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Ex-operador do Goldman quer ser o rei dos táxis na Argentina

Russell Abrams planeja investir até US$ 100 milhões do seu próprio dinheiro para construir uma frota de táxis em Buenos Aires

Russell Abrams no escritório de sua companhia de taxi, a Russell's Car SRL (Diego Levy/Bloomberg)

Russell Abrams no escritório de sua companhia de taxi, a Russell's Car SRL (Diego Levy/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2014 às 17h08.

Buenos Aires - Após 23 anos operando opções de ações no Goldman Sachs Group, no Merrill Lynch e em seu próprio hedge fund, Russell Abrams está aumentando a aposta mais exótica da sua vida: ser empresário de táxis em Buenos Aires.

Abrams, 48, planeja investir até US$ 100 milhões do seu próprio dinheiro para construir uma frota de táxis em Buenos Aires, sem medo das previsões que indicam o segundo calote da Argentina em 13 anos, das consequências adversas da desvalorização do peso em janeiro, de uma inflação de quase 40 por cento e da primeira contração trimestral da economia desde 2012.

Para Abrams, a bagunça financeira da segunda maior economia da América do Sul é uma oportunidade para comprar registros de táxis a preços baratos dos taxistas que precisem de dinheiro, estratagema que, segundo prevê, renderá se as políticas econômicas mudarem quando a presidente Cristina Fernández de Kirchner sair do poder no próximo ano, após dois mandatos consecutivos.

O Barclays e o JPMorgan Chase estão entre os bancos que dizem que a Argentina está encaminhada para consertar sua economia e recuperar o acesso aos mercados de crédito no exterior depois das eleições presidenciais de 2015.

“É um negócio fascinante”, disse Abrams, que visitou Buenos Aires pela primeira vez aos 21 anos e cuja esposa, Sandra, é argentina, do seu escritório na capital.

“Operando opções, lida-se com uma espécie de mundo virtual. Isto é tangível. Você pode ver os carros, conversar com os motoristas. É mais difícil, mas os retornos também são maiores”.

Os preços das licenças mais que dobraram em dólares nos últimos seis anos, para US$ 24.159, e ele prediz que vão mais que triplicar nos próximos cinco anos, até chegarem aos níveis daquelas em Santiago e Montevidéu.

Mil táxis

Abrams comprou 30 licenças de táxis desde 2008 e diz que isso é apenas o começo. Ele planeja comprar mais mil táxis para ter uma frota cinco vezes maior do que a do concorrente mais próximo, sem considerar as regras que limitam seu tamanho a 200.

Os planos de Abrams são ainda mais ambiciosos se forem considerados o contexto econômico do país e sua batalha com os detentores de títulos, nos quais o governo deu o calote em 2001.

O PIB se contraiu inesperadamente 0,2 por cento no primeiro trimestre, ao passo que os preços ao consumidor subiram 15 por cento nos primeiros seis meses do ano, de acordo com os dados do governo. Em janeiro, a Argentina desvalorizou o peso em 19 por cento.

No dia 16 de junho, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou a apelação de uma decisão de um tribunal inferior que ordenava ao país pagar US$ 1,5 bilhão aos detentores de títulos não reestruturados, chamados por Cristina de abutres, ao mesmo tempo em que paga a dívida reestruturada após o calote.

O governo está se recusando a acatar a decisão, dizendo que reclamações idênticas consumiriam seus US$ 29,7 bilhões em reservas, o que levanta o fantasma de um novo calote.

Sem um acordo ou adiamento do conflito com os credores, o país dará o calote no dia 30 de julho.

Paixão

A incursão de Abrams na Argentina começou quando ele viajou ao país há 27 anos e se apaixonou pela cultura festiva e pela arquitetura de Buenos Aires. Ele diz que comprou bens imóveis no país em 2006.

Ele abriu a empresa de táxis dois anos depois e agora a administra com um sócio local.

“O trabalho é bom”, disse Alberto Samaniego, quem trabalha como motorista da empresa de Abrams há mais de um ano. “Não sei se ele é um grande investidor em Nova York. Para mim, ele é um chefe descontraído que garante que os carros estejam em bom estado”.

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