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Gigante dos dados investe em startup de Florianópolis (que tem até Bill Gates como cliente)

A Indicium é a primeira empresa da América Latina a receber um investimento do braço de venture capital da Databricks

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 16 de setembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 08h43.

A Databricks, avaliada em mais de US$ 100 bilhões, acaba de anunciar um investimento na Indicium, consultoria de dados e inteligência artificial com sede em Nova York e origem em Florianópolis.

A parceria entre as duas empresas existe desde 2017, mas o novo aporte marca uma virada: a Indicium passa a ser uma das sete companhias no mundo que receberam investimento direto da Databricks Ventures, e a primeira da América Latina.

O valor não foi revelado, mas o investimento é considerado estratégico e coloca a Indicium em um nível mais próximo do roadmap de produtos da Databricks, como os recém-lançados Agent Bricks e Lakebase.

A consultoria terá acesso antecipado a funcionalidades, à engenharia e aos programas de go-to-market da plataforma. "É um selo de que a Indicium está no topo do setor de dados e IA. Estamos em um ciclo de aceleração global", afirma Matheus Dellagnelo, CEO e cofundador da Indicium.

Com cerca de 470 funcionários e expectativa de dobrar de tamanho em 2026, a Indicium já concluiu mais de mil projetos de dados e IA em empresas como Burger King, PepsiCo, Bayer e Porto Bank. Desde 2022, a maior parte da receita da empresa já vem de fora do Brasil, com presença ativa nos Estados Unidos e clientes em todos os tipos de setor — até da Fundação Bill e Melinda Gates, organização filantrópica do bilionário por trás da Microsoft.

No mercado desde 2017, a Indicium surgiu como uma consultoria voltada a empresas que queriam usar dados como motor de crescimento, mas não sabiam como implementar projetos.

"Todo mundo dizia que dados eram o novo petróleo, mas poucas empresas conseguiam transformar isso em valor prático", diz Dellagnelo. Em 2019, com a ascensão do conceito de "modern data stack", a Indicium começou a se posicionar como parceira para implantação de plataformas modernas, e viu a demanda escalar globalmente.

É nesse contexto que surge a aproximação com a Databricks, considerada hoje a principal plataforma de dados e IA no mundo. Em 2024, a Indicium fechou uma Série A de até US$ 40 milhões com a gestora americana Columbia Capital. O valor inicial não foi divulgado.

De Florianópolis ao mundo

A história da Indicium começa com uma virada de carreira. Matheus Dellagnelo era atleta profissional de vela e engenheiro formado pela UFSC. Após conquistar medalhas no Panamericano e fazer mestrado na Califórnia, voltou ao Brasil em 2016 e foi convidado a avaliar uma empresa de tecnologia que buscava novos rumos.

A partir disso, propôs um novo modelo: uma consultoria de dados com abordagem ponta a ponta, da estratégia à execução.

Ao lado de Daniel Avancini, Isabela Blasi e Vitor Avancini, fundou a Indicium em Florianópolis. O foco inicial era ajudar empresas a vender mais, reduzir custos e minimizar riscos por meio da utilização de dados.

Entre 2017 e 2022, a companhia operou com capital próprio e foi lucrativa a partir de 2018. O primeiro grande salto veio em 2019, quando começou a atuar com o ecossistema da Databricks e a vender para fora do Brasil.

"Hoje, todas as grandes corporações estão correndo para modernizar seus sistemas de dados e adotar IA. Nós temos capacidade de entregar isso em escala, com velocidade e eficiência", diz Dellagnelo.

Um dos exemplos é o projeto com a Copa Energia, que usava um sistema manual para concessão de crédito. A Indicium implementou uma solução baseada na plataforma Lakehouse da Databricks com IA generativa, reduzindo em US$ 2,5 milhões o risco anual da empresa.

Inversão do fluxo

Se é comum que startups latino-americanas sejam adquiridas ou virem centros de entrega (delivery centers) de grupos estrangeiros, a Indicium fez o movimento oposto: consolidou-se na região para então abrir um escritório em Nova York, onde hoje está sua sede.

A partir do novo investimento, a Indicium espera acelerar a expansão comercial e o desenvolvimento de propriedade intelectual. A empresa possui um framework próprio, o IndiMesh, que reduz em mais de 50% o tempo de entrega de soluções, e um acelerador que automatiza até 80% das migrações para a plataforma da Databricks.

Para 2026, a projeção da Indicium é dobrar de tamanho, mantendo o ritmo de crescimento de 100% ao ano. "Estamos construindo uma empresa global com DNA brasileiro e impacto internacional", resume o CEO.

O que é a Databricks?

Fundada em 2013 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, a Databricks nasceu como um spin-off do laboratório AMPLab e se tornou referência no processamento de dados em larga escala.

A empresa cresceu rapidamente ao desenvolver o conceito de Lakehouse, que combina as vantagens de um banco de dados tradicional (data warehouse) com a flexibilidade do armazenamento de dados não estruturados (data lake).

Hoje, a Databricks atende mais de 12.000 clientes no mundo, incluindo 500 empresas que geram mais de US$ 1 milhão em receita para a companhia anualmente. No Brasil, clientes como Santander, Nubank, Bradesco e Casas Bahia já utilizam suas soluções para análise de dados e IA.

O Brasil já é um dos dez mercados mais estratégicos para a empresa no mundo. A empresa conta com cerca de 150 funcionários por aqui e espera ampliar significativamente sua equipe nos próximos anos. Além disso, anunciou recentemente a abertura de um terceiro escritório na América Latina, no México.

Globalmente, a Databricks registra um crescimento de mais de 60% ao ano e já alcançou US$ 3 bilhões em receita anualizada. Em dezembro de 2024, a empresa captou US$ 10 bilhões de dólares, o que levou a Databricks a ser avaliada em US$ 62 bilhões.

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