Repórter
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 06h00.
A Databricks, avaliada em mais de US$ 100 bilhões, acaba de anunciar um investimento na Indicium, consultoria de dados e inteligência artificial com sede em Nova York e origem em Florianópolis.
A parceria entre as duas empresas existe desde 2017, mas o novo aporte marca uma virada: a Indicium passa a ser uma das sete companhias no mundo que receberam investimento direto da Databricks Ventures, e a primeira da América Latina.
O valor não foi revelado, mas o investimento é considerado estratégico e coloca a Indicium em um nível mais próximo do roadmap de produtos da Databricks, como os recém-lançados Agent Bricks e Lakebase.
A consultoria terá acesso antecipado a funcionalidades, à engenharia e aos programas de go-to-market da plataforma. "É um selo de que a Indicium está no topo do setor de dados e IA. Estamos em um ciclo de aceleração global", afirma Matheus Dellagnelo, CEO e cofundador da Indicium.
Com cerca de 470 funcionários e expectativa de dobrar de tamanho em 2026, a Indicium já concluiu mais de mil projetos de dados e IA em empresas como Burger King, PepsiCo, Bayer e Porto Bank. Desde 2022, a maior parte da receita da empresa já vem de fora do Brasil, com presença ativa nos Estados Unidos e clientes em todos os tipos de setor — até da Fundação Bill e Melinda Gates, organização filantrópica do bilionário por trás da Microsoft.
No mercado desde 2017, a Indicium surgiu como uma consultoria voltada a empresas que queriam usar dados como motor de crescimento, mas não sabiam como implementar projetos.
"Todo mundo dizia que dados eram o novo petróleo, mas poucas empresas conseguiam transformar isso em valor prático", diz Dellagnelo. Em 2019, com a ascensão do conceito de "modern data stack", a Indicium começou a se posicionar como parceira para implantação de plataformas modernas, e viu a demanda escalar globalmente.
É nesse contexto que surge a aproximação com a Databricks, considerada hoje a principal plataforma de dados e IA no mundo. Em 2024, a Indicium fechou uma Série A de até US$ 40 milhões com a gestora americana Columbia Capital. O valor inicial não foi divulgado.
A história da Indicium começa com uma virada de carreira. Matheus Dellagnelo era atleta profissional de vela e engenheiro formado pela UFSC. Após conquistar medalhas no Panamericano e fazer mestrado na Califórnia, voltou ao Brasil em 2016 e foi convidado a avaliar uma empresa de tecnologia que buscava novos rumos.
A partir disso, propôs um novo modelo: uma consultoria de dados com abordagem ponta a ponta, da estratégia à execução.
Ao lado de Daniel Avancini, Isabela Blasi e Vitor Avancini, fundou a Indicium em Florianópolis. O foco inicial era ajudar empresas a vender mais, reduzir custos e minimizar riscos por meio da utilização de dados.
Entre 2017 e 2022, a companhia operou com capital próprio e foi lucrativa a partir de 2018. O primeiro grande salto veio em 2019, quando começou a atuar com o ecossistema da Databricks e a vender para fora do Brasil.
"Hoje, todas as grandes corporações estão correndo para modernizar seus sistemas de dados e adotar IA. Nós temos capacidade de entregar isso em escala, com velocidade e eficiência", diz Dellagnelo.
Um dos exemplos é o projeto com a Copa Energia, que usava um sistema manual para concessão de crédito. A Indicium implementou uma solução baseada na plataforma Lakehouse da Databricks com IA generativa, reduzindo em US$ 2,5 milhões o risco anual da empresa.
Se é comum que startups latino-americanas sejam adquiridas ou virem centros de entrega (delivery centers) de grupos estrangeiros, a Indicium fez o movimento oposto: consolidou-se na região para então abrir um escritório em Nova York, onde hoje está sua sede.
A partir do novo investimento, a Indicium espera acelerar a expansão comercial e o desenvolvimento de propriedade intelectual. A empresa possui um framework próprio, o IndiMesh, que reduz em mais de 50% o tempo de entrega de soluções, e um acelerador que automatiza até 80% das migrações para a plataforma da Databricks.
Para 2026, a projeção da Indicium é dobrar de tamanho, mantendo o ritmo de crescimento de 100% ao ano. "Estamos construindo uma empresa global com DNA brasileiro e impacto internacional", resume o CEO.
Fundada em 2013 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, a Databricks nasceu como um spin-off do laboratório AMPLab e se tornou referência no processamento de dados em larga escala.
A empresa cresceu rapidamente ao desenvolver o conceito de Lakehouse, que combina as vantagens de um banco de dados tradicional (data warehouse) com a flexibilidade do armazenamento de dados não estruturados (data lake).
Hoje, a Databricks atende mais de 12.000 clientes no mundo, incluindo 500 empresas que geram mais de US$ 1 milhão em receita para a companhia anualmente. No Brasil, clientes como Santander, Nubank, Bradesco e Casas Bahia já utilizam suas soluções para análise de dados e IA.
O Brasil já é um dos dez mercados mais estratégicos para a empresa no mundo. A empresa conta com cerca de 150 funcionários por aqui e espera ampliar significativamente sua equipe nos próximos anos. Além disso, anunciou recentemente a abertura de um terceiro escritório na América Latina, no México.
Globalmente, a Databricks registra um crescimento de mais de 60% ao ano e já alcançou US$ 3 bilhões em receita anualizada. Em dezembro de 2024, a empresa captou US$ 10 bilhões de dólares, o que levou a Databricks a ser avaliada em US$ 62 bilhões.