Ford: desde o anúncio da saída da empresa do País em 11 de janeiro todos os empregados estão com seus contratos ativos, sem alteração em salários e benefícios (Carla Carniel/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 10h12.
Desde que a Ford anunciou em janeiro que deixaria o País, os trabalhadores da montadora enfrentam um período de indefinições de como será feita a dispensa dos funcionários, qual será a indenização e quantos devem retornar ao trabalho para produção de autopeças de reposição dos veículos em circulação.
Segundo Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA), onde fica uma das unidades da Ford, a montadora está convocando todos os trabalhadores da fábrica para retornarem à atividade e produzirem peças de reposição. Na última mediação que houve no Tribunal de Justiça do Trabalho, a previsão da companhia, no entanto, era de que necessitaria de apenas 400 trabalhadores para produção de autopeças.
"A empresa está convocando todos os trabalhadores, aqueles que estão lesionados e afastados e até que já foram demitidos", diz o presidente do sindicato. Na sua avaliação, o telegrama enviado ao trabalhador informa que se ele não retornar à atividade serão tomadas medidas. "O sindicato sempre cumpre as ordens judiciais: se é para retornar, vamos retornar. Mas não aceitamos que a empresa imponha assédio moral."
Procurada, a Ford informa, por meio de nota, que negocia com os sindicatos de Camaçari e Taubaté (SP). Desde o anúncio da saída da empresa do País em 11 de janeiro todos os empregados estão com seus contratos ativos, sem alteração em salários e benefícios, diz a companhia.
Ontem, o sindicato reuniu 3 mil trabalhadores do polo de Camaçari na porta da Ford para esclarecer o que ocorre em relação a essa convocação. Ficou decidido que na próxima quinta-feira, em audiência no Tribunal da Justiça do Trabalho da 5ª Região, será encaminhada a demanda para sejam fixados critérios de quantos trabalhadores terão de retornar à atividade e de uma forma mais organizada. "Queremos que haja controle desses trabalhadores, até para que não fiquem sem fazer nada."
Segundo Bonfim, o critério de retorno ao trabalho é uma das prerrogativas para que as negociações com a montadora sigam em andamento. Hoje sindicato e montadora negociam como será a indenização e a reparação dos demitidos. "Enquanto tiver negociação, não pode ter demissão nem assédio moral."
A decisão da Ford de encerrar a produção no País terá impacto de US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, divulgou a montadora em janeiro. Do total, cerca de US$ 2,5 bilhões terão impacto direto no caixa do grupo americano, sendo, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos. São 5 mil funcionários afetados diretamente. Apenas a unidade em Horizonte (CE), que produz a Troller, continuará operando até o quarto trimestre.
A montadora já tinha encerrado em 2019 a produção de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, cujo galpão foi comprado pela Construtora São José e será transformado em um centro logístico.