O relatório do IPCC aponta que há 40% de chance de o planeta atingir o ponto de inflexão na temperatura nos próximos cinco anos (Mark Garlick/Science Photo Library/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 9 de agosto de 2021 às 06h00.
Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 13h37.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização ligada à ONU que estuda os efeitos da interferência humana no aquecimento global, divulgou nesta segunda-feira o seu mais recente relatório. Os dados mostram que as temperaturas estão subindo mais rápido do que se pensava, aproximando o planeta do chamado ponto inflexão.
Entre outros destaques, o relatório trouxe um dado alarmante: os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta.
"Trata-se da advertência mais séria já feita" sobre o aquecimento global, afirmou o presidente da COP26, Alok Sharma, ao antecipar ao jornal The Guardian o tom da nova versão do documento que, até então, não havia quantificado a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura na Terra
Para Alok Sharma, presidente da COP26, conferência do clima da ONU que acontece em novembro, na Escócia, será a “advertência mais séria já feita” sobre mudanças climáticas. “Ainda temos tempo, mas não podemos esperar dois anos”, afirmou o ministro britânico, em entrevista ao jornal The Observer.
O IPPC apontou uma chance de 40% de o aumento da temperatura global na era industrial atingir 1,5oC em algum dos próximos cinco anos. Se isso acontecer, terá se quebrado uma barreira muito arriscada.
No Acordo de Paris, ficou estabelecido que os signatários (praticamente todos os países do mundo, inclusive o Brasil) se comprometem a manter o aquecimento global em 2oC até a metade do século e a buscar esforços para limitá-lo a 1,5oC. Esse marco é importante pois, a partir dessa temperatura, as chances de haver uma mudança permanente nos ecossistemas aumenta perigosamente, ou seja, esse é o tão temido ponto de inflexão.
Apesar dos dados alarmantes, o relatório também irá mostrar que há tempo para evitar a tragédia. A ciência mostra que, para isso, é preciso atingir a neutralidade em carbono o mais rapidamente possível, e no máximo até 2050.
A grande aposta da humanidade, neste momento, está na COP26. A expectativa é que a conferência destrave alguns pontos importantes do Acordo de Paris, em especial a criação de um mercado global de carbono, o que depende da regulamentação do seu artigo 6.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tem dado a entender que não poupará esforças para que a COP26 seja um sucesso, tão ou mais relevante do que a de Paris, em 2012. E Sharma é a pessoa encarregada da missão.
Na semana passada, ele esteve no Brasil para se encontrar com empresários, cientistas e membros do governo. O presidente Jair Bolsonaro chegou a marcar com o enviado duas vezes, porém, não o recebeu.
Mesmo assim, Sharma destacou o compromisso feito pelo Brasil de alcançar a neutralidade em carbono até 2050 e disse esperar obter mais informações a partir dos encontros com o governo – ele foi recebido pelos ministros do Meio Ambiente e da Agricultura e por emissários do ministério da Economia.
As tratativas estão mais avançadas, no entanto, com os governos municipais e estaduais. Durante sua visita, foram celebradas as adesões de diversos estados brasileiros à Race to Zero, inciativa que busca angariar compromissos de neutralidade em carbono.
Sharma também recebeu uma carta do Empresas pelo Clima, grupo organizado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), demonstrando o comprometimento do setor privado brasileiro com a redução das emissões.
O grupo reúne os CEOs de mais de 80 grandes companhias, que representam 45% do PIB brasileiro. Sharma ficou empolgado. “Vocês são meus heróis do clima”, afirmou o presidente da COP26.
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