Cooperativa de reciclagem: das 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil por ano, apenas 2% são reciclados (Visoot Uthairam/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2022 às 07h30.
Última atualização em 26 de outubro de 2022 às 14h17.
Separar o lixo entre orgânico e reciclável, só isso. Essa atitude simples dentro de casa é o que movimenta toda a cadeia da coleta seletiva. Sem esse gesto, muito do que poderia ser reaproveitado acaba se misturando aos rejeitos comuns e indo parar em aterros e lixões.
A destinação inadequada gera não somente enormes prejuízos ambientais e à saúde de todos, mas também financeiros. O Brasil perde pelo menos R$ 14 bilhões todos os anos com o não aproveitamento desses recicláveis descartados incorretamente, segundo estimativas da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos (Abrelpe).
Entretanto, mais de 70% dos brasileiros não dividem o lixo comum e o reciclável, e 77% sabem que grande parte dos plásticos, por exemplo, pode ser reciclada, mas continua descartando esses materiais de modo errado, conforme apontou uma pesquisa do Ibope, em parceria com a Abrelpe e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Para mudar esses índices, é importante entender como é feita a coleta seletiva, um processo complexo que gera benefícios ambientais, sanitários, econômicos e sociais, da qual a simples separação do lixo em casa é o primeiro passo.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, com seus 12 milhões de habitantes, recolher o lixo requer uma megaoperação. São cerca de 10 mil toneladas por dia só na coleta domiciliar, segundo a prefeitura, sendo 280 toneladas de resíduos recicláveis, uma média de 7 mil toneladas por mês.
A coleta seletiva cobre 76% das vias, com duas concessionárias dividindo a operação, que envolve aproximadamente 6 mil funcionários e 555 veículos.
“Fazer a gestão dos resíduos sólidos em uma megalópole como São Paulo é um trabalho de tempo integral, que exige planejamento e dedicação de toda a equipe”, comenta Edson Stek, diretor de operações da Loga, uma dessas concessionárias.
Nesse serviço, os caminhões têm características diferentes dos que recolhem o lixo comum. Estes são capazes de compactar uma grande quantidade de sacos, já que o material não será reaproveitado, podendo armazenar até 10 toneladas. Já os da coleta seletiva, em que o material não pode ser danificado, usam uma pressão muito menor e, por isso, comportam cerca de 3 toneladas.
Depois de recolhidos nas residências, os resíduos têm dois destinos. Prioritariamente, são encaminhados para as 25 cooperativas de reciclagem habilitadas no Programa Socioambiental de Coleta Seletiva da prefeitura, onde os materiais passam por triagem, prensagem e pesagem, e dali são comercializados para indústrias que vão utilizá-los.
Essas cooperativas ficam com 100% do lucro das vendas dos materiais, gerando renda para quase mil famílias de cooperados.
O restante vai para as duas Centrais Mecanizadas de Triagem da capital, que são operadas por uma cooperativa habilitada. O dinheiro da venda aqui é destinado para o Fundo das Centrais de Triagem Mecanizadas. Metade do lucro retorna para as cooperativas habilitadas, por meio do custeio de despesas, e a outra parte é investida em capacitação profissional e auxílio aos cooperados.
De acordo com a prefeitura de São Paulo, a cidade é a única da América Latina com centrais mecanizadas capazes de separar os resíduos para a reciclagem. As duas modernas instalações têm capacidade para processar 500 mil toneladas de resíduos recicláveis por dia, em dois turnos, seis dias por semana. Entenda, no vídeo a seguir, como elas operam:
O material que, na triagem, não for identificado como reciclável seguirá junto com os demais resíduos da coleta domiciliar, sendo destinado ao aterro sanitário.
Além da coleta porta a porta, os paulistanos podem fazer o descarte correto nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), que atualmente são mais de 3.800 distribuídos pelo município. Contam ainda com mais de 120 Ecopontos, que recebem também pequenos volumes de entulho (até 1 m³) e grandes objetos (como móveis e poda de árvores).
Embora a adesão da população tenha aumentado nos últimos anos, os números da reciclagem no Brasil ainda são muito baixos: o país gera 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos todos os anos e só recicla 2%, segundo a Abrelpe.
Alterar esse cenário passa por uma série de medidas, como políticas públicas para ampliação da coleta seletiva – um quarto dos municípios brasileiros não contam com o serviço, de acordo com a associação –, mas especialmente por uma mudança na conduta dentro dos lares.
Para conscientizar a população disso e aumentar o volume da coleta, em São Paulo, as concessionárias, com apoio da prefeitura da cidade, criaram o movimento Recicla Sampa, com uma plataforma digital repleta de conteúdo prático sobre o assunto.
Nela, o paulistano pode consultar, por exemplo, os horários em que a coleta seletiva passa nas ruas e os pontos de descarte para diversos tipos de resíduos, como eletrônicos, óleo de cozinha, lâmpadas etc., além de acessar materiais que ajudam na hora de separar o lixo e um reciclômetro, que mostra o volume de resíduos sendo reciclados nas centrais.
“Moramos em uma das dez maiores metrópoles do mundo. Temos uma responsabilidade histórica quando o assunto é a sustentabilidade ambiental, tema diretamente vinculado à reciclagem dos resíduos que geramos diariamente em nossas casas. Cada um deve ser responsável pelo lixo que produz e pela separação daquilo que pode vir a ser reciclado. É preciso repensar o nosso jeito de viver e de agir em São Paulo”, diz a apresentação da iniciativa.
Se você ainda não separa o lixo doméstico para a coleta seletiva, veja como é simples neste link.