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Por que essa pequena startup de Goiás conquistou a OAB — e prevê crescer 21.500% em um ano?

Em breve, a Forlex estará disponível gratuitamente para os 1,5 milhão de advogados registrados no Brasil

Vinícius Espíndula e Daniel Bichuetti, da Forlex: dupla se conheceu através do pai de um dos fundadores

Vinícius Espíndula e Daniel Bichuetti, da Forlex: dupla se conheceu através do pai de um dos fundadores

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 8 de setembro de 2025 às 08h10.

Última atualização em 8 de setembro de 2025 às 09h35.

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Com um contrato nacional firmado com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a legaltech Forlex espera atingir R$ 648 milhões em receita anual a partir de 2026. A única coisa é que o faturamento do ano passado foi de R$ 3 milhões.

A estimativa ambiciosa parte da adesão em massa prevista pela entidade, que conta com mais de 1,5 milhão de advogados registrados. A startup desenvolveu a plataforma Livia, um chatbot de inteligência artificial generativa treinada exclusivamente com bases jurídicas nacionais.

A primeira seccional a adotar a ferramenta é a OAB de Goiás, e o acesso ao plano Starter da plataforma é gratuito para toda a categoria. Os valores dos outros planos precisam ser consultados diretamente com a empresa.

A expectativa da OAB é que a ferramenta auxilie na redução de sobrecarga no trabalho de advogados e também de juízes, com assistência em análise de processos e redação de petições. Hoje, o Brasil concentra mais de 79 milhões de processos ativos, suspensos ou arquivados, segundo dados de julho do CNJ.

Como a pequena conquistou a gigante?

A história dos fundadores ajuda a explicar o sucesso da empresa. O advogado Vinícius Espíndula e o engenheiro Daniel Bichuetti se conheceram através do pai de Daniel, que trabalhava com Vinícius. Programador desde os 12 anos, Bichuetti já estava interessado em desenvolver uma ferramenta quando percebeu que poderia resolver as dores da rotina do pai e do setor como um todo.

"A inteligência artificial vem para oferecer uma coisa que é muito cara para os advogados: o tempo", diz Espíndula. O goiano atuou na área jurídica por cerca de 10 anos, com passagens pelo Ministério Público (como assessor de promotor) e o Tribunal de Justiça (transitando por gabinetes de desembargador e assessoria da presidência). Assim como Bichuetti, foi influenciado pelo pai, que é advogado e professor, a seguir carreira na área.

Juntos, a dupla começou a realizar pequenos testes ainda em 2021, muito antes do ChatGPT chegar ao mercado. O objetivo era otimizar o fluxo de despachos onde Espíndula trabalhava.

Após conseguir os primeiros créditos em nuvem da Microsoft para o projeto, Bichuetti chamou Espíndula para se juntar diretamente à iniciativa. A parceria se solidificou porque o mineiro precisava constantemente consultar o goiano sobre aspectos jurídicos e dados de treinamento.

Qual o diferencial?

Fundada em 2023, a Forlex tem como proposta ser uma IA especializada no Direito brasileiro, com treinamento feito a partir de fontes como jurisprudências, legislações e referências acadêmicas nacionais. Com modelo de linguagem próprio, a margem de erro da Livia gira entre 8% e 9% em análises jurídicas, patamar próximo ao de profissionais sênior, segundo a empresa.

"Ao contrário de sistemas genéricos [como ChatGPT e Gemini], a nossa IA foi projetada desde o início com o Direito como foco exclusivo. Isso garante segurança normativa e assertividade nas respostas", explica Daniel Bichuetti, cofundador e CTO da Forlex.

O projeto começou com foco em pesquisa e desenvolvimento, mas foi escalado com apoio da Vinci Ventures, que investiu R$ 3,6 milhões na rodada seed. Mais de 60% do faturamento atual é reinvestido em tecnologia, e a Forlex foi a primeira startup da América Latina a utilizar os chips Nvidia Blackwell, de IA generativa, com suporte da AWS, braço de nuvem da Amazon.

Como parte do acordo, a Forlex também é responsável por treinar as equipes da OAB nos estados, com suporte técnico e presença nas salas da Ordem instaladas nos fóruns e tribunais do país. A ideia é que a disseminação da ferramenta seja assistida, com apoio à inclusão digital.

O que vem por aí?

A expectativa de R$ 648 milhões anuais em receita considera o potencial de adesão de advogados aos planos pagos da ferramenta. A projeção leva em conta uma taxa de conversão gradual do plano gratuito para modalidades premium, que oferecem recursos adicionais.

O plano da Forlex é usar o Brasil como base para o lançamento do modelo de linguagem e adaptá-lo para outros países. Para isso, contará com o apoio da AWS, que tem data centers em regiões-chave como Estados Unidos e Europa. “Nossa intenção é de um dia ter um superapp”, afirma Bichuetti.

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