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Gasoduto da discórdia: por que o russo Nord Stream 2 desafia os EUA

A gigantesca malha de dutos que transportam gás natural da Rússia para a Europa está causando uma crise diplomática

Malha de gasodutos Nord Stream, da russa Gazprom (Gazprom/Divulgação)

Malha de gasodutos Nord Stream, da russa Gazprom (Gazprom/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 16 de julho de 2020 às 13h43.

Última atualização em 16 de julho de 2020 às 14h27.

Um verdadeiro "monstro" da Rússia de mais de 1.300 quilômetros de extensão, que distribui gás natural da estatal Gazprom, está tirando o sono do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O governo americano acaba de anunciar mais uma medida para limitar o alcance do gasoduto Nord Stream 2, em um embate que deve se acirrar ainda mais daqui para a frente.

A disputa, entretanto, não é de hoje. Há muito tempo o gasoduto vem causando discórdia. O empreendimento é a segunda fase de um grande projeto da Gazprom, o Nord Stream. Somados, os gasodutos têm mais de 2.600 quilômetros de extensão e cortam o velho continente.

A malha de dutos que permite o transporte de gás natural — insumo amplamente utilizado na Europa para combater as baixíssimas temperaturas do inverno — reduziu consideravelmente os custos com logística na região. 

O Nord Stream 2 teve o apoio maciço da chanceler alemã Angela Merkel, uma vez que a Alemanha quer reduzir a dependência do carvão por preocupações ambientais. O objetivo é substituir o insumo pelo gás natural para aquecimento. 

O apoio tem causado uma crise diplomática. De um lado, a líder defende a malha de gasodutos e, do outro, o presidente dos Estados Unidos não perde a oportunidade de atacar o empreendimento russo. 

Para os americanos, o Nord Stream 2 aumenta ainda mais a dependência europeia em relação ao Kremlin. Cerca de 40% do gás natural consumido na região vem da Rússia. Vale lembrar que, em meados de 2009, uma disputa entre a Gazprom e a estatal ucraniana Naftogaz fez com que o fornecimento de gás fosse cortado por completo em alguns países em pleno inverno, com temperaturas que chegam a -20° C. 

Mas o buraco é ainda mais embaixo. Com a expansão do shale gas americano, os Estados Unidos passaram a produzir volumes colossais de óleo e gás. O país tem ambição de exportar grandes volumes de gás natural liquefeito — o insumo em estado líquido, ou simplesmente GNL — por navios, o que poderia abrir um novo e vasto mercado para o shale americano e diminuir a participação do gás russo na Europa.

Com a conclusão do Nord Stream 2, porém, essa ambição torna-se improvável. Os custos do gás russo são muito menores do que importar GNL dos Estados Unidos: além do transporte, manter estações de regaseificação do insumo é uma despesa adicional à operação.  

Neste cenário, o governo americano impôs sanções ao Nord Stream 2. Nesta quarta-feira, 15, Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos, anunciou a eliminação de uma norma que evitava a imposição de sanções a empresas envolvidas no gasoduto. 

Em entrevista coletiva, Pompeo foi enfático sobre o tema, mandando um recado às empresas que participam do projeto, principalmente russas e alemãs: “Saiam daí ou enfrentarão as consequências”, ameaçou.

O secretário acrescentou que esta é uma advertência clara para as empresas que contribuem com os “projetos malignos de influência russa e seus cúmplices.”

O Nord Stream 2 está quase todo concluído, faltando cerca de 15% do projeto para finalização. Além de levar gás natural para a Alemanha, também passará por Finlândia, Suécia e Dinamarca, pelo Mar Báltico.

Até lá, os ânimos devem ficar ainda mais acirrados. Principalmente após a pandemia e a recessão que a maioria dos países do mundo deve enfrentar no curto e médio prazo. Em um cenário de necessidade de corte de custos, os países da Europa estariam dispostos a manter essa queda de braço com os Estados Unidos? O clima de uma nova “guerra fria” no setor de energia está se desenhando desde o ano passado e, a depender da disposição dos atores envolvidos, os próximos capítulos podem ser ainda mais acalorados.

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