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Dona do Google atinge valor de US$1 trilhão e se junta a Apple e Microsoft

Alphabet, controladora do Google, torna-se a quarta empresa no mundo com valor de mercado trilionário, assim como Apple, Microsoft e Saudi Aramco

Pichai, presidente da Alphabet: desafio de conduzir a empresa para a nova era (Justin Sullivan/Getty Images)

Pichai, presidente da Alphabet: desafio de conduzir a empresa para a nova era (Justin Sullivan/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 18h08.

Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h03.

A Alphabet, companhia-mãe do Google, atingiu pela primeira vez o valor de mercado de 1 trilhão de dólares. A empresa chegou ao patamar trilionário na bolsa no fim da tarde desta quinta-feira 16, em um movimento já esperado pelo mercado no início da semana.

A ação fechou o pregão do dia em 1,451,70, alta de 0,87%. Foi o suficiente para avaliar a empresa em 1,001 trilhão de dólares. Os papéis da Alphabet vinham em uma crescente e acumularam alta de mais de 30% desde o início de 2019. Só no último mês, a empresa ganhou quase 1 bilhão em valor de mercado.

Até agora, as únicas empresas de capital aberto com valor trilionário eram as também americanas Apple e Microsoft, de tecnologia, e a petroleira saudita Saudi Aramco. A varejista Amazon também chegou a bater 1 trilhão em 2018, mas caiu nos meses seguintes e hoje vale 928 bilhões de dólares -- mas pode também voltar a valer mais em algum momento nos próximos meses.

A avaliação trilionária da Alphabet acontece também em um momento de transição na empresa. Em dezembro, saíram da presidência os fundadores Larry Page e Sergey Brin, de 46 anos e no comando há duas décadas. O atual presidente passou a ser o indiano Sundar Pichai, 47 anos, que comandava o Google desde 2016. Ao longo da carreira no Google, Pichai, que veio de família simples na Índia, passou por produtos de sucesso como o navegador Chrome, o serviço em nuvem Drive, o Gmail e o sistema de celular Android.

A expectativa dos investidores é que Pichai imprima ao Google uma visão mais pé no chão, em detrimento de apostas mais ousadas que os fundadores vinham fazendo. Com Page e Brin no comando, o Google investiu nos últimos anos em serviços como drones, carros autônomos e lentes inteligentes.

O objetivo era diversificar a empresa para se preparar para as tecnologias do futuro, mas os investimentos foram caros e ainda não dão um grande retorno. Os novos negócios da Alphabet fecharam 2018, último ano com números completos, com prejuízo de 3,4 bilhões de dólares, ante um lucro de 36 bilhões de dólares do Google. Os resultados de 2019 serão revelados no balanço do quarto trimestre da empresa, a ser divulgado em fevereiro.

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A era da tecnologia

A Apple foi a primeira das gigantes americanas a atingir o patamar trilionário, o que aconteceu pela primeira vez em 2018. Após idas e vindas, a empresa hoje vale cerca de 1,4 trilhão. A Microsoft, que atingiu 1 trilhão pela primeira vez em 2019, vale 1,3 trilhão.

As duas ficam atrás da Saudi Aramco, companhia mais valiosa do mundo e cuja abertura de capital aconteceu no ano passado. A Saudi chegou a atingir 2 trilhões de dólares em valor de mercado nos primeiros dias de negociação na bolsa, e hoje vale pouco mais de 1,6 trilhão de dólares.

Na Alphabet, apesar dos méritos da empresa, com crescimento de dois dígitos no faturamento trimestre após trimestre, a alta nas ações reflete também um cenário global. Com juros baixos mundo afora e aplicações seguras gerando pouca rentabilidade, há mais dinheiro destinado a financiar empresas, tanto para investimento em startups quanto em grandes companhias na bolsa. Assim, as cinco maiores empresas dos Estados Unidos (Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet e Facebook) ganharam 1,8 trilhão em valor de mercado só no último ano.

Além do cenário econômico, esta também foi uma década em que as empresas de tecnologia reinaram. Esqueça montadoras ou grandes bancos: das cinco maiores empresas estadunidenses, quatro têm o modelo de negócio baseado majoritariamente em tecnologia -- com alguma exceção na Amazon, cujo negócio principal é o varejo.

É parte do mesmo movimento que fez os investimentos em capital de risco, que financiam startups, passarem de 36 bilhões de dólares, em 2009, para 287 bilhões no ano passado. Neste cenário, já são mais de 420 startups "unicórnios", com valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares, a maioria nos Estados Unidos e na China (dez dessas startups estão no Brasil).

Os investidores saem justamente em busca de quem serão os novos "Google", valorizando a ponto de atingir valor de mercado trilionário.

Enquanto isso, pelo lado dessas gigantes de tecnologia, o desafio é continuar crescendo e se antecipando às tendências. Por isso, apesar de arriscada, a diversificação que fez a Alphabet investir nos últimos anos em tecnologias que parecem fora de seu core business, como carros autônomos, pode também ser importante para que a empresa sobreviva a um futuro que tende a ser cada vez mais desafiador.

Que o diga outra empresa do clube das trilionárias, a Microsoft: ao virar as costas aos smartphones no começo dos anos 2000, a empresa não conseguiu mais alcançar a Apple (dona dos iPhone e do sistema iOS) e o Android do próprio Google. A Microsoft só conseguiu se recuperar após a saída do fundador Bill Gates e entrada do atual presidente, Satya Nadella, que vem fazendo a empresa lucrar com serviços em nuvem, jogos e programas por assinatura. A reestruturação da Microsoft sob seu comando, aliás, é parte do motivo pelo qual a empresa passou a valer 1 trilhão de dólares na bolsa.

Android: Alphabet foi bem-sucedida ao se antecipar à Microsoft no segmento de sistemas para celulares (Photo Illustration by Omar Marques/SOPA Images/LightRocket via Getty Images) (SOPA Images/Getty Images)

O que vem depois do trilhão?

O Google foi fundado em 1998 na Califórnia, tendo como principal produto o buscador de mesmo nome cujo objetivo era fazer um grande índice de páginas da internet.

Com o tempo, criou novos produtos e fez uma centena de aquisições, do aplicativo de localização Waze à rede de vídeos YouTube. Assim, o Google passou a fazer frente às concorrentes em uma série de segmentos: do Android, que começou a brigar com iOS da Apple, ao navegador Chrome, que ganhou espaço que outrora era do Internet Explorer, navegador padrão da Microsoft.

A empresa também foi bem-sucedida em lançar um serviço de editor de textos, tabelas e apresentações em nuvem para fazer frente ao Pacote Office da Microsoft, o Google Drive, mais leve, gratuito e que não precisava ser instalado nos computadores. O Drive também foi vetor de uma nova frente do Google nos últimos anos, mais voltada a empresas, segmento historicamente dominado pela Microsoft.

Ao mesmo tempo, a companhia ainda concorre com nomes como o Facebook (dono também do Instagram e do WhatsApp) na busca por anúncios. Mais de 90% do faturamento da Alphabet vem com venda de publicidade por meio do Google Ads, que posiciona anúncios tanto nos próprios produtos do Google quanto em sites de terceiros.

Para os próximos anos, além de se antecipar às novas tecnologias, a Alphabet e outras empresas do setor vão enfrentar cada vez mais uma maior pressão de autoridades e órgãos reguladores. O modelo de publicidade de empresas como Google e Facebook é majoritariamente baseado em dados dos usuários, o que começa a ser questionado mundo afora.

Nos Estados Unidos, o governo americano multou a Alphabet em 170 milhões de dólares no ano passado por usar dados de usuários para negociar publicidade para crianças no YouTube. Questões de defesa da concorrência também começam a entrar em pauta, e a União Europeia multou a Alphabet em 1,49 bilhão de dólares por impedir anúncios de concorrentes.

De polêmicas a sucessos comerciais, a Alphabet foi responsável por alguns dos produtos de internet mais usados deste milênio. O desafio será equilibrar as apostas com a realidade e manter sua hegemonia nas próximas eras da internet — provando que vale mesmo 1 trilhão.

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