolidou a posição das duas principais empresas editoras de jornais, a El Mercurio - que publica um jornal homônimo - e a Copesa - que publica o jornal ''La Tercera'', e concentram 90% do mercado.
''Pensamos que o melhor é que os governos não tenham meios de comunicação em que possam influenciar suas linhas editoriais e informativas'', defendeu hoje o porta-voz do Executivo, Andrés Chadwick.
O presidente da Associação de Jornalistas e ex-diretor do ''La Nación'', Marcelo Castillo, afirmou à rádio ''Cooperativa'' que era ''a evidência e a constatação de que se podia fazer outro jornalismo diário'' e lamentou que ''estamos num país em que não há jornais de oposição, algo que ocorre apenas em dois países da América Latina''.
A publicação era editada pela Empresa Jornalística La Nación S. A., que também publica o ''Diário Oficial da República do Chile'', e era a principal fonte de receita da companhia, que agora vai depender de recursos do Ministério do Interior.
Ainda não foi determinado o futuro do arquivo histórico do ''La Nación'', fundado em 1917 pelo jornalista, advogado e político Eliodoro Yáñez, e com sua sede em um edifício em frente ao Palácio de la Moneda, sede do governo.
''Esse arquivo, no melhor dos casos, será privatizado. O mais provável é que algum dos grandes consórcios jornalísticos o compre e passe a cobrar por seu acesso'', afirmou Marcelo Castillo.
No último domingo, jornalistas e representantes dos sindicatos se reuniram em um ato cultural em Santiago para se manifestar contra o possível fechamento do jornal, que finalmente foi decretado hoje.