O primeiro a concluir a captação de novo fundo foi o Pátria, que já investiu em companhias como Anhanguera Educacional, Casa do Pão de Queijo e Drogasil (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2014 às 08h46.
Nova York e São Paulo - As empresas de private equity - que compram participações em outras companhias para vender, no futuro, com lucro - estão passando por uma nova onda de captação de recursos no país.
Nos próximos meses, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, ao menos US$ 8,3 bilhões devem entrar no caixa dos fundos - dinheiro novo que virá de investidores estrangeiros, fundos de pensão e family offices (que administram as fortunas de famílias com alta renda).
Essa nova rodada de investimentos coincide com um momento em que as perspectivas econômicas para o país são fracas. "Isso afasta os investidores de curto prazo e aumenta as oportunidades para quem olha o longo prazo, como fundos de pensão", diz Clóvis Meurer, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
Entre os grandes gestores que atuam no Brasil, o primeiro a concluir a captação de novo fundo foi o Pátria, que tem em seu histórico de investimentos companhias como Anhanguera Educacional, Casa do Pão de Queijo e Drogasil.
Sócio da americana Blackstone, maior empresa de private equity do mundo, o Pátria concluiu no mês passado a captação de seu quinto fundo, com patrimônio de US$ 1,8 bilhão.
Apesar da conjuntura econômica e das incertezas naturais de um ano eleitoral, o Pátria conseguiu levantar esse dinheiro num prazo recorde de oito meses, enquanto na indústria a média é de um ano e meio a dois anos.
"Numa situação em que os investidores estão mais seletivos, rentabilidade e credibilidade fazem diferença", diz Marco Nicola DIppolito, sócio do Pátria. Segundo ele, a empresa tem entregado um retorno de 30% ao ano aos investidores, posicionando-se entre as mais rentáveis do setor no mundo.
O próximo da fila a concluir a captação deve ser o Gávea, fundado pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Segundo fontes de mercado, a empresa vai levantar US$ 1,1 bilhão nos próximos meses.
Os recursos serão aplicados em segmentos que, tradicionalmente, estão no radar da empresa, como consumo, saúde e logística. Esse não é o maior fundo do Gávea. O anterior, captado em 2011, tinha o dobro do patrimônio.
Porte
Essa deve ser uma característica da nova onda captação, diz Renato Abissamra, da Spectra, que investe em fundos de private equity. "As empresas estão conseguindo levantar recursos, mas os fundos são menos robustos do que os de 2010 e 2011, quando a indústria captou mais de US$ 12 bilhões no país."
Há exceções. A gestora americana Advent, que, no Brasil, já investiu em companhias como a Kroton, prepara o lançamento de um de seus maiores fundos para investir na América Latina, com patrimônio de US$ 2 bilhões, segundo fontes.
O último fundo da Advent para a região foi lançado em 2010, com patrimônio de US$ 1,65 bilhão. A empresa não comentou as informações.
Outro fundo americano que está disputando o dinheiro dos investidores para o Brasil é o Carlyle, sócio da CVC e da Tok&Stok. A gestora levantou R$ 360 milhões em 2009 e agora tenta captar, até o fim do ano, mais R$ 1 bilhão com investidores institucionais e family offices.
Segundo Juan Carlos Felix, diretor geral do Carlyle no Brasil, como a Bolsa está numa fase ruim, os private equities estão captando com mais facilidade.
Mas isso não vale para todo o setor. Segundo uma fonte do setor, algumas empresas estão com dificuldades para atrair investidores. "Nesse processo, levam-se em conta os ativos nos quais o fundo já investiu e a performance deles.
Quem não vai bem, tem mais dificuldade." O BTG está tentando estruturar um fundo para o ano que vem, com o objetivo de levantar US$ 1,5 bilhão. E o GP, que acabou de fechar seu quinto fundo, diz que não tem planos de captar nos próximos 12 meses.
Mercado
Dados da Emerging Markets Private Equity Association (Empea), associação com sede em Washington que reúne as principais gestoras dedicadas a mercados emergentes, mostram que, só no Brasil, as captações dos fundos caíram 64% no ano passado.
Além disso, o país passou a atrair nos últimos anos grandes gestoras internacionais, competindo com as locais por boas empresas, o que encareceu os preços dos ativos. Com isso, os investimentos dos fundos também recuaram. Segundo a Empea, houve retração de 40% em 2013, para o menor nível desde 2009.
Agora, com a fraca atividade econômica, a possibilidade de encontrar ativos com bons preços aumenta. "O Brasil está tão ruim, que está bom", declarou recentemente o diretor da Fortress Investment Group, Michael Novogratz, ressaltando a piora de indicadores fiscais, inflação alta, queda da competitividade e baixo crescimento do crédito.
Para ele, diante desse ambiente desanimador, a expectativa é que mudanças vão acontecer após as eleições de outubro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.