José Augusto Albino, da Primus: "Nosso papel é ser o primeiro investidor institucional a apostar nos empreendedores do Sul, muitas vezes quando ainda estão invisíveis para os grandes fundos da Faria Lima" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 11 de abril de 2025 às 19h30.
Última atualização em 11 de abril de 2025 às 19h42.
O mercado de venture capital brasileiro vive um momento de cautela, com menos rodadas de investimento e mais pressão por resultados.
Nesse cenário, gestoras regionais estão ganhando espaço ao focar em teses específicas, longe dos grandes centros como São Paulo.
É nessa brecha que a Primus Ventures quer se posicionar com seu novo fundo de R$ 100 milhões.
Lançado durante o South Summit Brazil, em Porto Alegre, o fundo foca exclusivamente as startups de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná que vendem para outras empresas (B2B).
O novo fundo marca a virada estratégica da gestora, que já atuava como estruturadora de veículos de investimento.
Com histórico de retorno acima da média em fundos anteriores, como o Cventures Primus, a Primus agora assume a ponta da operação, com gestão ativa e estratégia definida para liderar as primeiras rodadas das startups da região.
"Nosso papel é ser o primeiro investidor institucional a apostar nos empreendedores do Sul, muitas vezes quando ainda estão invisíveis para os grandes fundos da Faria Lima", afirma José Augusto Albino, sócio da Primus e gestor responsável pelo novo fundo.
A meta é clara: investir em até 20 startups, com aportes que variam de R$ 500 mil a R$ 10 milhões, sempre em rodadas iniciais e com a possibilidade de seguir em follow-ons.
A preferência é por negócios B2B com validação de produto, alguma tração e potencial de escalar com apoio estratégico.
A história da Primus Ventures está diretamente ligada à experiência dos sócios com fundos como o Cventures Primus, criado em parceria com a Fundação Certi, e que gerou um retorno de 5,1 vezes o capital investido — número acima da média do setor no Brasil.
"Boa parte do sucesso veio da proximidade com os empreendedores e do conhecimento do ecossistema local. O caso da Asaas, por exemplo, começou com a startup faturando R$ 30 mil por mês, e hoje é referência nacional", diz Albino.
O fundo anterior reuniu empresas como Exact Sales, Hiper, Asaas e Checkplant e teve como cotistas desde investidores institucionais como o BRDE e Badesul até empreendedores locais.
Parte desses investidores está de volta no novo fundo, que já tem mais de R$ 50 milhões captados e pretende fechar a conta até o fim de 2025.
A Primus não disputa espaço com fundos que buscam os mesmos empreendedores em São Paulo. O objetivo é chegar antes — em cidades polo do interior como Joinville, Pelotas ou Blumenau — e encontrar talentos ainda fora do radar.
"Trabalhamos com sola de sapato, indo a eventos, visitando universidades, incubadoras, aceleradoras. É ali que encontramos os empreendedores que mais nos interessam", diz Albino.
O foco em modelos B2B é um reflexo da estrutura econômica da região. O Sul concentra um grande número de empresas médias e grandes, com decisores acessíveis, o que facilita a tração inicial de startups que vendem soluções para o mercado corporativo.
"Em São Paulo, a burocracia e o ciclo de vendas das grandes empresas são um gargalo. Aqui, os ciclos são mais curtos e os executivos mais acessíveis", afirma o gestor.
O fundo tem uma postura setorialmente agnóstica, mas com atenção a setores como fintech, retailtech, healthtech, agritech, energia, indústria 4.0 e infraestrutura de TI. A inteligência artificial é uma condição quase obrigatória para as novas investidas.
“IA hoje não é um diferencial, é o básico. Buscamos startups que usem IA tanto internamente, para ganhar eficiência, quanto como base da sua proposta de valor”, diz Albino.
Entre os setores com negociações em andamento estão RH com IA, manufatura com analytics preditivo e infraestrutura bancária baseada em IA.
O fundo já nasce com apoio institucional forte. BRDE e Badesul são os primeiros cotistas e compartilham da tese regional de longo prazo.
"Essa parceria vai além do capital. São instituições que conhecem a região, os empreendedores e os gargalos que precisam ser superados para criar negócios escaláveis", diz Albino.
A escolha por manter o fundo em R$ 100 milhões também é estratégica. Para os sócios, esse é o tamanho ideal para manter o envolvimento direto com cada investida.
"Se a gestora cresce demais, a relação vira planilha. Nosso ganho vem da performance do fundo, não da taxa de administração", afirma.
A seleção das startups começa no segundo semestre de 2025. Até lá, o time da Primus seguirá captando os recursos restantes e ampliando sua rede de parceiros e fontes de dealflow.
“Estamos em conversas avançadas com investidores do Sul e também de São Paulo, como family offices que querem exposição a startups fora do eixo tradicional”, afirma Albino.
O fundo terá um período de investimento de quatro a cinco anos e horizonte de dez anos. A expectativa é que o Sul Ventures seja o início de uma nova fase da Primus Ventures, com um portfólio mais enxuto, foco em performance e visão de longo prazo.