Forever 21: redes disputam de forma agressiva um mercado que neste ano deve movimentar R$ 138 bilhões no país, segundo dados do Ibope Inteligência (Julia Carvalho/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2014 às 08h38.
São Paulo - Apesar da chegada triunfante, a vida da americana Forever 21 não deve ser fácil no Brasil. O mercado nacional já tem lojas consagradas no segmento fast-fashion, como C&A, Renner, Marisa e Riachuelo, além da Zara, que é ícone mundial deste modelo de varejo, e das multinacionais recém-chegadas como Gap e Topshop.
Essas redes disputam de forma agressiva um mercado que neste ano deve movimentar R$ 138 bilhões no país, segundo dados do Ibope Inteligência sobre consumo de vestuário.
Para se destacar no complexo mercado brasileiro, o sócio da consultoria DataPopular, Renato Meirelles, ressalta que a empresa terá de correr para ganhar escala e agilidade. Não dá para ressuscitar roupas vendidas em outro hemisfério na estação anterior, diz ele.
Kristen Strickler, a porta-voz da Forever 21, garante que isso não vai acontecer, apesar de a empresa não ter interesse de produzir coleções exclusivas para o mercado brasileiro. A moda é global, diz a executiva de 27 anos.
Além das peças descoladas, presentes em todas as vitrines da Forever 21 pelo mundo, a marca se destaca pelos preços baixos. Essa estratégia, na avaliação dos analistas de varejo do banco Itaú BBA pode ser potencialmente negativa para as varejistas brasileiras no médio e longo prazo. Um relatório do banco fez algumas comparações: na Forever 21, uma regata custa R$ 8,90. Na Marisa e na Renner, peça similar sai por R$ 13,90 e R$ 19,90, respectivamente.
Ainda assim, os preços de alguns produtos por aqui são um pouco superiores aos dos Estados Unidos. A designer carioca e blogueira de moda Renata Freire visitou a loja do Rio e comparou a etiqueta com o valor de venda do site americano da Forever 21.
Ela pagou R$ 92,90 pela mesma saia que estava em promoção no e-commerce da marca por US$ 16,99. Acabei gastando em torno de R$ 30 a mais do que eu gastaria se tivesse comprado lá fora, escreveu a blogueira.
Custo Brasil
O estranhamento em relação aos valores cobrados pela Forever 21 passa pelo tão falado custo Brasil, que obrigou marcas recém-chegadas, como Gap e TopShop, e a veterana Zara, a adotarem preços mais altos no mercado brasileiro.
Para executivos do setor, os valores cobrados pela Forever 21 não passam de uma estratégia para estrear com barulho no país. O dia a dia vai chegar e a realidade brasileira vai cair sobre ela como já caiu sobre todo mundo que opera aqui, diz o diretor da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Jose Luiz Cunha.
Com um imposto de importação de 35% e outras taxas, ele diz que é impossível, matematicamente, manter uma margem de lucro saudável.
Marisa e Renner não comentaram o assunto. A C&A afirmou, em nota, que a chegada de novas marcas torna o mercado mais competitivo e diz que não comenta a política de preços das concorrentes. Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, defende que na, média, os valores cobrados pelas rivais brasileiras continuam sendo menores. O que eles fizeram foi trabalhar muito bem algumas peças promocionais.
Trabalho escravo
Os preços baixos da Forever 21 só são obtidos porque a empresa trabalha com uma estrutura muito enxuta, explica o fundador e presidente da companhia, Do Won Chang, de 59 anos, sempre que é questionado sobre o assunto.
Ele comanda a varejista ao lado da mulher Jin Sooke e das filhas Linda e Esther, que cuidam do marketing e do design das lojas. A família, assim como os executivos, só viajam na classe econômica.
A empresa não trabalha com fábricas próprias, o que é comum neste segmento. Essa prática já colocou algumas varejistas no alvo de investigações sobre trabalho degradante, em que os funcionários são mantidos em situação irregular, sem condições mínimas de segurança e higiene.
Em 2012, o Ministério do Trabalho dos Estados Unidos disse ter encontrado oficinas de fornecedores da Forever 21 em condições de trabalho análogo à escravidão em Los Angeles, onde está localizada a sede da companhia.
Para a imprensa internacional, a companhia garantiu que os problemas, levantados em 2012, já foram solucionados.
Segundo a revista Forbes, a empresa também já foi processada mais de 50 vezes por violar direitos autorais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.