Eder Maffissoni, da Prati-Donaduzzi: temos olhado para aquisições que complementem a nossa estratégia (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de junho de 2023 às 07h34.
Última atualização em 20 de junho de 2023 às 17h38.
Uma sensação incomodou Eder Maffissoni por um bom tempo: a Prati-Donaduzzi, empresa em que trabalha desde 2002 era vista como ‘aquela pequena farmacêutica do Paraná”. Nesta terça, 20, ele anuncia investimentos de R$ 1,2 bilhão para potencializar um novo ciclo de crescimento mirando um faturamento anual de R$ 4 bilhões em 2027.
Presidente da farmacêutica desde 2016, Maffissoni fará o comunicado durante a inauguração de uma nova fábrica da companhia em seu complexo industrial em Toledo, cidade paranaense a mais de 500 quilômetros da capital Curitiba.
O projeto faz parte de um conjunto de investimentos de R$ 650 milhões divulgados em 2020 e consumiu em torno de R$ 300 milhões – a outra parte foi usada na construção de um centro de distribuição, modernização das outras plantas e pesquisa e desenvolvimento.
A unidade permitirá que a Prati aumente a sua capacidade produtiva em torno de 25%, chegando a 17 bilhões de doses terapêuticas, nomenclatura que a indústria usa para se referir a comprimidos, posologia de xarope etc. O acréscimo de 3,6 bilhões de doses garantirá à empresa o título de maior fabricante de comprimidos da América Latina, de acordo com dados da consultoria americana IQVIA.
Para além da conquista, a planta representa para a Prati um passo para reforçar a sua participação de mercado. Em genérico, a sua principal linha de produção, a empresa é a maior no país em volume de fabricação com 10,93 bilhões de doses por ano, segundo a IQVIA.
E ainda amplia as possibilidades para a fabricação de medicamentos de referência (não-genéricos), área para a qual o laboratório começou a olhar com mais atenção em 2020. “A estratégia é termos produtos para o sistema nervoso central e cuidando das doenças complexas do sistema nervoso central, como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, autismo e depressão”, afirma Maffisoni. Hoje, o negócio representa 10% de um faturamento que ficou em 2,1 bilhões de reais em 2022.
Essas movimentações refletem como a Prati, uma empresa prestes a completar 30 anos, vem se transformando ao longo do tempo tanto para acompanhar quanto para ganhar relevância na indústria farmacêutica.
A fabricante teve como embrião um laboratório de infusão de chás que o casal de farmacêuticos paranaense Luiz e Carmen Donaduzzi criou no Nordeste no começo dos anos 1990. Os dois tinham acabado de retornar da França onde fizeram mestrado e doutorado e não encontravam espaço nem as condições para aplicar o conhecimento.
Frustrado com a experiência no Instituto de Tecnologia de Pernambuco para o qual foi convidado para ser diretor, Luiz pediu demissão e, ao lado de Carmen, começou a produzir chás que eram vendidos em pequenas farmácias de bairro e do interior do Nordeste.
Pouco tempo depois, surgiu uma oportunidade no estado natal, o governo paranaense tinha criado uma linha de crédito que emprestava até 50.000 dólares a quem tivesse um projeto para abrir uma indústria, conforme contou à EXAME em 2012.
Ao lado de Arno Donaduzzi e de Celso Prati, fundaram a farmacêutica em 1993. Como proposta, investir em medicamentos que já tinham perdido a patente a exemplo de alguns analgésicos e vermífugos. O caminho foi consolidado com a entrada em vigor da lei dos genéricos, em 1999.
A empresa cresceu no mercado público, oferecendo remédios para governos nas esferas federal, estadual e municipal. Em 2010, a Prati fez a guinada para fortalecer as vendas ao consumidor final – representavam apenas 15% do faturamento até então. O movimento deu certo, hoje 66% da receita é originada em mais de 60 mil farmácias que são clientes do laboratório pelo país.
O êxito na trajetória da estratégia da Prati ao longo dos anos, acreditam os donos, tem no modelo bastante verticalizado da operação uma das bases. Já em 2005, a farmacêutica criou uma transportadora e uma empresa de embalagem, que hoje oferece os seus serviços até para concorrentes.
E, em 2011, com a estratégia de venda para as farmácias, veio a própria rede de distribuição - no universo dos medicamentos, uma mesma empresa de distribuição trabalha com diversos laboratórios.
“Por que uma distribuidora venderia o meu produto se era o mais desconhecido de todos?”, questiona o executivo. “Naquele momento, eu precisava fortalecer a minha imagem e estar mais próximo possível com a minha própria distribuição exclusiva para eu não concorrer com ninguém. Foi uma das estratégias para crescer no varejo”.
Ao longo dos anos, a Prati criou ainda:
O valor de 1,2 bilhão será empregado para manter o ritmo de crescimento. Isto é, continuar dobrando de tamanho em faturamento a cada cinco anos.
Na divisão dos recursos, a Prati vai reservar metade para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Os 600 milhões restantes serão distribuídos em dois tipos de iniciativas. Uma parte vai para reforçar a operação, como a modernização do parque fabril e a ampliação da malha de distribuição e da unidade de nutracêuticos.
A outra será destinada ao desenvolvimento de novos negócios, como a criação de uma unidade de injetáveis - medicamentos aplicados por seringas - divisão em que o laboratório ainda não atua. A previsão é de que a planta esteja funcionando entre o fim de 2026 e o começo de 2027. O executivo não revelou que tipo de medicamento a Prati produzir.
Na mesma linha de explorar novas fronteiras, entra o projeto de internacionalização, começando pelos Estados Unidos e com a unidade de nutracêuticos. A Prati já exporta para lá, como private label, mas entra agora com a própria marca.
É o primeiro passo de um objetivo maior: exportar todo tipo de medicamento que tem no portfólio. Atualmente, está em fase de certificação das suas unidades fabris junto aos órgãos reguladores de lá para avançar. Segundo o presidente da empresa, os produtos já estão em linha com os critérios internacionais e todas as plantas são desenvolvidas para atender às exigências dos órgãos de vigilância dos Estados unidos e da Europa, um outro mercado potencial.
Um elemento adicional da estratégia da empresa é a abertura da fazer aquisições, algo inédito nestes 30 anos. Até aqui, o crescimento da companhia tem sido construído dentro de casa. Toda vez que percebe uma necessidade, a Prati levanta paredes, compra equipamentos, contrata equipe, desenvolve tecnologia e produz internamente. Mas essa história está para começar a mudar.
O conselho de administração acabou de aprovar a ida a mercado para encontrar oportunidades em concorrentes que tenham sinergia em portfólio, área de atuação e até represente uma abertura para acelerar a entrada em território estrangeiro.
“Só desenvolvendo produtos e explorando o território local talvez nós tenhamos alguma dificuldade em algum momento. Então, a gente tem trabalhado agora para olhar para aquisições que complementem a nossa estratégia para que consigamos atingir os nossos objetivos”, afirma Maffissoni.