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Ex-piloto e herdeiro de um banco, ele criou um império de R$ 3,2 bilhões com venda de veículos

Bisneto do fundador do antigo Banco da Lavoura, Clemente de Faria Júnior comanda a Bamaq, rede de concessionárias de veículos pesados e de luxo presente em 17 Estados

 (Bamaq/Divulgação)

(Bamaq/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 28 de março de 2024 às 08h01.

Última atualização em 28 de março de 2024 às 11h01.

Não dá para dizer que os veículos não estão no eixo da vida da família mineira Faria há pelo menos bons 50 anos. Do mesmo grupo familiar fundador do Banco da Lavoura, uma das maiores instituições financeiras do século passado, a paixão por corrida e mobilidade nasceu do executivo Clemente de Faria, neto de um dos fundadores da instituição financeira, e passou para o filho, Clemente de Faria Júnior, que chegou a ser piloto de corrida profissional, vencedor da Fórmula 3 Sul-Americana em 2007.

Hoje, Clemente Júnior é CEO da Bamaq, empresa fundada pelo pai e uma das principais concessionárias de veículos pesados e automóveis de luxo do país, com sede em Contagem, Minas Gerais. O grupo, que também tem um braço financeiro para crédito, faturou 3,2 bilhões de reais em 2023. 

Nos últimos anos, aliás, a receita vem crescendo exponencialmente. Em 2018, a receita foi de 590 milhões de reais. Para o ano recorrente, o faturamento deve ficar na casa dos 4 bilhões de reais. 

O aumento no faturamento está atrelado à expansão das operações para 18 estados e pela diversificação das linhas de produtos e serviços, consolidando a posição da empresa no mercado de máquinas pesadas New Holland e marcando presença significativa no segmento de automóveis de luxo com marcas como Mercedes-Benz, Porsche e GWM.

“A partir de 2020, focamos muito em duas frentes: uma estratégica, para planejar melhor nossos passos e fortalecer nossa governança, e outra prática, de tirar nossa estratégia do papel”, diz Faria Júnior. “Queremos ser o melhor naquilo que fazemos”. 

Qual a história da Bamaq e da família Faria

A trajetória da Bamaq se entrelaça com a história financeira do Brasil, remontando às raízes do Banco da Lavoura, de 1925. 

"Nossa história da família empresária se inicia na fundação do Banco da Lavoura, fundado pelo meu bisavô", diz  o CEO do grupo. 

Inicialmente concebido como uma cooperativa de crédito, o Banco da Lavoura evoluiu para se tornar um dos maiores bancos da América Latina, com operações em diversos países pelo mundo, marcando o início do legado empresarial da família.

Com a morte do patriarca fundador do banco, e depois com a divisão do banco em 1970, a família deu um novo rumo aos seus empreendimentos. 

"Meu pai começou a trabalhar muito cedo no banco e, querendo ter independência, começou a trabalhar com distribuição de automóveis e máquinas", diz Clemente. 

Essa mudança de foco levou à criação da Bamaq em 1974, inicialmente em Contagem. Na década de 1990, entraram também no setor de distribuidores automóveis e com o braço financeiro, com administradora de consórcios e de seguros. 

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Mas foi no início dos anos 2000 que a empresa apostou numa expansão mais agressiva, chegando a novos Estados, como Bahia, Ceará e Piauí

No início dos anos 2010, uma tragédia mudou também a estrutura de governança da companhia. A queda de um avião no mar em 2012 vitimou o pai de Faria Júnior, que precisou assumir as responsabilidades da empresa ao mesmo tempo em que lidava com o luto. O cargo de CEO chegou em 2020. Antes disso, enfrentou também uma forte crise no setor de maquinário agrícola em 2017.

“Foi quando percebemos que precisávamos profissionalizar ainda mais o negócio, ter uma estratégia clara, prevendo riscos, para sairmos de crises”. 

Hoje, a empresa está em 17 estados com o negócio de máquinas e construção da New Holland. Nos anos 2010, o foco foi também expandir o braço de concessionária de carros de luxo. 

Qual a estrutura da Bamaq hoje

Hoje, a empresa está fundada em três braços distintos:

  • Pesados (máquinas e caminhões da New Holland)
  • Automotivos (com as marcas Porsche, Mercedes, GWM e seminovos)
  • Financeiros (financiamento, seguros e consórcios)

No entendimento de Faria Júnior, a expansão da Bamaq não se limita à geografia, mas se estende por meio de suas unidades de negócios, buscando inovação e liderança em cada segmento.

"De 2018 para frente, expandimos para o negócio Porsche, fomos nomeados para Porsche para Minas Gerais. Depois, caminhões da Iveco no Norte do país”, afirma. “E entramos na GWM, que comprou a fábrica da Mercedes". 

Nessa estrutura de crescimento acelerado, passaram de 8.000 clientes em 2018 para 75.000 agora em 2023.

No braço financeiro, além dos produtos oferecidos para os clientes das concessionárias, a empresa também atua vendendo consórcios e seguros para parceiras. É o caso da Uber, por exemplo. Por ali, as duas empresas criaram uma parceria que oferece consórcio para motoristas do app com taxas menores. 

Quais os planos futuros da Bamaq

A meta da empresa mineira é faturar 4 bilhões de reais neste ano e investir 700 milhões de reais em expansão até 2025. 

“Entendo que 2024 é um ano em focar na entrega dos projetos, de se organizar para conseguir entregar tudo aquilo que tem que ser feito”, diz Júnior.

O investimento de 700 milhões de reais será, principalmente, para alocação de capital para financiar os clientes, no braço financeiro. É, de certa forma, uma retomada da origem empresarial da família com o Banco da Lavoura no início dos anos 1900. 

“Além disso, vamos investir bastante na linha de máquina e construção, e seguir com expansão geográfica”, diz. “Já que o agronegócio e a mineração estão no DNA do Brasil”. Para 2024, 30 lojas serão abertas ou reformadas, inclusive em novos Estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

No braço de automóveis de luxo, o executivo entende que ainda há uma demanda reprimida no país. “É uma demanda mundial, o mercado de luxo está aquecido pela exclusividade, pela customização, pelo atendimento premium”. 

O mercado brasileiro de luxo movimentou 74 bilhões de reais em 2022 e deve crescer de 6% a 8% ao ano até 2030, quando poderá atingir R$ 133 bilhões de faturamento, segundo um estudo da Bain & Company. 

Estradas de crescimento que deverão seguir nos caminhos da já gigante Bamaq. 

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