Cena do filme na emblemática pista de Le Mans, na França (Twentieth Century Fox/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 24 de novembro de 2019 às 09h00.
Última atualização em 24 de novembro de 2019 às 10h00.
Pelos olhos do lendário engenheiro automobilístico Carroll Shelby (Matt Damon), que idealizou os carros mais potentes do mundo - Shelby Cobra, Shelby Daytona e Mustang Shelby - , o filme Ford vs Ferrari conta a história do destemido piloto Ken Miles (Christian Bale) na década de 1960. A narrativa tem 50 anos, mas o pano de fundo é o mesmo de hoje em dia: o desafio da montadora americana Ford de manter a liderança e o pioneirismo diante das sucessivas transformações da indústria automotiva.
De acordo com a trama, que em seu fim de semana de estreia arrecadou mais de 31 milhões de dólares nas bilheterias norte-americanas, a Ford Motors, que passava uma imagem pouco sexy, decide entrar, no início da década de 1960, no mundo das disputas automobilísticas. O circuito eleito foi o das 24 horas de Le Mans, na França, cujo líder absoluto da época era a italiana Ferrari.
O projeto surgiu de um executivo de marketing após ultimato de Henry Ford II, filho do fundador da marca e CEO do grupo. “Tragam-me uma ideia boa para alavancar a empresa ou nem apareçam para trabalhar amanhã”, teria dito aos funcionários da linha de produção em Detroit, Michigan.
Shelby já havia vencido a exaustiva e emblemática prova francesa pela Aston Martin e foi contratado para conceber o carro que poderia levar a Ford à vitória.
No desenrolar da trama, fica claro que os desafios do setor não se restringiam à Ford. À época, a Ferrari estava à beira da falência e a montadora norte-americana chegou a negociar sua compra. Enzo Ferrari teria se sentido ultrajado pela oferta - que previa controle por parte da Ford - e acabou aceitando a proposta de Giovanni Agnelli, fundador e chefe da Fiat.
A história parece atual? Em maio deste ano, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) apresentou proposta de fusão com a Renault, que causou enorme resistência por parte de sindicatos e do governo francês, que detém 15% da montadora. A negociação não foi para frente e agora a FCA conversa com o grupo francês PSA Peugeot-Citroën para uma fusão.
Este é apenas um dos movimentos das montadoras para sobreviver em um cenário de revolução da indústria automotiva. As empresas buscam formas de viabilizar o veículo do futuro: elétrico, autônomo e altamente conectado. E extremamente caro de se produzir em larga escala.
No ano passado, a BMW anunciou parceria com sua principal concorrente, a Mercedes-Benz, para desenvolver carros autônomos. A Renault e a Nissan têm uma aliança, há 20 anos, para escalar a produção e compartilhar know-how de veículos elétricos. Ambas são referências com os modelos Zoe, da marca francesa, e Leaf, da montadora japonesa.
A Ford também tem se movimentado para não ficar para trás. Recentemente, a companhia anunciou o encerramento das atividades da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que produzia majoritariamente caminhões. Segundo a companhia, a medida faz parte da estratégia global do grupo de sair do negócio de veículos pesados e concentrar esforços em seu core business, o de veículos leves.
Enquanto isso, a montadora traça novas estratégias para o futuro. A mais recente delas envolve uma possível aliança com a Volkswagen para o desenvolvimento de picapes de forma conjunta, o que ainda não foi concretizado.
Ainda nesta semana, a Ford anunciou o lançamento do Mustang elétrico. Embora seja um SUV, o Mach-E tem o nome do icônico esportivo para atrair o consumidor que hoje tem opções mais sedimentadas no segmento como o Model 3, da Tesla.
Do nascimento do Mustang GT40, concebido por Shelby e Miles para as pistas de Le Mans, até hoje, inúmeras transformações ocorreram na indústria automotiva. Outras tantas estão por vir e ninguém parece ter - ao menos neste momento - a fórmula do sucesso. Uma certeza: o público adora acompanhar as disputas do setor, dentro e fora das pistas.