João Teodoro, presidente do Sistema Cofeci-Creci: 41% dos profissionais híbridos mudariam de emprego se perdessem o direito ao remoto (COFECI/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 27 de agosto de 2025 às 16h23.
Última atualização em 3 de setembro de 2025 às 17h15.
Por João Teodoro,
presidente do Sistema Cofeci-Creci
A pandemia de coronavírus, decretada em 11 de março de 2020 pela OMS, acelerou uma tendência que vinha de forma tímida: o trabalho remoto. No auge das restrições, cerca de 23% dos trabalhadores estavam em home office. Com o fim da pandemia, anunciado em 5 de maio de 2023, essa modalidade perdeu força, mas deixou marcas profundas — especialmente nas gerações mais jovens, que já nasceram imersas na tecnologia, como a geração Z.
A entrada dessa nova leva de profissionais no mercado está transformando não apenas a forma como as empresas se organizam, mas também como os espaços corporativos e o próprio mercado imobiliário funcionam.
Nascidos entre 1995 e 2010, eles cresceram em um mundo digital, multicultural e acelerado — e levam para o trabalho uma visão centrada em propósito, autonomia e equilíbrio de vida. Nesse cenário, o modelo híbrido — mesclando momentos presenciais e remotos — se consolidou como preferência e impõe desafios a estruturas corporativas tradicionais.
Segundo o relatório State of Hybrid Work 2024 da Owl Labs, 43% dos trabalhadores afirmaram ter sentido aumento do estresse no último ano, e 89% disseram que não houve melhora nesse aspecto. Entre os mais afetados estão os jovens da geração Z, que popularizaram o termo crashing out — um colapso emocional causado por sobrecarga, frustração e perda de sentido no trabalho.
Para eles, trabalhar não pode ser apenas uma obrigação mecânica: precisa se alinhar à saúde mental, ao tempo livre e aos valores pessoais. A imposição do retorno ao escritório, por exemplo, é uma das principais fontes de insatisfação. Metade dos entrevistados no estudo disse não ver propósito claro na presença física.
O custo também pesa: nos Estados Unidos, um dia no escritório sai, em média, US$ 61 a mais por pessoa. No Brasil, a proporção é igualmente significativa, somando transporte, alimentação e outros gastos. Não à toa, 41% dos profissionais híbridos afirmam que mudariam de emprego caso perdessem a possibilidade de trabalhar remotamente.
Esse novo comportamento profissional provoca efeitos em cadeia. Muitas empresas estão reduzindo o tamanho dos escritórios e buscando alternativas como coworkings, contratos flexíveis e espaços compartilhados. A vacância de imóveis comerciais cresce, pressionando preços para baixo e forçando investidores a rever estratégias.
Ao mesmo tempo, o interesse por imóveis residenciais com espaço para home office dispara, beneficiando cidades médias e regiões mais afastadas dos grandes centros — locais com custo de vida menor e melhor qualidade de vida.
A geração Z está no centro de uma transformação irreversível. Para eles, flexibilidade não é benefício, mas pré-requisito. As empresas que ignorarem essa mudança correm o risco de perder talentos e competitividade.
No mercado imobiliário, a lógica também se inverte: a casa passa a ser não só espaço de moradia, mas de produção, criatividade e interação digital. O escritório físico, antes símbolo de status e produtividade, torna-se um complemento — e não mais o núcleo da vida profissional.
Essa transição ganha ainda mais força com o avanço da inteligência artificial, que amplia a capacidade de trabalhar e colaborar de qualquer lugar. A combinação de novas tecnologias e novas mentalidades indica que o futuro do trabalho e do setor imobiliário brasileiro será híbrido, descentralizado e orientado pela qualidade de vida.