Washington Post: o Washington Post, que há alguns anos estava avaliado em mais de 1 bilhão de dólares, viu como suas perdas aumentavam de forma progressiva e finalmente foi vendido a Jeff Bezos por 250 milhões de dólares. (©afp.com / Nicholas Kamm)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2013 às 17h06.
Enfrentando o desafio da internet, que "rouba" leitores e prejudica seus lucros, os jornais norte-americanos dependem cada vez mais de grandes fortunas para sobreviver.
O Washington Post, que revelou nos anos 70 o escândalo "Watergate" provocando a renúncia do presidente Richard Nixon, anunciou na segunda-feira, para surpresa geral, sua venda a Jeff Bezos, dono de uma fortuna de mais de 250 milhões de dólares graças ao sucesso de sua empresa de comércio eletrônico Amazon.
Dois dias antes foi o Boston Globe, que passou às mãos de John Henry, o multimilionário proprietário da equipe de beisebol Red Sox.
O investidor Warren Buffett, o quarto homem mais rico do planeta, segundo a revista Forbes, adquiriu mais de vinte jornais nos últimos dois anos.
Apesar da venda do Washington Post ter sido chocante para o setor, suas razões não são nenhuma surpresa: a família Graham, que controlou o jornal durante 80 anos, admitiu que não tem a "resposta" para a pergunta de como fazer dinheiro em um momento em que os jornais impressos seduzem pouco e os leitores se contentam com a informação disponível de forma gratuita na internet.
O Washington Post, que esteve muito tempo no centro dos debates políticos nos Estados Unidos e desafiou o "establishment", tem que compartilhar agora sua influência com outros meios.
Em 2007, dois de suas principais jornalistas deixaram o jornal para fundar a publicação online Politico.
O Washington Post, que há alguns anos estava avaliado em mais de 1 bilhão de dólares, viu como suas perdas aumentavam de forma progressiva e finalmente foi vendido a Jeff Bezos por 250 milhões de dólares.
Contudo, esta cifra é mais alta que os 70 milhões de dólares pagos pelo magnata John W. Henry, o investidor norte-americano e proprietário do Liverpool inglês e dos Red Sox, pelo Boston Globe, que há 10 anos custou 1,1 bilhão.
Alguns gigantes como o The Financial Times, The Wall Street Journal ou The New York Times conseguiram fazer funcionar sistemas de pagamento na internet.
Contudo, a maioria vai precisar um forte incentivo financeiro nos próximos anos para sobreviver durante esta etapa de "transição".
"A aceleração da queda da publicidade na imprensa escrita, junto a um crescimento frágil, ou inexistente, da receita com publicidade online, projeta um panorama sombrio para os próximos anos", comenta Ken Doctor, da consultora Nieman Journalism Lab.
A incógnita agora é que é os novos proprietários vão fazer com eles, para os quais a compra não são mais que moedas soltas.
John Henry foi discreto com suas intenções para o Boston Globe e alguns temem que seja só uma plataforma para promover seu clube.
"Como vai gerir o Post, como um homem de negócios ou como um filantropo ou um híbrido entre ambos?", se pergunta Ryan Chittum, da Columbia Journalism Review.
O especialista disse que Bezo prometeu conservar os valores do veículo, mas alertou que a internet transforma quase todos os aspectos da atividade e que a retomada não vai ser fácil e que vai ser necessário "experimentar".
Warren Buffett tem outro argumento já que se concentra mais no mercado dos jornais locais em vez dos de tiragem nacional, afirmando que eles estão mais "enraizados" nas comunidades e que isso vai permitir sua sobrevivência.
"Estou feliz de que Bezos use sua fortuna para salvar uma instituição norte-americana que é importante e necessária", destacou Jeff Jarvis, do portal Buzzmachine. "Contudo, espero que o verdadeiro valor desta contribuição seja seu espírito empreendedor, de inovação e sua nova perspectiva, que lhe permita reconfigurar a informação".