Goldman Sachs: agora o banco considera que os retornos podem chegar a 35% nos investimentos em estradas, aeroportos, ferrovias, portos e outros projetos de infraestrutura (Chris Hondros/Getty Images/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2012 às 09h52.
São Paulo - O Goldman Sachs Group Inc., banco de Wall Street que dobrou o número de funcionários no Brasil nos últimos dois anos, planeja voltar a realizar investimentos de private equity no país e espera retornos de até 35 por cento.
“Estamos olhando alguns setores que achamos que entendemos e que precisam de investimentos”, disse Alejandro Vollbrechthausen, presidente da unidade brasileira do banco sediado em Nova York, em entrevista em São Paulo. Os setores de infraestrutura, commodities e telecomunicações são alguns dos principais alvos, disse o executivo de 44 anos.
As maiores incursões do Goldman Sachs em private equity no Brasil terminaram em 2007, quando o banco investiu R$ 400 milhões de seu capital próprio na Santelisa Vale SA, uma produtora de açúcar e álcool que teve que reestruturar sua dívida depois. A Santelisa foi comprada pela Louis Dreyfus Commodities em 2009. O Goldman Sachs também em 2007 investiu na BRA Transportes Aéreos Ltda., empresa área que entrou em recuperação judicial.
Agora o banco considera que os retornos podem chegar a 35 por cento nos investimentos em estradas, aeroportos, ferrovias, portos e outros projetos de infraestrutura, disse Paulo Leme, chairman da unidade do Goldman Sachs no Brasil.
“Se o Brasil agir corretamente do ponto de vista regulatório, com transparência e previsibilidade no ambiente macroeconômico, e evitar mexer muito no câmbio e em impostos, é um movimento natural do capital deixar projetos de baixo retorno em direção àqueles de alto retorno”, disse Leme, 57, em entrevista. “Quanto mais estáveis e duradoras forem as regras da economia, mais fácil é para os estrangeiros navegarem.”
Ajuda do governo
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social disse que vai financiar até 80 por cento do total estimado em R$ 1 trilhão em investimentos em infraestrutura necessários durante os próximos cinco anos, em meio aos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Investidores privados terão de financiar de 10 a 20 por cento do total, de acordo com Denise Pavarina, presidente da Anbima - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
“As concessões de estradas, aeroportos e portos no Brasil estão atraindo muito interesse dos grupos de private equity estrangeiros”, disse Patrice Etlin, sócio na América Latina do Advent International Corp., fundo de private equity sediado em Boston.
O Advent comprou uma fatia de 50 por cento no Terminal de Conteineres de Paranaguá SA em janeiro do ano passado no seu maior negócio Brasil e tem cerca de US$ 3 bilhões para investir no País, disse Etlin, que também é o chairman da Lavca - Latin American Venture Capital Association, em entrevista por telefone em São Paulo.
Aeroporto internacional
“O Advent está na América Latina desde 1996 e nunca desistiu de investir aqui”, disse Etlin. O fundo participou do consórcio que concorreu no leilão da licença para operar o aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos, no início deste ano. “Nós vamos participar de outros leilões com certeza.”
O Warburg Pincus LLC, o Hamilton Lane Advisors LLC, o Actis LLP, o TPG Capital, o 3i Group Plc e o Carlyle Group LP estão entre as empresas de private equity que abriram escritórios no Brasil desde 2008.
O Blackstone Group LP adquiriu fatia de 40 por cento no Pátria Investimentos, uma empresa brasileira de private equity e de gestão de recursos de terceiros, em 2010, enquanto o Highbridge Capital Management, unidade do JPMorgan Chase & Co., comprou o fundo de private-equity Gávea Investimentos Ltda. em outubro do mesmo ano. O Kohlberg Kravis Roberts & Co., baseado em Nova York, contratou o ex-presidente do Banco Central no Brasil Henrique Meirelles como consultor sênior em junho.
Investimentos nos BRIC
“Você ainda tem setores nos BRIC que para chegarem a um equilíbrio precisam crescer a um ritmo maior do que a economia em geral”, disse Leme, do Goldman Sachs, referindo-se ao Brasil, Rússia, Índia e China. Ele citou o setor de infraestrutura como exemplo.
O volume de crédito no País passou de 25 por cento do produto interno bruto para 50 por cento e ainda tem espaço para crescer para 80 por cento, de acordo com Leme. “O setor de hipotecas ainda está com sua alavancagem baixa”, disse ele.
O Goldman Sachs ampliou o número de funcionários no Brasil de 150 para 300 pessoas nos dois anos passados.
A empresa se tornou um banco de investimento completo no País em 2009, depois de tentar duas vezes, sem sucesso, comprar empresas locais. Em 1998, o Goldman Sachs tentou adquirir o Banco de Investimentos Garantia SA, que acabou nas mãos do Credit Suisse Group AG. Sete anos depois, tentou comprar o Banco Pactual SA, que foi adquirido pelo UBS AG. O Pactual foi vendido de volta para parte dos antigos sócios em 2009 e é hoje o Grupo BTG Pactual.
Fusões e aquisições
O Goldman Sachs foi o terceiro colocado entre os líderes em emissões de ações no Brasil neste ano e o sétimo colocado em fusões e aquisições, atividades que sofreram redução neste ano em comparação com 2011. Até agosto, as emissões de novas ações totalizaram US$ 5,16 bilhões, uma queda de 53 por cento, enquanto as fusões e aquisições caíram 41 por cento, para US$ 43,3 bilhões, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg. Ainda assim, o Goldman Sachs planeja manter sua força de trabalho.
“Não achamos que exageramos nem que construímos alguma coisa que não vamos conseguir manter”, disse Vollbrechthausen. “Temos uma gama de negócios no País bem grande e quando alguns desses negócios têm sua atividade um pouco reduzida outros ganham volume.”
A queda nas taxas de juros oferece uma oportunidade para o Goldman Sachs, mesmo com o crescimento econômico ficando abaixo de 4 por cento, disse Leme. “É uma grande oportunidade para a venda de ações e títulos no mercado secundário e para o desenvolvimento de negócios, pois teremos um prolongado ciclo de taxas de juros reais baixas”, disse ele.
Regra Volcker
O Goldman Sachs terá de se adaptar à chamada Regra Volcker, que o Legislativo americano aprovou em 2010 para reduzir o risco de operação dos bancos que possuem depósitos da população. As restrições, ainda em processo de finalização pelos reguladores, vão impedir os bancos de realizar operações de tesouraria com capital próprio e limitar a quantia que as instituições financeiras poderão dedicar ao private-equity. A regra, elaborada pelo ex-presidente do Federal Reserve, banco central americano, Paul Volcker, cria exceções para algumas atividades, incluindo investimentos de interesse público e hedging, ou proteção financeira.
Michael DuVally, porta-voz do Goldman Sachs em Nova York, não quis comentar como a instituição planeja lidar com a nova regra.