Chips: a crise é um teste histórico para uma indústria automobilística centenária, que tenta acelerar a transição para veículos elétricos mais inteligentes (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Bloomberg
Publicado em 7 de maio de 2021 às 12h05.
Última atualização em 7 de maio de 2021 às 12h06.
Por Gabrielle Coppola, Tara Patel e Debby Wu
Quando montadoras foram atingidas pela primeira vez pela falta de chips no final do ano passado, tentaram paralisar fábricas até que os problemas fossem resolvidos. Mas com a crise no quinto mês e cada vez pior, fabricantes de automóveis recorrem à criatividade para manter pelo menos parte da produção.
A Nissan decidiu retirar sistemas de navegação de milhares de veículos que normalmente seriam produzidos com o recurso por causa da escassez de semicondutores. A Ram não oferece mais suas picapes 1500 com um espelho retrovisor “inteligente” padrão que monitora os pontos cegos. E a Renault já não instala uma tela digital de grandes dimensões atrás do volante de seu SUV Arkana, também para economizar chips.
A crise é um teste histórico para uma indústria automobilística centenária, que tenta acelerar a transição para veículos elétricos mais inteligentes. Por décadas, as montadoras mudaram constantemente para incluir mais recursos avançados; agora, estão retirando alguns deles - pelo menos temporariamente - para garantir as vendas.
Essa reversão destaca a gravidade dos problemas enfrentados pelo setor. Na semana passada, BMW, Honda e Ford sinalizaram mais problemas causados pela escassez de chips. A dificuldade em garantir suprimentos essenciais é um grande revés de curto prazo - milhões em vendas de veículos serão perdidos este ano - e um mau presságio para o futuro, à medida que a concorrência de empresas de Internet e produtos eletrônicos de consumo se intensifica.
“Isso provavelmente vai piorar antes de melhorar”, disse Stacy Rasgon, que cobre a indústria de semicondutores para o Sanford C. Bernstein. “Leva muito tempo para colocar essa capacidade online.”
O CEO da NXP Semiconductor, Kurt Sievers, disse que a transição para veículos elétricos está acontecendo mais rápido do que o previsto, o que contribuiu para o aumento da demanda por chips automotivos. A NXP planeja despachar pelo menos 20% mais chips de automóveis em receita no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2019, embora a produção de veículos tenha caído cerca de 10% no período, disse.
Mark Liu, presidente do conselho da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., alertou que a crise está longe de acabar. Sua empresa, que fabrica os chips mais avançados do mundo e será fundamental para qualquer resolução, começará a atender aos requisitos mínimos dos clientes automotivos até junho, mas acredita que a falta chips possa durar até o início de 2022, disse em entrevista à CBS.
As montadoras não podem esperar. Uma reação à falta de chips é alocar os escassos componentes para veículos mais lucrativos e mais vendidos em detrimento de outros modelos, algo que fabricantes como a francesa Renault e a japonesa Nissan estão fazendo.
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