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Existe apagão de hotéis no Brasil? O setor diz que não

Problemas de superlotação são pontuais, segundo hoteleiros e consultores

Avenida Berrini, em São Paulo: região é uma das mais procuradas para hospedagem (Flickr)

Avenida Berrini, em São Paulo: região é uma das mais procuradas para hospedagem (Flickr)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 28 de abril de 2011 às 16h02.

São Paulo – Há pouco mais de duas semanas, a banda U2 passou por São Paulo e reuniu  cerca de 90.000 pessoas, em três dias de shows. Na mesma época, ocorreram outros eventos, como feiras e convenções, que atraíram pelo menos mais 30.000 pessoas à capital paulista. O excesso de gente não fez apenas com que o trânsito da cidade ficasse ainda mais caótico, mas também atingiu as redes de hotéis, que registraram taxas de ocupação de quase 100% no período. Resultado: turistas sem opção de hospedagem.

Apesar da evidência, hoteleiros e consultores ouvidos por EXAME.com afirmam que o Brasil está longe de viver um apagão no setor hoteleiro. Para a maioria deles, os problemas enfrentados, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, são pontuais e não refletem uma crise na hotelaria brasileira. “Falar em apagão é exagero”, afirma Ricardo Mader, diretor da consultoria Jones Lang LaSalle Hotels, no Brasil.

O preço cada vez mais salgado das diárias, principalmente nas capitais paulista e fluminense, seria outro indício que aponta que a demanda no setor hoteleiro estaria maior do que a oferta. De acordo com pesquisa realizada pelo setor, no ano passado, São Paulo foi a cidade que mais elevou os preços de suas diárias: 40% na comparação com 2009. Já o Rio de Janeiro elevou o preço de suas diárias em quase 30%.

Descentralização

Segundo Enrico Ferni, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Nacional (Abih), o problema que São Paulo enfrenta no setor hoteleiro é outro. “As pessoas querem ficar hospedadas em regiões como Avenida Paulista, Jardins, Faria Lima ou Berrini. Mas, em áreas mais afastadas, há sempre quartos disponíveis”, afirma Ferni.

A questão é que mais de 80% das hospedagens em São Paulo são destinadas para o turismo de negócios. Ou seja, voltado para executivos que vêm à cidade para trabalhar ou fechar algum contrato. Sendo assim, a maioria prefere ficar nas regiões mais centrais, próximos aos escritórios e centros financeiros em que atuam ou onde estão seus parceiros.


Nessas áreas mais “nobres”, no entanto, a falta de espaço e o preço supervalorizado dos terrenos dificultam a expansão das redes de hotéis. “A verdade é que não existem interessados em investir no setor hoteleiro em São Paulo. Enquanto, em qualquer outra região do país, se gasta 10 milhões de reais para levantar um hotel, em São Paulo, o valor é praticamente o dobro”, diz José Ernesto Marino, especialista do setor hoteleiro.

Hoje, não existe sequer um projeto em andamento para a construção de um hotel em São Paulo. E não seria nem necessário, segundo Marino. “São Paulo não precisa de um único quarto de hotel”, diz. A capital paulista conta com cerca de 60.000 quartos de hotéis. Desses, no entanto, pouco mais de 40.000 são “recomendados” pelos especialistas.

O planejamento da reserva, de acordo com Heber Guarrido, diretor do Transamérica Hospitality Group, é o que garante que um hóspede garanta uma boa estadia na cidade. “É recomendável que a reserva seja feita com, pelo menos, um mês de antecedência, para o cliente não correr nenhum risco de não encontrar vagas”, disse.

Sem bondade

Nem todos, contudo, concordam com a avaliação de que São Paulo não precisa de mais hotéis. Segundo Paulo Takito, diretor da Urban Systems, consultoria especializada em avaliar o potencial da construção de um empreendimento, a cidade já vive um apagão da hotelaria e algumas medidas precisam ser tomadas para que o problema não seja agravado. “Não adianta exigir que o empresário seja bonzinho e construa hotéis na cidade. A mudança precisa vir do governo, com incentivos que façam valer a pena o investimento no setor”, disse Takito.

Segundo ele, apesar de todas as preocupações estarem voltadas para a Copa do Mundo, em 2014,  o problema precisa ser resolvido já. A cidade é uma das favoritas para receber a abertura da Copa e, com isso, deve atrair muitos turistas. “Para Copa, a posição é mais confortável, uma vez que, nesta época, haverá baixa procura do turismo de negócios, o que mais movimenta o setor na cidade”, afirmou o Takito.


É generalizada, no setor, a opinião de que acomodar os turistas da Copa não é um problema para São Paulo. O raciocínio é o seguinte: cerca de 80% do movimento dos hotéis, na cidade, vem do turismo de negócios. Durante os jogos, esse público deve praticamente desaparecer. Isso abriria espaço para alocar quem viesse para assistir aos jogos. A Fifa exige que o estádio que receberá a abertura tenha capacidade para, pelo menos, 65.000 pessoas. Descontando quem já é da cidade e quem tem lugar para se hospedar aqui, como casas de amigos e parentes, o setor afirma que dá para comportar todo mundo nos hotéis.

Expansão

“São Paulo vive uma situação diferente da do Rio de Janeiro, que terá que dobrar de tamanho até 2016”, diz Takito. O Rio de Janeiro, no entanto, já começou sua corrida contra o tempo e grandes investimentos vêm sendo feitos para o setor crescer. De acordo com Erinco Ferni, da Abih, existem já 3.000 quartos sendo construídos na cidade e outros 7.000 em processo de aprovação.
 
A rede Transamérica é uma das que pretendem investir na cidade nos próximos anos. Com apenas um hotel instalado no Rio de Janeiro, a empresa possui uma área de 300.000 metros quadrados para a construção de um complexo hoteleiro localizado na Barra da Tijuca, bairro distante das regiões mais procuradas pelos turistas, como Leblon, Ipanema e Copacabana.

Para o segmento de hotelaria crescer no Rio, a solução encontrada pelas redes, uma vez que a zona sul carioca já não comporta mais a construção de nenhum empreendimento, foi apostar em novas regiões. “O mesmo terá que acontecer com São Paulo. As zonas Leste e Norte têm grande potencial, assim como cidades próximas, como Guarulhos, Alphaville, litoral e o ABC”, diz Ferni. Resta saber se os turistas aceitariam se hospedar longe dos principais pontos turísticos e de negócios da cidade – algo que, como se sabe, os próprios hotéis não se cansam de vender como um diferencial.
 

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