Ala Zelazo, da Genco Energia: "Somos uma empresa criada por pessoas que conhecem profundamente o mercado, tanto do ponto de vista regulatório quanto técnico. Esse know-how nos permite operar com eficiência em um mercado tão complexo quanto o norte-americano" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 10h02.
Última atualização em 21 de janeiro de 2025 às 11h31.
Com sede recém-inaugurada em Dallas, no Texas, a Genco Energia está apostando alto em um modelo de negócio que promete resolver um dos principais gargalos do mercado energético dos Estados Unidos: a demanda por energia estável e acessível em um cenário de infraestrutura elétrica descentralizada e sobrecarregada.
A estratégia da empresa brasileira, sediada em São Paulo, é inovadora: turbinas térmicas móveis, capazes de gerar energia de forma rápida e flexível, já estão sendo alugadas para empresas como as do setor de óleo e gás, e em breve atenderão à crescente demanda de data centers, impulsionada pela revolução da inteligência artificial.
"Expandir para o mercado americano faz parte da estratégia da Genco de diversificação em novos mercados e de obtenção de receitas em moedas fortes", diz Alan Zelazo, sócio-fundador da Genco.
O investimento inicial, de aproximadamente 120 milhões de dólares, incluiu a aquisição de oito turbinas móveis, cada uma com capacidade de 16,5 megawatts.
Até julho de 2025, a empresa pretende dobrar esse número e, em cinco anos, alcançar 50 máquinas, consolidando sua presença no mercado norte-americano.
Fundada por Alan Zelazo e outros ex-sócios da Focus Energia, a Genco é uma empresa brasileira especializada em geração e comercialização de energia limpa e renovável. Desde sua criação, em 2022, a companhia tem se destacado por projetos inovadores e soluções personalizadas para atender a setores como petroquímico, têxtil e mineração.
Entre seus feitos mais notáveis, estão a viabilização do maior complexo solar da América Latina e a condução do primeiro IPO de uma empresa de energia no Brasil em mais de seis anos, ainda nos tempos de Focus.
A Genco opera em geração distribuída e no mercado livre de energia no Brasil, somando 90 megawatts de capacidade em pequenos projetos solares. A aposta nos Estados Unidos marca a internacionalização da companhia e o início de uma nova fase estratégica.
"Acreditamos que o mercado americano oferece não apenas uma demanda robusta, mas também um ambiente regulatório estável e uma segurança jurídica que são fundamentais para o sucesso de um investimento como o nosso", afirma Zelazo.
Alan Zelazo é um dos fundadores da Genco. Após criar a Focus Energia em 2015 e transformá-la em uma referência nacional, ele liderou sua venda para a Eneva por 1,3 bilhão de reais em 2022.
Agora, com a Genco, ele se junta a outros sócios de peso, como Carlos Baccan Netto, ex-diretor de trading de energia da Focus; Henrique Casotti, responsável pela área regulatória da antiga empresa; e Eduardo Dal Sasso Mendonça Cruz, que também fez parte do time fundador da Focus.
Juntos, os sócios acumulam décadas de experiência no setor energético, expertise que vem sendo decisiva para a rápida ascensão da Genco. "Somos uma empresa criada por pessoas que conhecem profundamente o mercado, tanto do ponto de vista regulatório quanto técnico. Esse know-how nos permite operar com eficiência em um mercado tão complexo quanto o norte-americano", diz Zelazo.
A GencoUS, como é chamado o braço americano da empresa, baseia seu modelo em locação de turbinas térmicas móveis — equipamentos robustos e adaptáveis, que podem ser instalados em apenas três dias e atender demandas de curto prazo sem depender diretamente da infraestrutura elétrica.
Cada turbina, transportada por caminhões, é capaz de gerar 16,5 megawatts, suficiente para suprir as necessidades de uma pequena cidade ou de um complexo industrial.
O diferencial está na flexibilidade: enquanto a energia gerada pode ser utilizada em sistemas off-grid (desconectados da rede), os clientes têm a liberdade de cuidar da própria gestão de combustível, aproveitando a infraestrutura de gás natural já consolidada nos Estados Unidos.
Enquanto outras empresas investem em usinas fixas, a Genco aposta na mobilidade como resposta à imprevisibilidade da demanda energética. "Podemos instalar nossas turbinas em três dias, algo impensável em sistemas tradicionais", diz Zelazo.
A fórmula permite que empresas como Amazon e Microsoft, que enfrentam dificuldades para conectar seus data centers à rede elétrica em estados como Virgínia e Texas, tenham uma solução temporária para operar enquanto aguardam a finalização de projetos maiores.
O investimento inicial da GencoUS já começa a dar frutos. As duas primeiras turbinas estão alugadas para uma empresa de óleo e gás no Colorado, em um contrato de 39 milhões de dólares ao longo de quatro anos.
Outras unidades estão programadas para entrar em operação ao longo de 2025, com foco inicial nos mercados de óleo e gás e de data centers. A empresa projeta que 80% de seus resultados em 2025 virão dessa operação internacional.
A escolha de focar em data centers como mercado-alvo não é por acaso. A revolução da inteligência artificial está desencadeando uma demanda sem precedentes por infraestrutura de tecnologia, com empresas globais construindo megaprojetos nos Estados Unidos para armazenar e processar dados.
Segundo estimativas do setor, data centers focados em IA consomem até 10 vezes mais energia do que os tradicionais voltados para telecomunicações e armazenamento básico.
Os Estados Unidos lideram o crescimento desse mercado. Por lá, a demanda por energia para data centers deve crescer 30% ao ano, enquanto gargalos na infraestrutura elétrica podem atrasar projetos críticos em até cinco anos.
Apenas na Virgínia, há 20 gigawatts de projetos de data centers esperando para se conectar à rede elétrica — um volume equivalente a um terço da capacidade instalada do Brasil.
No Texas, a demanda potencial alcança 60 gigawatts, o que levou o estado a mobilizar seus principais fornecedores de equipamentos para discutir formas de ampliar a capacidade de transmissão e geração.
Com a infraestrutura elétrica norte-americana fragmentada em 48 sistemas independentes, os desafios são enormes. Essa descentralização, somada à expansão de fontes renováveis intermitentes como solar e eólica, cria gargalos que tornam soluções temporárias de geração off-grid, como as turbinas da Genco, uma alternativa essencial para manter o funcionamento dos novos data centers.
"A nossa tecnologia não é uma novidade em si, mas atende a uma necessidade urgente e crescente. Oferecemos uma solução que une agilidade e segurança, características essenciais para quem opera em mercados tão exigentes quanto os de data centers e óleo e gás", explica Zelazo.
Enquanto a Genco comemora sua entrada em um dos mercados mais competitivos do mundo, a empresa também reconhece os desafios pela frente. A alta demanda por turbinas térmicas gerou um gargalo na oferta de equipamentos, com novos pedidos sendo entregues apenas a partir de 2027.
Para driblar esse obstáculo, a companhia aposta em sua capacidade de negociação com fornecedores como Caterpillar e Solar Turbines, além de buscar expandir seu portfólio de máquinas no médio prazo.
No horizonte de cinco anos, a Genco planeja expandir sua frota de turbinas para 50 unidades e explorar novos mercados fora dos Estados Unidos, como Caribe e México, onde a demanda por energia temporária também está em alta.
Com um mercado em crescimento acelerado e desafios na cadeia de suprimentos, a Genco está determinada a se consolidar como líder em energia temporária. "Nosso modelo é escalável e estamos prontos para explorar novas regiões, sem perder de vista eficiência e sustentabilidade", diz Zelazo.